domingo, 24 de maio de 2015

RN não falou sobre restrições a cesarianas

Januário Cicco é o grande cenário das cesáreas no Rio Grande do Norte.
Está terminando o prazo da consulta nacional sobre as restrições às cirurgias cesarianas – ou “cesaréias”, como hoje preferem mencioná-las médicos e principalmente autoridades governamentais -, e o Rio Grande do Norte ainda não se manifestou a respeito, deixando assim de contribuir para o enrique cimento do debate a respeito do procedimento e sonegando a seus habitantes maiores conhecimentos relacionados a ele.
A crítica foi formulada na noitinha deste sábado, 23, ontem, por um conhecido profissional local da medicina, que pediu para ser mantido no anonimato a fim de não ampliar as áreas de atrito que mantém em diversas frentes, do corporativismo profissional ao conflito com autoridades oficiais.
Salientando que o prazo para a consulta se extinguirá nesta segunda-feira, 25, amanhã, ele observa que no Rio Grande do Norte não cuidaram de colocar o tema em bate nem os governos federal, estadual e municipais nem as diferentes entidades que representam médicos, assim como as instituições de ensino da área da saúde, as maternidades aqui localizadas e, principalmente, alguém que de algum modo representasse as mulheres, as famílias e os nascituros.
Campeão mundial
“É como se o problema só ocorresse além das divisas do Rio Grande do Norte”, lastima, enfatizando que também no plano nacional a consulta não parece estar mobilizando muita gente, o que pressiona no sentido da manutenção do “status quo” ou, ao contrário, abre caminho para a imposição de medidas acalentadas pelo governo federal.
Na verdade, o problema aqui atinge proporções próximo do que se vê no cenário nacional, onde se constatou um aumento assustador, na visão dos médicos da área. O índice nacional de parto cesariano está em torno de 84% na rede privada e de 40% no Sistema Único de Saúde (SUS).
Segundo os arquivos da secretaria estadual de Saúde, as cesáreas constituem mais de 70% dos partos realizados nas instituições privadas do Rio Grande do Norte. Na rede pública, esse percentual cai para cerca de 30%. A ambulânciaterapia tem concentrado extraordinariamente a realização dessas cirurgias em Natal e em especial na maternidade-escola Januário Cicco, a principal referência estadual em obstetrícia e ginecologia.  
O ministério da Saúde tem como meta o índice em torno de 15% para todo o país, embora saiba que isso é inviável, no dizer dos médicos. O tolerável, pelo que apontam, é em torno de 25%.
Especialistas e mães listam uma série de fatores para explicar esses altos índices de cesáreas, a necessidade de sua redução e quando a cesariana realmente é necessária.
Mesmo assim, porém, a preocupação parece haver desaparecido desde janeiro, quando a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANSS), que regula os serviços prestados nos planos de saúde, publicou uma resolução que estabelece normas para o estímulo do parto normal e a consequente redução de cesarianas desnecessárias. A despeito das críticas que vem atraindo, a ofensiva se justifica: o Brasil é o campeão mundial em cesáreas.
Três cirurgias
A indiferença que parece reinar no plano estadual, aqui e em outras unidades federativas, tem contraponto na preocupação que líderes nacionais de áreas médicas afins têm externado em relação à estratégia da União. Anteontem, por exemplo, três grandes entidades se uniram para contraindicar a política governamental que se esboça. A Associação Médica Brasileira (AMB), a Federação das Associações Brasileiras de Ginecologia e Obstetrícia e a Sociedade Brasileira de Pediatria divulgaram um manifesto conjunto assegurando que as recomendações preconizadas pelo Ministério podem colocar em risco as vidas das gestantes e afirmando que algumas práticas sugeridas estão na contramão do que é feito em países desenvolvidos.
A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em São Paulo, por sua vez, encaminhou ao governo federal um documento sugerindo várias alterações na política proposta. O fulcro da questão é a determinação de impor o parto normal a mulheres que já se submeteram a três cesarianas.
Salientando que corre o risco de cometer um erro cronológico, o médico potiguar diz que a última vez em que alguma entidade local tratou do assunto em público foi em meados da década passada. De memória ele diz que na época o professor Ives Bezerra, presidente da Associação de Genicologia e Obstetrícia e, paralelamente, do conselho deliberativo do ABC Futebol Clube, pronunciou-se divulgando as indicações para a utilização da cesárea.
Seriam casos de hipertensão arterial ou quando o feto posiciona-se horizontalmente em relação à bacia da grávida. Ela também pode ser adotada quando se configura um  estreitamento da bacia ou quando a placenta fecha o canal vaginal, assim como na inadequação no volume do líquido amniótico, o que prejudica a nutrição do feto. A cirurgia também é recomendada se a gestação passou mais de nove meses e dez dias.
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