sexta-feira, 8 de maio de 2015

“Zica” é a doença misteriosa que agride a pele

Erupções na pele diferenciam "Zica" da dengue.
Chama-se “Zica”, provavelmente tem origem na África e seria um inesquecível legado da “Copa do Mundo de Futebol de 2014” a doença misteriosa que em poucas semanas contagiou milhares de pessoas no Brasil, notadamente no litoral e principalmente em João Pessoa, Natal e Salvador, assim como em cidades do interior potiguar, com ênfase na região do Seridó. Como seus sintomas incluem dores nas articulações e febre, a exemplo da gripe e da dengue, médicos pensaram que seria ligada a esta, e se exames de sangue descartaram as duas hipóteses hoje os médicos natalenses admitem um parentesco.
Segundo profissionais natalenses, a exemplo da dengue, a Zica seria transmitida pelo inseto conhecido como “aëdes aegytpi” e por um parente próximo deste, o “Aëdes albopictus”, insetos que picam durante o dia e a noite, diferentemente do mosquito comum, que pica somente durante a noite. Os transmissores de dengue, principalmente o Aëdes aegypti, proliferam-se dentro ou nas proximidades de habitações (casas, apartamentos, hotéis), em recipientes onde se acumula água limpa (vasos de plantas, pneus velhos, cisternas etc.).
“Dengeue benigna”
O que mais diferencia a “Zica” da dengue é o fato de a nova doença maltratar bem mais a pele do que as partes internas do corpo do infectado. Esta distinção já levou médicos baianos a referenciá-la como a “dengue benigna”, ou “dengue prá fora”.
A identidade da “Zica” começou há poucos dias a circular entre médicos, enfermeiros e funcionários do hospital Gizelda Trigueiro, que em Natal funciona como a maior, senão a única referência de unidade de combate e tratamento de doenças infecto-contagiosas em todo o Rio Grande do Norte.
Provavelmente o nome foi trazido por alguns dos médicos natalenses que participaram, em Salvador, de um encontro de profissionais preocupados com a doença, promovido pelo governo federal. Dizem no hospital natalense que de modo geral que foi a Salvador ainda hoje se intriga quanto à origem geográfica e às condições de que a “Zica” precisa para proliferar.
Após esta reunião, médicos de diversos estados modificaram seus conceitos sobre a doença. Até então, alguns recomendavam o uso de antialérgicos pelas pessoas infectadas. Agora, todos afastam rigorosamente esta medicação, porque agravaria o problema, pelo menos na maioria dos casos.
Outras pessoas ainda se prendem ao fato de sintomas da doença lembrarem a dengue. De fato, há tempos os médicos mencionavam como algo remotamente capaz de criar problemas no Brasil uma doença que em outros países tem sido muito confundida com a dengue em função de como se manifesta. "Zica" não teria a versão hemorrágica da dengue. 
Lagreca: silêncio cauteloso sobre a nova doença...
Evitar o pânico
No resumo feito por um médico do Gizelda Trigueiro, os sintomas da doença são manchas avermelhadas que podem se estender para os braços, tronco, coxas e nádegas. A coloração das manchas é rosada ou avermelhada e com um ligeiro relevo.
Quanto ao berço de “Zica”, quem mais interessada e objetivamente se debruçou sobre a doença têm sido pesquisadores da Universidade Federal da Bahia (UFBA), que ainda tentam descobrir porque a doença está se propagando. Sua principal hipótese é a de que se trate de um tipo de vírus ainda não identificado, provavelmente transmitido por algum mosquito no Brasil. Na reunião nacional de Salvador, eles se curvaram à tese de que à frente desse exército estaria o “Aëdes aegypti”.
Sabe-se também que, tão discretamente quanto possível, para não estimular o pânico, há vários dias técnicos do Ministério da Saúde se instalaram em João Pessoa para fazer uma avaliação de todo os casos suspeitos, mas até agora não foi fechado nenhum diagnóstico preciso sobre a doença. Não se tem idéia, ainda, de semelhante investida do mesmo Ministério no Rio Grande do Norte, mas a maior noção do quanto a gravidade da doença apavora as autoridades, segundo os médicos que atuam na base, é oferecida pelo fato de o secretário estadual de Saúde, cardiologista Ricardo Lagreca, não se arriscar a se pronunciar sobre "Zica".
...que seria transmitida pelo "Aëdes Aegypti".
Trazida pela Copa
Uma hipótese que se impõe entre os profissionais da área da saúde que lidam com o problema, em Natal, assim como em outros estados, no tocante ao ponto emissor, é a de que a doença tenha vindo para as cidades-sede da Copa do Mundo que hospedaram equipes esportivas originárias da África. Por questões ainda não esclarecidas, ela ficou incubada e começou a eclodir entre os nativos no começo deste ano.
Nos corredores do Gizelda Trigueiro consta que as autoridades sanitárias do Rio Grande do Norte estão quase em pânico com a perspectiva de ampliação do universo local de atingidos, que não ousam contar em público para não assustar os conterrâneos. E não são as únicas impactadas pela expansão do mapa da doença. Viu-se isto na semana passada, quando a secretaria estadual de Saúde enviou alguns médicos potiguares para participarem em Salvador da primeira reunião nacional sobre a doença.
O que mais marcou e ocupou os participantes do encontro foram a cubagem da “Zica”, delimitando seu perímetro, uma tentativa de encontrar sua origem, aqui ou em outro continente, e a montagem de estratégias para evitar que se expanda como a dengue, há anos transformada em grande problema nacional. Foi nesse evento que primeiro se pronunciou no Brasil o que seria o nome popular da doença.
Matando na África
Batizada a princípio como “Eritema Infeccioso ou  Parvovírus B19”, à falta de nome popular, a “Zica” começou a ser notada em escala maior no Brasil em fevereiro. Seu vestibular ocorreu no interior da Bahia, cuja capital registra hoje mais de quinhentos infectados.
A ligação que os médicos procuram encontrar entre as duas doenças pode, também, decorrer, de outra coincidência. Semanas antes de a “Zica” se manifestar no Brasil, uma doença misteriosa já havia causado a morte de dezessete pessoas no sudoeste da Nigéria, como assinalou no último dia 18 um porta-voz do governo regional.
“Dezessete pessoas morreram por uma doença misteriosa desde sua aparição no começo da semana na cidade de Ode Irele”, no estado de Ondo, declarou à AFP o porta-voz do estado, Kayode Akinmade. Os sintomas desta misteriosa doença são dor de cabeça, perda de consciência e de peso e problemas de vista, seguidos de morte em 24 horas.
No caso nigeriano, os exames efetuados até agora não indicaram que pode se tratar de uma doença viral ou de Ebola, em particular, afirmou o porta-voz. Febre hemorrágica de origem viral, o ebola deixou desde 2014 matou mais de 10,6 mil pessoas, principalmente nos países da Libéria, Serra Leoa, Guiné e Nigéria. As amostras de fluidos corporais dos afetados pela doença foram enviadas há poucos dias ao hospital universitário de Lagos, onde estão sendo analisadas por equipes da Organização Mundial de Saúde (OMS), instituição que, por enquanto, não mostrou igual preocupação com o surto no Brasil.
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Um comentário:

  1. Como essa doença chegou aqui e por que só chegou agora? Quem são as pessoas que a trouxeram? Onde está o paciente zero? Já a rastrearam? Por que ninguém está se interessante por rastrear sua origem?

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