Erupções na pele diferenciam "Zica" da dengue. |
Chama-se “Zica”,
provavelmente tem origem na África e seria um inesquecível legado da “Copa do
Mundo de Futebol de 2014” a doença misteriosa que em poucas semanas contagiou
milhares de pessoas no Brasil, notadamente no litoral e principalmente em João
Pessoa, Natal e Salvador, assim como em cidades do interior potiguar, com
ênfase na região do Seridó. Como seus sintomas incluem dores nas articulações e
febre, a exemplo da gripe e da dengue, médicos pensaram que seria ligada a
esta, e se exames de sangue descartaram as duas hipóteses hoje os médicos
natalenses admitem um parentesco.
Segundo
profissionais natalenses, a exemplo da dengue, a Zica seria transmitida pelo
inseto conhecido como “aëdes aegytpi” e por um parente próximo deste, o “Aëdes albopictus”, insetos que picam durante o dia e a noite,
diferentemente do mosquito comum, que pica somente durante a noite. Os
transmissores de dengue, principalmente o Aëdes aegypti, proliferam-se dentro
ou nas proximidades de habitações (casas, apartamentos, hotéis), em recipientes
onde se acumula água limpa (vasos de plantas, pneus velhos, cisternas etc.).
“Dengeue benigna”
O que mais diferencia
a “Zica” da dengue é o fato de a nova doença maltratar bem mais a pele do que as
partes internas do corpo do infectado. Esta distinção já levou médicos baianos
a referenciá-la como a “dengue benigna”, ou “dengue prá fora”.
A identidade da “Zica”
começou há poucos dias a circular entre médicos, enfermeiros e funcionários do
hospital Gizelda Trigueiro, que em Natal funciona como a maior, senão a única
referência de unidade de combate e tratamento de doenças infecto-contagiosas em
todo o Rio Grande do Norte.
Provavelmente o
nome foi trazido por alguns dos médicos natalenses que participaram, em
Salvador, de um encontro de profissionais preocupados com a doença, promovido
pelo governo federal. Dizem no hospital natalense que de modo geral que foi a Salvador
ainda hoje se intriga quanto à origem geográfica e às condições de que a “Zica”
precisa para proliferar.
Após esta reunião, médicos de diversos estados modificaram seus conceitos sobre a doença. Até então, alguns recomendavam o uso de antialérgicos pelas pessoas infectadas. Agora, todos afastam rigorosamente esta medicação, porque agravaria o problema, pelo menos na maioria dos casos.
Outras pessoas
ainda se prendem ao fato de sintomas da doença lembrarem a dengue. De fato, há
tempos os médicos mencionavam como algo remotamente capaz de criar problemas no
Brasil uma doença que em outros países tem sido muito confundida com a dengue
em função de como se manifesta. "Zica" não teria a versão hemorrágica da dengue.
Lagreca: silêncio cauteloso sobre a nova doença... |
Evitar o pânico
No resumo feito por
um médico do Gizelda Trigueiro, os sintomas da doença são manchas avermelhadas
que podem se estender para os braços, tronco, coxas e nádegas. A coloração das
manchas é rosada ou avermelhada e com um ligeiro relevo.
Quanto ao berço de “Zica”,
quem mais interessada e objetivamente se debruçou sobre a doença têm sido pesquisadores da Universidade Federal da Bahia (UFBA), que ainda tentam descobrir porque a doença está se propagando. Sua principal hipótese é a de que se trate de um tipo de vírus ainda não identificado, provavelmente transmitido por algum mosquito no Brasil. Na reunião nacional de Salvador, eles se curvaram à tese de que à frente desse exército estaria o “Aëdes aegypti”.
Sabe-se também que,
tão discretamente quanto possível, para não estimular o pânico, há vários dias técnicos
do Ministério da Saúde se instalaram em João Pessoa para fazer uma avaliação de
todo os casos suspeitos, mas até agora não foi fechado nenhum diagnóstico
preciso sobre a doença. Não se tem idéia, ainda, de semelhante investida do mesmo
Ministério no Rio Grande do Norte, mas a maior noção do quanto a gravidade da doença apavora as autoridades, segundo os médicos que atuam na base, é oferecida pelo fato de o secretário estadual de Saúde, cardiologista Ricardo Lagreca, não se arriscar a se pronunciar sobre "Zica".
...que seria transmitida pelo "Aëdes Aegypti". |
Trazida pela Copa
Uma hipótese que se
impõe entre os profissionais da área da saúde que lidam com o problema, em
Natal, assim como em outros estados, no tocante ao ponto emissor, é a de que a
doença tenha vindo para as cidades-sede da Copa do Mundo que hospedaram equipes
esportivas originárias da África. Por questões ainda não esclarecidas, ela
ficou incubada e começou a eclodir entre os nativos no começo deste ano.
Nos corredores do Gizelda
Trigueiro consta que as autoridades sanitárias do Rio Grande do Norte estão
quase em pânico com a perspectiva de ampliação do universo local de atingidos,
que não ousam contar em público para não assustar os conterrâneos. E não são as
únicas impactadas pela expansão do mapa da doença. Viu-se isto na semana
passada, quando a secretaria estadual de Saúde enviou alguns médicos potiguares
para participarem em Salvador da primeira reunião nacional sobre a doença.
O que mais marcou e
ocupou os participantes do encontro foram a cubagem da “Zica”, delimitando seu perímetro,
uma tentativa de encontrar sua origem, aqui ou em outro continente, e a montagem
de estratégias para evitar que se expanda como a dengue, há anos transformada
em grande problema nacional. Foi nesse evento que primeiro se pronunciou no
Brasil o que seria o nome popular da doença.
Matando na África
Batizada a
princípio como “Eritema Infeccioso ou
Parvovírus B19”, à falta de nome popular, a “Zica” começou a ser notada
em escala maior no Brasil em fevereiro. Seu vestibular ocorreu no interior da
Bahia, cuja capital registra hoje mais de quinhentos infectados.
A ligação que os
médicos procuram encontrar entre as duas doenças pode, também, decorrer, de
outra coincidência. Semanas antes de a “Zica” se manifestar no Brasil, uma
doença misteriosa já havia causado a morte de dezessete pessoas no sudoeste da
Nigéria, como assinalou no último dia 18 um porta-voz do governo regional.
“Dezessete pessoas
morreram por uma doença misteriosa desde sua aparição no começo da semana na
cidade de Ode Irele”, no estado de Ondo, declarou à AFP o porta-voz do estado,
Kayode Akinmade. Os sintomas desta misteriosa doença são dor de cabeça, perda
de consciência e de peso e problemas de vista, seguidos de morte em 24 horas.
No caso nigeriano, os
exames efetuados até agora não indicaram que pode se tratar de uma doença viral
ou de Ebola, em particular, afirmou o porta-voz. Febre hemorrágica de origem
viral, o ebola deixou desde 2014 matou mais de 10,6 mil pessoas, principalmente
nos países da Libéria, Serra Leoa, Guiné e Nigéria. As amostras de fluidos
corporais dos afetados pela doença foram enviadas há poucos dias ao hospital
universitário de Lagos, onde estão sendo analisadas por equipes da Organização
Mundial de Saúde (OMS), instituição que, por enquanto, não mostrou igual
preocupação com o surto no Brasil.
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Roberto Guedes:
Como essa doença chegou aqui e por que só chegou agora? Quem são as pessoas que a trouxeram? Onde está o paciente zero? Já a rastrearam? Por que ninguém está se interessante por rastrear sua origem?
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