A nomeação de um genro do senador
Eunício Holanda (PMDB-CE) para a diretoria da Agência Nacional de Aviação Civil
(Anac) e o desinteresse que o ministro do Turismo, ex-deputado federal Henrique
Eduardo Alves (PMDB), aparentemente passou a demonstrar quanto à defesa do
aeroporto Aluizio Alves, na Grande Natal, estão sendo apontados em Brasília
como sintomas da escolha do Pinto Martins, em Fortaleza, pela presidanta Dilma
de Faria, para acolher o centro de conexões de vôos que a Latam pretende
implantar numa região metropolitana do Nordeste.
Necessitando de apoio no Congresso, Dilma optou pelo Ceará,.... |
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ROBERTO GUEDES
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Ninguém do Rio Grande do Norte se
surpreenda se a partir desta semana, quando se reunirá com os governadores
daqui, do Ceará e de Pernambuco, a diretoria da Latam começar a desacelerar o
processo de escolha do aeroporto que pretende transformar em centro de conexões
de vôos (HUB, sigla em inglês) do Norte e Nordeste e aos poucos sua tendência,
hoje aparentemente favorável ao Aluizio Alves, em São Gonçalo do Amarante, na grande
Natal, começar a se inclinar para o Pinto Martins, em Fortaleza, graças a
forças políticas que a fazem convergir para o Estado vizinho.
Um dos novos vetores do processo
em benefício do Ceará é a entrada em campo, para valer, da Agência Nacional de
Aviação Civil (Anac), que não se havia pronunciado a respeito. Isto pode estar
afastando do Rio Grande do Norte um investimento direto de 4,8 bilhões de
reais, da mesma forma como esta unidade federativa perdeu a refinaria de
petróleo que virou chafurdo na região metropolitana de Pernambuco.
O que faltava para que esta idéia
começasse a se cristalizar entre natalenses que observam com preocupação o
processo em curso aconteceu há poucos dias, quando Dilma nomeou o alencarino
Ricardo Fenelon Júnior, um jovem de 28 anos, com apenas quatro de bacharelado
em direito, para integrar a diretoria da Anac.
Apontado em Brasília como
inexperiente para o cargo, ele avulta em seu currículo o fato de ser casado há
pouco mais de um mês com uma filha do senador Eunício Oliveira (CE), o líder do
PMDB na câmara alta do país.
Esperar bom tempo
A advertência chega a Natal
pouquíssimos dias antes de a presidente da Tam, engenheira Cláudia Sender,
conversar separadamente com os governadores Robinson Faria, Camilo Santana, do
Ceará, e Paulo Câmara, de Pernambuco, a fim de lhes mostrar a escolha que lhe
teria sido aconselhada por uma empresa de consultoria, a inglesa Oxford
Economics, que andou pesquisando “in loco”, nos três estados, a serviço da
transportadora.
Os informantes garantem que,
longe de reforçar argumentos que favoreceriam o Rio Grande do Norte, Cláudia
Sender deverá mostrar-lhes que passou a ponderar mais o agravamento da crise
econômica que na semana passada forçou a Tam a eliminar muitos vôos.
Sinais de retração, os
indicadores econômicos que vieram a público na semana passada, então, teriam
recomendado à Tam diminuir a velocidade com que vinha desejando aterrissar logo
no HUB nordestino. A própria concorrência internacional reforçaria este
discurso: há poucos dias, a norte-americana United Airlines, que está por trás
dos novos donos da Tap, suspendeu 3,5 mil vôos no mundo. Ligada à brasileira
Azul, ela também estaria, até então, na iminência de escolher um aeroporto
nordestino para ter um centro de conexões de vôos na região, engavetando o
projeto ao perder contato com a torre de comando da economia brasileira.
Cláudia deverá dizer que sua
corporação resolveu esperar que a economia nacional aponte para a volta de bons
tempos para assegurar um mínimo de segurança para quem pretende fazer grandes
investimentos.
Ganhando tempo
Se assim fizer, Cláudia Sender
terá dado aos cearenses, o tempo de que precisariam para reverter o que aos
potiguares parecem ser trunfos do Aluizio Alves. A esta altura, a disputa
mostraria as regiões metropolitanas de Natal e Fortaleza numa gangorra, de
sorte que a subida da capital alencarina corresponde à perda pela potiguar. No
caso, também, em decorrência da notícia incapacidade que a classe política
daqui cultiva de não se unir pelos objetivos comuns à terra.
Fontes de Brasília atribuem a
inclinação de Dilma pelo Ceará ao fato de estar dependendo muito do Senado para
barrar o processo de “impeachment” que parece estar se projetando contra ela a
partir da câmara federal. Detentor de mandato eletivo na casa e principalmente
pela liderança institucional que exerce ali, Eunício assume nesta hora papel de
suma importância.
Não há termos de comparação entre
a força que Eunicio pode exercer sobre Dilma com a que se poderia esperar de um
ministro de Estado que não chegou ao círculo mais próximo à presidência, caso
do ex-deputado federal Henrique Eduardo Alves, presidente do PMDB e desde abril
titular da pasta nacional do Turismo, que até muito recentemente pareceu ser o
principal defensor da atração do empreendimento para o aeroporto potiguar.
Nem se falam
...agradando a Eunício Oliveira, líder do governo no Senado, em... |
Além de não se haver destacado no
apoio ao vice-presidente Michel Temer na condução da articulação política
almejada por Dilma, pesa contra Henrique Eduardo a condição de demissível “ad
nutum”.
Os mesmos informantes dizem, também,
que o enfraquecimento do Rio Grande do Norte decorre, exatamente, de uma
diferença fundamental entre as capacidades que os políticos daqui e do Ceará
alimentam quanto a se unir em torno de objetivos comuns aos seus conterrâneos.
