Agripino à direita, com Wilma, Henrique e Garibaldi, chega aos setenta anos: os líderes do Rio Grande do Norte estão mais idosos do que Dinarte Mariz quando começou a ser chamado de "o velho". |
O presidente nacional e regional do
Democratas, senador José Agripino Maia, ex-prefeito de Natal e ex-governador do
Rio Grande do Norte, completa neste sábado, 23, hoje, setenta anos de idade,
devendo comemorar a data entre familiares, vez que não divulgou qualquer agenda
prevendo festividades.
Além de ensejar um exame objetivo sobre a
contribuição que o parlamentar emprestou ao desenvolvimento desta unidade
federativa desde que aqui chegou, em dezembro de 1979, para deixar a iniciativa
privada e assumir em janeiro a prefeitura da capital potiguar, o aniversário
impõe uma reflexão sobre uma transição que se opera na cúpula dos principais
grupos políticos do Rio Grande do Norte.
Setentões
Já são setentões outros políticos que, a
exemplo de José Agripino, sucederam na vida pública a parentes que se
projetaram excepcionalmente nesta unidade federativa, como o senador Garibaldi
Alves Filho (PMDB), sobrinho e principal herdeiro eleitoral do jornalista e
político Aluizio, que foi o maior líder que esta unidade federativa já
conheceu.
Seu primo Henrique Eduardo, o filho de
Aluizio que se estatelou na disputa pelo governo do Estado em 2014 e há um mês
assumiu o ministério do Turismo com a missão de melhorar a articulação política
para a presidanta Dilma Rousseff, está a poucos anos do time dos
septuagenários, e esta semana a senadora Fátima Bezerra, que sonha em disputar
o governo estadual pelo PT em 2018, chegou aos sessenta vendo que a
ex-governadora Wilma de Faria, também pretendente à prefeitura, já passa da
marca histórica de José Agripino uns quatro a cinco anos.
Robinson
não se elegeu
À exceção de Fátima, beneficiada por
circunstâncias locais e principalmente pela onda que concedeu mais quatro anos
de mandato a Dilma, esses políticos vivem uma situação próxima à da fadiga
eleitoral plena prenunciada pelo insucesso que derrubou Henrique
Eduardo em outubro último.
Não é inteiramente errado dizer-se que o
cinqüentão governador Robinson Faria, presidente regional do PSD, venceu as
eleições do ano passado, a despeito de não se poder negar o fato histórico de
que tomou posse na chefia do executivo potiguar. O mais correto é dizer-se que
seu principal concorrente, Henrique Eduardo, se deselegeu e por dois motivos
inestimáveis, a fortíssima rejeição pessoal que colheu junto aos potiguares e o
inescapável envelhecimento do voto dos correligionários que o pai lhe confiou
no início de sua carreira política, nos anos setenta.
Fragilidade
de Agripino
A septicemia eleitoral do agripinismo foi
proclamada diversas vezes por atores e observadores da cena política potiguar
em dois momentos decisivos desta fase da carreira de José Agripino.
O primeiro foi quando seu grupo preteriu a
candidatura da então senadora Rosalba Ciarlini, na época sua correligionária no
Dem, ao governo do Estado, sob o argumento de que ao partido interessava mais
garantir a recondução do próprio presidente à sua casa congressual. O segundo
foi preterir a tentativa de reeleição da governadora Rosalba, em 2014, dizendo
que o mais importante para a agremiação era manter sua força no pleito
proporcional, o que significava dizer que o importante era reconduzir o
deputado Felipe Maia, filho e liderado de José Agripino, à câmara baixa do
país. Todo mundo no Estado disse, unanimemente, que José Agripino cedeu em tudo
à malfadada candidatura de Henrique Eduardo porque o leque partidário que este
coligaria na faixa proporcional era o único caminho de reeleger Felipe.
Sucessor
Malgrado necessitar de tamanho sacrifício
paterno para se reeleger, cabe, no exame histórico da atuação de José Agripino,
reconhecer que Felipe se tem saído muito bem no Congresso Nacional. Já foi
escolhido como o melhor parlamentar do ano por instituições de grande
credibilidade no Planalto Central; infelizmente, porém, isto ainda não conta
pontos no processo de atração de votos no Rio Grande do Norte.
