Robinson e Rinaldo juntos: alguém está abaixo, aquém ou refém do outro. |
O norte-rio-grandense que levou fora,
quebrou a cara e tomou chá de cadeira na Governadoria sem conseguir falar com o
governador Robinson Faria deve passar a procurá-la noutro endereço, num grande
prédio que se destaca entre a avenida Jaguarari e o conjunto Candelária, em
Lagoa Nova, na zona sul de Natal.
É nele que Robinson mais tem despachado
ultimamente.
Mais precisamente, é no gabinete do
Procurador Geral de Justiça, promotor público Rinaldo Reis, na sede do ministério
público estadual, situado na rua Promotor Manoel Alves Pessoa Neto, 97, que o
chefe do executivo potiguar tem reunido o núcleo “duro” de seu Governo, a fim
de fugir ao assédio e principalmente ao que chama de “peditório”, a ruma de
conterrâneos que o procura só para pedir, sem nada a lhe oferecer nos períodos
entre eleições.
Robinson sempre mostrou ser um político
que se sente mal quando alguém lhe pede uma conversa em particular.
Advogado
de Robinson
Pouca gente próxima a Robinson se deu
conta deste isolamento e menos ainda explica o fato de a ostra do Governador,
distante de todos os espaços do poder executivo, alojar-se em nicho do ministério
público, o grande algoz de tudo quanto é administrador público no Brasil.
Quando a informação sobre esses despachos chegou, por fonte digna de todo
crédito, ao responsável pelo Blog de Roberto
Guedes, este imaginou que o anfitrião de Robinson fosse o procurador geral
do Estado, advogado Francisco Wilkie Mendonça, mas a fonte salientou tratar-se
do Procurador Geral de Justiça, alguém que ordinariamente enfrenta a chefia do
executivo potiguar. Agora mesmo, Rinaldo prepara uma guerra sem quartel a fim
de transformar o “parquet” num poder ainda mais independente do executivo, do
legislativo e do judiciário. Mas só cuida disso porque conta com o aval do
Governador.
Alguns que conhecem este desvio de rota
para o local de trabalho acham que Robinson foge mais do que à liturgia do
cargo ao se esconder na sede de um poder que vez por outra admoesta o
executivo, se bem que salientem a proteção que a casa lhe tem dato em termos
forenses. Curva-se diante do promotor.
Desde janeiro o ministério público estadual
não afronta o Governador, diferentemente da guerra sem quartel que opôs à
antecessora de Robinson, a médica Rosalba Ciarlini, criando-lhe as dificuldades
que culminaram com a impossibilidade de ela pelo menos tentar se reeleger.
Alguns políticos não hesitam em dizer
que Rinaldo fez mais pela eleição de Robinson do que todo o eleitorado potiguar
ao imobilizar a gestão de Rosalba e ajudar a constranger o principal
concorrente do atual Governador na disputa, o então deputado federal Henrique
Eduardo Alves, presidente regional do PMDB e desde abril ministro do Turismo.
Outros explicam no acumpliciamento de amigos
esta preferência, lembrando que desde o início do mandato o Procurador Geral,
senhor da prerrogativa de acionar o Governador na Justiça, tem poupado tanto
Robinson que já recebe, “merecidamente”, como frisam, o título de “advogado” do
chefe do executivo.
Livrando
a cara
Teria feito parte desta parceria, já em
2015, o contorcionismo processual com que Rinaldo Reis blindou Robinson ao
acusar o presidente da Assembléia Legislativa, deputado estadual Ezequiel Ferreira
de Souza (PMDB), de envolvimento com o pivô das irregularidades que ensejaram a
investigação “Sinal Fechado”, sobre corrupção numa tentativa de confiar a uma
empresa privada a inspeção veicular em todo o Rio Grande do Norte.
O acumpliciamento entre Governador e
Procurador Geral teria chegado ao ápice há poucos dias, quando, cumprindo o que
lhe impunha o processo eleitoral vivenciado no âmbito do ministério público,
Robinson nomeou Rinaldo para seu segundo mandato na Procuradoria Geral. Como se
sabe, dias antes de protocolar a denúncia contra Ezequiel, Rinaldo Reis
conversou muito reservadamente com Robinson sobre o que estava prestes a
deflagrar. Foi quando se certificou subjetivamente da inocência do Governador
diante do Sinal Fechado, embora Robinson presidisse a Assembléia Legislativa
quando esta selou o favorecimento à empresa complicada na acusação.
Enfraquecendo
o cargo
Outras fontes dos meios forenses
potiguares asseguram, a propósito, que foi graças a esta habilidade que Rinaldo
conquistou a garantia governamental de que, integrando a lista tríplice
elaborada no “parquet”, seria premiado com mais dois anos à frente da casa.
Mas mesmo quem pensava assim não imaginava
que a parceria entre os dois fosse tão forte ao ponto de o Governador deixar de
despachar em espaços do poder executivo para fazê-lo na sede do órgão ministerial,
porque isto foge a qualquer fórmula de valorização dos cargos que os dois
exercem, notadamente da mais elevada magistratura do Rio Grande do Norte.
“É como se o Governador estivesse
abaixo, aquém ou refém do Procurador Geral”, diz um Procurador de carreira,
lembrando um precedente.
No início da primeira metade dos anos
sessenta, primeiro qüinqüênio da instalação do Tribunal de Contas do Estado, a
melhor noção de que a gestão do governador Aluizio Alves estava fortalecida era
dada pelo fato de o presidente da corte, ministro Romildo Gurgel, levar chá de
cadeira de várias horas na ante-sala do chefe do executivo potiguar. No final
do quinqüênio, o inverso era denunciado pelo fato de o chefe do executivo ir
procurar Romildo no hotel em que este residia, e passar horas no “hall”,
esperando que o hóspede autorizasse sua subida até seu apartamento.
Constrangimento
Promotores e procuradores de Justiça que
já não se surpreendem ao ver Robinson e auxiliares deste chegando à sede do
ministério público para encontros fora da pauta dizem que este relacionamento
impôs alguns constrangimentos a agentes do “parquet”.
Isto ocorreu quando foram vistos subindo
rumo ao gabinete de Rinaldo Reis auxiliares de Robinson que, noutras
circunstancias, só entrariam na sede da Procuradoria Geral de Justiça se fossem
prestar depoimento em inquérito, selar ou cumprir acordos de delação premiada,
pois estão altamente encrencados com diferentes segmentos do poder judiciário e
mesmo com denúncias e investigações protagonizadas pelo “parquet” potiguar.
No time, salientam, há até pessoas cujas
nomeações a justiça contra-indicou especificamente a Robinson porque estariam
periclitando em inquéritos e processos relativos a improbidade administrativa.
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