Julianne viu como nova
intromissão de Tatiana em seu espaço a reunião que a Chefe da Casa Civil
promoveu com dirigentes de Casas de Estudantes exatamente quando sua pasta, a
Secretaria do Trabalho e Assistência Social, cuidava de melhorar as relações
entre o governo e as instituições em crise. Então Robinson impediu que Tatiana
promovesse nova reunião com os mesmos interlocutores. Ninguém sabe, porém, como
terminará este choque.
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Incomodada com a invasão de sua área, Julianne conseguiu que Robinson... |
Uma audiência pública que a
Assembléia Legislativa promoveu nesta sexta-feira, 19, anteontem, para conhecer
a crise que o governo do Estado fez abater-se sobre as casas de estudantes do
Rio Grande do Norte ensejou a descoberta, por muitos presentes, de uma crise
que se vem inflando há semanas entre duas as mais importantes mulheres que
assessoram o governador Robinson Faria, as advogadas Julianne, sua esposa, e
Tatiana Mendes Cunha, sua amiga, respectivamente secretárias de Trabalho,
Habitação e Assistência Social e chefe da Casa Civil.
Apontada como pivô de algumas
crises políticas que eclodiram precocemente na gestão do governador Robinson
Faria, Tatiana voltou há algumas semanas a entrar em choque ainda surdo com a
primeira dama, compartilhando com esta uma situação que instalou Robinson em
verdadeira sinuca de bico. Um recuo que ela protagonizou quarta-feira passada
deu a entender que Julianne venceu este “round” e pode levar Tatiana a deixar
o governo.
Encontro desmarcado
Citando fontes do Centro
Administrativo e especificamente da Governadoria, onde despacham Robinson e
Tatiana, participantes da audiência parlamentar disseram que Julianne não
gostou nada de ver a chefe da Casa Civil convocar para uma reunião nesse prédio
pessoas que deveriam ter a secretaria de Estado do Trabalho, Habitação e da
Assistência Social (Sethas) como seu interlocutor no executivo potiguar.
Mexeu os pauzinhos e conseguiu
que, tão silenciosamente quanto possível, Tatiana começasse a desfazer o que
havia começado. Em decorrência, já não foi realizada na última quarta-feira,
17, uma segunda reunião que Tatiana havia convocado com os mesmos
interlocutores. Segundo os depoentes, o cancelamento do novo encontro não
eliminou, porém, o “affaire” que incompatibiliza as duas.
O fato de a audiência parlamentar
sobre as casas de estudantes ter sido solicitada à Assembléia Legislativa e
presidida pela deputada estadual Cristiane Dantas (PCdoB) reforçou a impressão
de que Robinson resolveu afastar Tatiana de um tema que só poderia deixar de
ser tratado pela Sethas se Julianne assim pretendesse.
Com uma mão o Governador afastou
Tatiana da questão, volatizando o segundo encontro que ela quis presidir com os
educandos. Como parte da contação da história oficial, Julianne nem participou
desse evento, de sorte que ali, pelo menos, ninguém lhe perguntaria sobre o
quanto a incomodou a invasão de sua área por Tatiana.
Com a outra mão, recorrendo a
Cristiane, esposa do vice-governador Fábio Dantas, ele teria feito com que o
cancelamento da reunião na Casa Civil não chamasse atenção. De fato, o
noticiário sobre o que houve na Assembléia Legislativa ajudou a fazer com que
ninguém na mídia cobrasse a realização do encontro marcado por Tatiana. Detalhe que proclama: embora houvesse se
considerado responsável pelo tema no âmbito do executivo, Tatiana nem
participou da audiência presidida por Cristiane.
Pagar à Cosern
Conforme relato ouvido na
Assembléia Legislativa, o início do deslize teria sido caracterizado pela
reunião que a Chefe da Civil promoveu em seu gabinete e por sua única
iniciativa, com dirigentes das casas de estudantes, entidades de direito privado
que precisam da ajuda do Governo para sobreviver.
A reunião foi motivada pela
divulgação – feita em primeira mão, aliás, pelo Blog de Roberto Guedes –, dias antes, da informação de que a
Companhia Energética (Cosern) havia cortado o fornecimento a essas
instituições, numa tacada só, porque o governo potiguar – e especificamente a
Sethas – não vinha pagando a conta de luz de cada uma Casa de Estudante.
