segunda-feira, 15 de junho de 2015

É estranho, coletivo e sui-generis o auto-reajuste de Secretário “Galinha Mineira”

Correndo mais do que o célebre maratonista tcheco Emil Zátopek e escolhendo pessoas certas para emitirem pareceres subordinados aos interesses de um grupo fechado, aparentemente o processo que beneficiou Gustavo Nogueira e pode estender canhestramente o mesmo ganho a Secretários que intervieram ostensivamente, como o Consultor Geral do Estado, e através de aparente omissão, como a chefe da Casa Civil, advogada Tatiana Mendes Cunha, só não era do conhecimento de uma pessoa, o governador Robinson Faria, que deve à população a adoção de providências moralizadoras. 

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Conduzido integralmente à revelia do Governador, o processo... 
É todo cheio de nós pelas costas e riquíssimo em irregularidades, como ocorre com matérias-primas do trabalho de promotores de justiça da área criminal, o processo de consultas com que o secretário estadual de Planejamento, economista Gustavo Nogueira, conseguiu que outras secretarias do governo Robinson Faria coonestassem, como pretendem, o reajuste de 100% que ele concedeu há poucas semanas ao que o governo do Rio Grande do Norte lhe paga.
Rico em especificidades que contrariam o direito positivo em vigor no Brasil, ele experimentou uma tramitação ultra-célere, em contraposição a chá de cadeira e aos meses e anos que muitas vezes retardam os de interesse de cidadãos e servidores comuns, recebeu pareceres de servidores do segundo escalão à revelia dos titulares das respectivas pastas e para surpresa geral levou o consultor geral, professor Eduardo Nobre, a recebê-lo e devolvê-lo em tempo recorde, emprestando-lhe o aval fundamental.
Técnicos descobriram
A descoberta dos inúmeros vícios que carimbam o processo coube a técnicos do Tribunal de Contas do Estado que resolveram investigá-lo por contra própria antes de os participantes da corte, conselheiros, resolvessem, na semana passada, que o reajuste dado a Gustavo Nogueira seja rigorosamente investigado. Pelo menos um promotor de justiça, o bacharel Paulo Batista Lopes Neto, coordenador das promotorias de Defesa do Patrimônio Público no Rio Grande do Norte, resolveu também investigar essa fraude.
Eles agora torcem para que Robinson tome a iniciativa de anular o feito, cobrar o ressarcimento do que foi pago ilegalmente e afaste de sua equipe todas os protagonistas dessa história que consagra a máxima pseudamente bíblica do “Mateus, primeiro os teus” em detrimento dos contribuintes e cidadãos potiguares.  
Despachos em minutos
Para se ter idéia da sucessão de irregularidades, pode-se iniciar a leitura pelo fato de Gustavo transformar em institucional, em nome da pasta que dirige, uma consulta sobre vencimentos que a rigor, na forma da lei, deveria ter sido subscrito pelo servidor.
...que reajustou o salário de Gustavo, abrindo caminho para outros...
O mal maior seria, porém, mostrar que a definição do valor do salário é regida por lei estadual que o servidor considerou inconstitucional e, com base nesta análise, não se procurar extinguir a inconstitucionalidade, através do envio de nova lei à Assembléia Legislativa ou do ajuizamento de uma Ação Declaratória de Inconstitucionalidade (Adin), e sim induzindo o Estado a deixar de cumpri-la, aí, sim, praticando deliberadamente uma ilegalidade, em afronta aos ditames da legislação em vigor.    
Pesa ainda o fato de, depois de receber o carimbo de interesse da Secretaria de Planejamento e Finanças, o que equivale a dizer da pasta que controla o cofre do Estado, escondendo o interesse particular do servidor que dirige esta pasta, e contando com a conivência de ocupantes de cargos de confiança do segundo escalão, em corrida mais ágil do que as do célebre checo Emil Zátopek, o processo beneficiou o requerente e estabeleceu condições para que os titulares de pastas que compartilharam a encenação receberem, eles próprios, igual benefício.
Rastros da ilegalidade
Numa unidade federativa em que requerimentos de cidadãos e mesmo servidores estaduais levam meses, e às vezes anos para receber uma assinatura de Secretário, a trajetória do reajuste de Gustavo é atípica e cheira mal, destacando-se entre os feitos que caracterizam o governo Robinson Faria como o das “galinhas mineiras”, aquelas que, segundo o ex-deputado Manoel de Medeiros Brito, ex-secretário estadual de Justiça e Cidadania, “só ciscam para dentro de seus quintais”, em detrimento do interesse geral.
Levou apenas dois dias na área em que recebeu foros de decisão.
...secretários, como Eduardo Nobre, arranhou a imagem profissional dele...