Enquanto Henrique Eduardo e Robinson fazem questão de sugerir que agem em
paralelo em defesa do aeroporto potiguar, sem sequer se falarem, os adversários
internos no Ceará se uniram pelo Pinto Martins.
Grandes investimentos
Decididamente, pela grandiosidade
própria do negócio e por sua capacidade germinativa, esta escolha não deveria
ser um tipo de eleição de vereador em que o Rio Grande do Norte se divide
eternamente. Como tem sido dimensionado, o HUB da Latam tem capacidade para
gerar entre oito mil e doze mil empregos na unidade federativa em que pousar e
ainda pode se transformar em chamariz para outros investimentos na área
aeroportuária.
Pelo menos duas grandes
corporações conectadas internacionalmente tendem a escolher um aeroporto
nordestino para HUB logo após a Latam. São a portuguesa Tap, agora controlada
por um consórcio norte-americano com forte presença de empresário brasileiro, e
a argentina Corporacion América, que comanda 53 aeroportos, inclusive, desde o
início deste ano, os do Rio Grande do Norte e o de Brasília.
Neutralizando Henrique
É aparelhada pelos cearenses e
pela bancada do PMDB no Senado que a Anac chega a esta pista. Pelo que se diz
em Brasília, ela foi transformada em instrumento a favor do Ceará na mesma hora
em que se começou a ouvir na praça dos Três Poderes a suspeita, senão a certeza
de a presidanta Dilma Rousseff havia garantido a políticos do Ceará e do Senado
que neutralizaria qualquer eventual pressão que o Ministro do Turismo exercesse
em favor de São Gonçalo do Amarante.
A nomeação do genro de Eunício
teria recebido o beneplácito do governador Camilo Santana, filiado ao PT, e a
partir daí Fenelon passou a ser escolha pessoal de Dilma. O que aproxima os
partidos cearenses é colocar em cena um ator que pode fazer o jogo pender para
o Ceará. A interveniência da Anac pode ensejar a oferta, explícita ou não, de
apoio do governo federal à Latam em função do processo de privatização do Pinto
Martins.
Assim como a Henrique Eduardo,
esta ofensiva neutralizaria o principal argumento que, depois de conversar com
gregos, troianos e macaibenses, quem estudou os trunfos de cada um dos três
aeroportos em disputa em nome da Latam já apontou como vantagem para o
potiguar. É o único já privatizado entre os três aeroportos em questão.
Comprar o aeroporto
O argumento remete a outro fato
que favoreceria Fortaleza. Teria sido a inesperada inclusão do Pinto Martins
entre os terminais aeroportuários que a União pretende privatizar. Dilma
anunciou este propósito há alguns meses quando lançou o Programa de
Investimento em Logística (PIL), um novo programa de investimentos idealizado
como “revival” do Planco de Aceleração do Crescimento (PAC) que ainda não
mostrou como transforma seu taxiar em decolagem. Nesse lançamento, aliás, Dilma
negou, ao mesmo tempo, qualquer perspectiva de inversões no Rio Grande do
Norte.
....detrimento dos potiguares, que assistem à imobilização do Ministro. |
Ninguém se surpreenda se a Latam
terminar se transformando na compradora do terminal alencarino, para o que os
políticos potiguares também teriam contribuído ao não atrair objetivamente para
sua posição o dono do Aluizio Alves, uma corporação com muito interesse em
fazer decolar grandes projetos a partir do Aluizio Alves. Como se sabe,
Robinson passou recentemente uma semana em Buenos Aires, sede da Corporacion
América, e não a visitou.
Ministro silencia
Em Natal, fontes ligadas ao
governo do Rio Grande do Norte, cujo titular é muito ligado ao ministro das
Cidades, engenheiro Gilberto Kassab, também presidente nacional do partido de
ambos, o PSD, vão mais longe. Dizem que Henrique Alves recebeu uma ameaça de
perder seu cargo se não agisse pelo Ceará.
Avançando ainda mais, observam
que há semanas o Ministro do Turismo não mostra empenho pela causa, a despeito
de saber que o Rio Grande do Norte apresenta as melhores condições técnicas
para acolher o Hub, consideradas a localização, a capacidade de expansão do
aeroporto, o modelo de negócios e uma vantagem estatística: como salienta o
Governador, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) desta unidade federativa,
0,684%, é superior à média do Nordeste e em especial às dos concorrentes. A do
Ceará é 0,682 e a de Pernambuco é 0,673.
Além do mais, o Aluizio Alves,
situado a quarenta quilômetros de Natal, é o único entre os concorrentes com
pista preparada para aeronaves de grande porte, como o Airbus A380. Por fim, o
Rio Grande do Norte teria sido o Estado que mais ofereceu à Latam: ao mesmo
tempo em que o governo do Estado reduziu o Imposto Sobre a Circulação de
Mercadorias e Serviços (ICMS) incidente sobre o preço do combustível para a
aviação, focando exatamente o HUB, a prefeitura de São Gonçalo do Amarante
ofereceu incentivo fiscal exclusivo à Latam, com redução da alíquota de ISS de
5% para 2%.
Convênios com aliados
A despeito desse potencial, nas
últimas semanas Henrique Eduardo parece menos interessado pelo HUB do que por
pequenos convênios que sua pasta, apesar de financeiramente esvaziada por
Dilma, continua a celebrar com prefeituras, significantes ou não, do Rio Grande
do Norte. A maioria destas, segundo criticam adversários de Henrique Eudardo, é
comandada por políticos que teoricamente apoiaram sua malfadada candidatura a
governador em 2014. Esta conduta, aliás, já fez seus críticos dizerem que ele
se transformou em “ministro municipal do Turismo”.
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nunca li tanta merda
ResponderExcluirnunca li tanta merda
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