Cotovelada
Última a saber desse evento,
Julianne se queixou a Robinson, mostrando a intromissão em sua área. À primeira
hora, aliás, a reclamação de Julianne chegou a ser interpretada na Governadoria
como queima em fogo de vaidades. E esta avaliação poderia prosperar se, como sugeriu
alguém na Governadoria, o encontro entre Tatiana e os estudantes não houvesse
atropelado uma ofensiva que a titular a Sethas já havia iniciado em sua pasta
com o objetivo de assegurar o resgate do apoio do Estado às instituições que
abrigam os educandos, sediadas em Natal e em algumas cidades-pólos de regiões
potiguares.
...afastasse de sua área Tatiana, que queria "monitorar" suas ações e... |
Realizada na quarta-feira 3 do
corrente, a reunião mostrou claramente Tatiana assumindo a interlocução do
governo com os estudantes. Aos olhos de Julianne e seus auxiliares, Tatiana foi
vista aplicando dois golpes. Os menos sutis viram uma cotovelada na titular da
Sethas. Outros enxergaram um verdadeiro “canto de carroceria” na primeira dama,
que o encontro com os estudantes apresentou como hiposuficiente para conduzir
sua pasta, precisando mesmo que monitorem suas ações.
“Monitorar”
Informações veiculadas na mídia
potiguar com base em “press releases” distribuídos pela assessoria de
comunicação social do governo do Estado mostraram, no estilo dos gestores, que
“a secretária chefe da Casa Civil, Tatiana Mendes Cunha, se reuniu na manhã
desta quarta-feira (3) com representantes de diversas entidades filantrópicas,
com o objetivo de orientá-los sobre o que precisa ser feito para regularizar as
doações do Governo do Estado, que se encontram sem suporte legal”.
Na ocasião, ainda de acordo com
as fontes oficiais, Tatiana disse que “o governo do Estado reconhece a
importância do trabalho que as instituições realizam para a sociedade. É
evidente que temos interesse em manter a parceria do Governo com as entidades
que os senhores representam, mas precisamos fazer isso de forma legal”.
No caso da energia, a propósito a
Chefe da Casa Civil disse o que a Sethas já vinha propalando a respeito.
Tatiana enfatizou que as instituições deverão assumir a titularidade de suas
contas de energia junto à Cosern e providenciar a documentação para
possibilitar a celebração de convênios com a Sethas, “já que o Gabinete Civil
não tem competência institucional para tanto”. Por fim, Tatiana convocou nova
reunião para o dia 17, a última quarta-feira, às 11h, em seu gabinete, e se
comprometeu “a monitorar, com as instituições, e formalização dos convênios
junto à Sethas”. Foi este o desdobramento prático do primeiro encontro que
Julianne conseguiu volatizar ao pressionar o marido.
Tomar o lugar
Ao mostrar ao marido o que lhe
pareceu uma incorreção de Tatiana, Julianne chegou a juntar notícias que a
reunião com os líderes das casas dos estudantes tinha espalhado, de forma
monorientada e a mostrar que uma outra bajulação agravou ainda mais o problema
ao anular completamente a Sethas como o único agente do governo habilitado a
manter o diálogo com as casas dos estudantes.
Nesse pacote destacou-se algo que
um blog considerado porta-voz extra-oficial do Gabinete Civil foi até muito
mais longe do que a própria Tatiana gostaria de ir para esvaziar a Sethas e a
titular desta. Sob o título “Restabelecimento da energia das Casas do Estudante
de Natal depende do Gabinete Civil do Governo do Estado”, ele divulgou uma
informação que vale como atestado de incapacidade de Julianne e sua pasta:
“É de responsabilidade do Gabinete Civil
do Governo do Estado do Rio Grande do Norte, e não da Secretaria de Assistência
Social, o pagamento da conta de energia elétrica das Casas do Estudante de Natal,
que ainda se encontra sem o serviço restabelecido”, publicou o blog oficioso.
Irresponsável
Pelo que se soube na audiência pública
de anteontem, na sede da Sethas, situada a poucas centenas de metros da Casa
Civil, esta notícia explodiu como verdadeira bomba de efeito moral e não apenas
por mentir sobre a quem cabe a responsabilidade legal e funcional no
relacionamento entre o governo e as casas dos estudantes. Pareceu que a Casa Civil diagnosticou a
Sethas como irresponsável, tipo inimputável, feito índio ou pessoa de idade
aquém dos dezoito anos.