Tudo começou com uma consulta à assessoria jurídica da secretaria de Administração, que Gustavo ainda acumulava com a de Planejamento. Dado o “start” às 8h44m12s de 11 de março, o processo chegou ao gabinete do secretário às 8h58m47s, seguiu para o protocolo às 11h49s14s e dali seguiu para o Sub-Gabinete Civil do governo do Estado, onde desembarcou às 12h42m34s.
Tatiana deixou passar?
Neste estágio, observa-se que o processo não foi encaminhado à titular da Casa Civil, advogada Tatiana Mendes Cunha, que ordinariamente não deixa nada escapar a seu controle na pasta. Há poucas semanas, por exemplo, ela afastou de seu estafe um auxiliar porque chegou à conclusão de que ele beneficiava a primeira-dama, advogada Julianne Faria, secretária estadual do Trabalho, Habitação e Promoção Social. Tatiana é um dos quatro servidores enquadrados na situação de Gustavo e potenciais candidatos a pedir o benefício dos 50% que este garimpou para si. Como se sabe desde a semana passada, trata-se do pagamento de duplo salário.
O que o Secretário de Planejamento pediu é que o governo potiguar lhe pague salário integral, assim como a outros servidores de outros órgãos colocados à disposição do executivo estadual. Pela legislação vigente, quando optam pelo recebimento integram dos salários dos órgãos de origem esses servidores só podem receber do Estado 50% do que este pagaria por salário integral.
No time dos principais potenciais interessados neste aumento estão os secretários da Saúde, médico Ricardo Lagreca; de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Maírton França; de Esportes, vereador George Câmara (PCdb), da Agricultura, Haroldo Abuana, e a própria Tatiana.
Pois bem, a despeito de toda esta sua vinculação com a causa e de não deixar passar nada sob seus olhos sem interferir no processo, a consulta de Gustavo se contentou na Casa Civil com o despacho de um auxiliar da titular da pasta, voltando à secretaria de Administração e passando desta para a de Planejamento e Finanças, sempre em questão de minutos. Quem a conhece estranha que tenham passado a perna em Tatiana.
Rasgando o diploma
Eivado assim de peculiaridades a favor do impetrante, o processo desembarcou na mesa do Consultor Geral do Estado, professor Eduardo Nobre, às 12h12m11s de 26 de março, e em seguida foi e voltou em poucos minutos ao protocolo, para retornar com a mesma rapidez e, depois de ziguezaguear entre estas duas instâncias da pasta, deixou-a às  16h50m23s devidamente eivada pelo parecer que viabilizou o reajuste.
...e com uma inédita omissão de Tatiana, outra potencial beneficiária.
Reproduzindo comentários de operadores do direito que também se debruçaram sobre o processo, que é público, os técnicos do Tribunal de Contas acham que Nobre, até então sinônimo, também, de reputação ilibada, rasgou seu diploma com esta assinatura, independentemente de enquadrar-se, aos olhos de muitos conhecedores do caso, como seqüenciadores de Gustavo no pedido de resgate dos 50% dos vencimentos de seus cargos.
O parecer de Nobre é, exatamente, aquele em que o defensor do respeito ao Direito no âmbito do governo, responsabilizando-se pelo saudável aconselhamento ao Governador, diz que se uma lei parece inconstitucional deve ser descumprida sem a necessidade de se promover sua revogação.
Sub-procurador geral da República aposentado, Nobre é também um potencial candidato ao reajuste porque recebe 50% do que ele e alguns operadores do direito abrigados à sombra do executivo potiguar batizaram como subsídio, atribuindo a seus salários a mesma denominação que ancestralmente era restrita à dos deputados estaduais.
Pernoitando na área da Consultoria Geral, no dia 7 de abril o processo desembarcou logo cedinho sobre a mesa do Secretário de Administração. Num Estado em que as repartições públicas jamais – escreva-se isto em letras graúdas: JAMAIS – começam a trabalhar antes das 8 horas, o processo foi protocolado ali às 07h40m06s, subindo para a mesa de Gustavo às 08h57m45s, passando para um órgão da pasta chamado Copag, onde aportou às 09h23m17s, e retornou ao gabinete do titular para ser positivado no direito potiguar às 11h16m14s.
Cuidadosamente, os autores deste roteiro cinematográfico excluíram do time de examinadores compulsórios da matéria a Procuradoria Geral do Estado. Da mesma forma, não se tem notícia de sua apreciação pela Controladoria Geral do Estado, cujo titular, advogado Ricardo George Furtado de Mendonça e Menezes, não tem sido mencionado como ligado a esta saga de honestidade.
E do governador Robinson Faria, nessa enrolada toda, necas de pitibiriba, como diria o legendário jornalista Luiz Maria Alves.  
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(Em 150615). 


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