Queiram ou não os críticos do Senador,
entretanto, Felipe é o futuro de seu grupo político-eleitoral, posição que no
caso da família Alves se pulveriza perigosamente, face a projetos conflitantes
cultivados pelo prefeito Carlos Eduardo, presidente regional do PDT, que deseja
se reeleger com o voto de todos os parentes em 2016, e pelo deputado federal
Walter, o filho de Garibaldi Filho que sonha não apenas com conquistar a
prefeitura de Natal, mas principalmente o governo potiguar. Felipe, inclusive,
já chegou a ser indicado para suceder ao pai na presidência regional do partido
que tende a nascer da fusão do Dem com o PTB.
Enquanto a genética não garante força
eleitoral ou unicidade para liderar um clã, para preocupação de José Agripino,
Garibaldi Filho e Henrique Eduardo, em outras facções o envelhecimento dos
votos impõe outras preocupações. Embora sua primogênita, deputada Márcia Maia,
que segue sua liderança no PSB, tenha pilotado até agora uma atuação digna de
registro na Assembléia Legislativa, é possível diagnosticar que Wilma não tem
entre os filhos um possível sucessor à sua altura.
Grupos
regionais sumiram
Forando esses líderes, que mais se firmam
em Natal do que no interior, no restante do Rio Grande do Norte a passagem do
bastão de comando é problema para muita gente que vê o entorno se encher de
grupos familiares de sonoridades novas, novíssimas.
No Seridó, viu-se que o “dinartismo” se
volatizou anos após a morte física do seu criador, o legendário senador Dinarte
Mariz. Da mesma forma, em Mossoró, o “rosadismo” resistiu pouco mais de dez
anos à perda de seu grande organizador, o saudoso deputado federal Vingt
Rosado. As três ou quatro forças em que se fragmentou procuram agora se
reagrupar ao máximo a fim de resgatar a máquina da prefeitura local para o
sobrenome.
Enquanto os sobrenomes mais sonoros sofrem
problemas de sucessão entre gerações, ainda não se firmaram ao ponto de oferecerem
idéia do que são capazes alguns nomes que mais recentemente se alçaram ao que
poderia ser um “baixo clero” imediatamente abaixo do primeiro time da política
potiguar.
Federais
querem subir
Os que mais se destacam nesse clero são os
detentores de espaço na bancada do Estado na câmara federal, a começar pelo
deputado estadual Ricardo Motta, presidente regional do Pros e ex-presidente da
Assembléia Legislativa. Mesmo sem ter conquistado mais tempo neste cargo,
graças à presença de um filho, Rafael Motta, na câmara federal, Ricardo almeja
crescer politicamente a partir do próximo ano. É o sonho dos demais condôminos
da bancada potiguar na câmara.
Neto do saudoso Djalma Marinho, grande
parlamentar a quem o Rio Grande do Norte negou a conquista de mandatos em
eleições majoritárias, o economista Rogério Marinho, presidente de honra do
diretório potiguar do PSDB, procura se consolidar neste nível em seu segundo
mandato como deputado federal, após um hiato forçado por mesquinharia de
antigos aliados, notadamente Wilma.
Ainda que sem mandato, seu colega João
Maia, presidente regional do PR, ainda mostra força por intermédio da irmão que
alojou na câmara baixa do país. Ao lado destes, o pastor Antonio Jácome, novo
líder potiguar do PMN, saboreia seu primeiro mandato como deputado federal e vê
seu filho Jacó se projetar bem como deputado estadual, na esperança de levar a
família a conquistar a prefeitura de Natal.
Situado num grupo
ainda considerado novo em relação aos setentões, também Robinson Faria conduz a
ascensão de novas gerações em seu grupo, no qual se destaca o papel que seu
primogênito, Fábio, deputado federal, exerce na sombra de seu governo.
Nem ele nem os
setentões, entretanto, admitem estar chegando a hora de passar o bastão de
comando, embora Dinarte tenha começado a ser mencionado como “o velho” muito
antes de chegar aos sessenta anos. Este é um termo que a qualquer momento pode
começar a ser aplicado a José Agripino, Garibaldi Filho, Wilma, Henrique
Eduardo, Geraldo Melo...
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