Aos olhos do estafe da Sethas, Tatiana
sugeriu mesmo que Julianne não pode cuidar pessoalmente de situações
conflituosas, carecendo, portanto, de tutoria, de ser “monitorada”,
necessitando de um socorro que não pediu à Chefe da Casa Civil.
Para piorar o quadro, fontes da Sethas
garantem que na tarde do último dia 3, enquanto Tatiana se reunia com os
estudantes, Julianne e assessores mais próximos cuidavam exatamente da situação
das casas destes.
A esposa do Governador e os auxiliares
mais próximos a ela queriam então o mesmo que Tatiana discursava em lugar de
Julianne - viabilizar o fornecimento do que se fizesse necessário às casas de
estudantes. E agiam discretamente, sem nem de longe pensarem que naquela hora
alguém procurava, equivocada ou intencionalmente, mostrar-se como pajem de
Julianne ou poupá-la, à sua revelia, de situações que exigem habilidade
política.
Qualquer que fosse a motivação
pareceu-lhes descabida porque, ponderadas as poucas respostas que o governo do
marido deu no primeiro semestre de sua gestão às questões que elegeu como
prioritárias, como saúde e segurança, a atuação de Julianne Faria se
transformou na verdadeira face positiva do executivo. Pelo que se ouviu na
Assembléia Legislativa, é Julianne quem tem apresentado uma imagem simpática do
governo de Robinson, inclusive quando o faz acompanhá-la em situações simples,
como visitas a clubes de mães, sindicatos e outras instituições assistidas pela
Sethas.
Boa
vontade
Um dos principais colaboradores que
Julianne havia mobilizado com o objetivo de solucionar a crise em que o
executivo aprisionou as casas dos estudantes foi um advogado, para destrinchar
do ponto de vista legal, aos olhos de educandos, leigos em direito, a
dificuldade que se impõe entre a demanda destes e a boa vontade com que o
governo quer resolver os problemas que afetam as casas que ocupam.
Como disse um funcionário da pasta
citado em depoimento na audiência parlamentar, a pressa com que Tatiana entrou
no campo da Sethas escondeu a parte da boa vontade governamental em relação aos
estudantes que competia única e intransferivelmente a Julianne.
De fato, como disseram participantes da
audiência, as casas dos estudantes precisam se regularizar como entidades de
utilidade pública, medida que lhes foi exposta pela titular da Sethas há muito
tempo e cuja concretização passa, necessariamente, pelo apoio da Assembléia
Legislativa. Sem preencher esta condição, nenhuma associação pode se conveniar
com o executivo.
Especificamente em relação à Casa do
Estudante do Rio Grande do Norte, o maior estabelecimento do gênero, situado
nas encostas entre a Cidade Alta e o rio Potengí, no centro velho de Natal, é
necessário efetivar o cumprimento, pela instituição, de um “Termo de Ajustamento
de Conduta”, um “TAC”, que celebrou com a Sethas, há dois anos, e nunca
procurou transformar em ação concreta.
“Se a Casa do Estudante claudicou,
ninguém pode dizer que a Sethas ou Julianne é incapaz de resolver o problema”,
diz um técnico presente à audiência. Citando assessores de Julianne, ele diz
que o descumprimento do Tac impediu o Estado de bancar a reforma necessária à
sede da Casa do Estudante do Rio Grande do Norte, orçada em quase trezentos mil
reais.
Reincidência
À parte a demonstração concreta de que
Julianne cuidava do assunto na mesma hora em que a Casa Civil procurava se
hipertrofiar em detrimento da Sethas, o que mais se destaca no episódio é uma
reincidência de algo incômodo que já apensou muitos problemas à relação entre
Robinson e sua esposa, por coincidência a face mais simpática da atual gestão.
Há tempos Julianne vinha reclamando
porque em várias ocasiões Tatiana a desconsiderou. Há menos de dois meses, um
gesto catalogado como desconsideração à primeira dama chegou a provocar uma
crise na Casa Civil, afastando da pasta um dos principais auxiliares de Tatiana
porque estava obedecendo menos a ela do que à primeira dama.
Tão logo Tatiana exonerou o funcionário
de cargo de segundo escalão, Julianne transformou a queda em elevação. Robinson
nomeou o demitido como presidente de uma estatal que tende a assumir papel
relevante na ação financeira e patrimonial do governo.
...já respondia por crises como a que levou José Dias para a oposição. |
Desagregadora
Um pouco antes desse episódio, a Chefe
da Casa Civil entrou em choque com o deputado estadual Fernando Mineiro (PT),
líder da bancada situacionista na Assembléia Legislativa, e em meses ainda mais
recuados, no início mesmo da gestão de Robinson, ela se indispôs
terminantemente com o deputado José Dias (PSD), até então o político mais
ligado ao Governador e um dos grandes responsáveis por sua candidatura
vitoriosa. Em decorrência, José Dias rompeu com Robinson, sem contudo se
desfiliar do partido e também sem passar a fustigar o executivo através de sua
atuação no parlamento.
O que mais tem sido apontado no Centro
Administrativo e foi mencionado na reunião parlamentar como demonstração de que
os conhecimentos de direito que projetaram sua reputação não bastam para que
Tatiana conduza os negócios políticos do governo é a rapidez com que ela passou
da afinidade absoluta para desgaste irremediável em alguns relacionamentos com
pessoas próximas a Robinson.
Crise
com Fábio
Uma das principais vítimas da ação
desagregadora imputada a Tatiana por outros colaboradores de Robinson é o
Vice-governador. Há meses Fábio Dantas evita ao máximo compartilhar com Tatiana
momentos, informações e ações que ainda lhe são confiadas pelo Governador, mas
não foi coincidência o fato de a audiência de sexta-feira haver sido toda
esquematizada por sua esposa, numa operação que pode ter contribuído para o
resgate das boas relações políticas entre os casais Dantas e Faria. Diz-se na
área que Julianne advogada a restauração da confiança que seu marido depositava
no Vice-governador e, por coincidência ou não, se volatizou muito desde que
Tatiana assumiu a coordenação política da gestão de Robinson.
Pelo que dizem no Centro Administrativo,
foi enorme a corrosão que a amizade entre Tatiana e Fábio Dantas experimentou
desde a posse da equipe. Em dezembro do
ano passado, entre a eleição e a posse de Robinson e seu estafe, Fábio Dantas e
Tatiana eram “unha e carne”. Esta, aliás, era também a vinculação que Tatiana
manteve com José Dias até o parlamentar descobrir-se atingindo pelas
costas.
Pedindo
a cabeça
Segundo críticos da Chefe da Casa Civil,
em todas as crises que ela provocou salientou-se o fato de utilizar a
influência que exerce junto a Robinson para, em conversas a dois,
contra-indicar o que amigos e correligionários do Governador sugeriam ou
reivindicavam. Alguns acham que a primeira dama influencia menos o marido do
que Tatiana – algo que ainda não firmou jurisprudência.
Fábio (D) foi lembrado para suceder a Tatiana na chefia da Casa Civil. |
De todas essas e outras crises
atribuídas a Tatiana, a que mais doeu no governo foi justamente a que primeiro
a opôs frontalmente a Julianne. Achando um absurdo ter que pedir a auxiliares
de Tatiana que fizessem o que estava vinha lhe negando, Julianne chegou a pedir ao
marido a exoneração da Chefe da Casa Civil, numa conversa muito difícil para o
casal.
Para piorar a situação de Tatiana durante
o diálogo do primeiro casal potiguar, na hora foram lembrados alguns percalços
que o executivo cometeu no campo jurídico e ficou no ar a sensação de que
enquanto se mete nas áreas de outrem a Chefe da Casa Civil não poupa Robinson de
atitudes repreensíveis, como levar a secretária de Segurança, delegada Kalina
Leite, assinar a portaria em que foi promovida como delegada de polícia.
Nesta conversa, Robinson teria
concordado quanto ao custo que inabilidades políticas debitadas na conta de
Tatiana haviam imposto a seu governo. No entanto, refletiu sobre o isolamento a
que sua gestão se vem condenando, com a conseqüente falta de quadros para
aprimorar seu estafe. E ponderou que precisa manter Tatiana no posto por mais
algum tempo, porque não teria agora quem colocar em seu lugar.
Vice-governador
é solução
O único nome que teria ocorrido a
Julianne e a Robinson nessa conversa, para a sucessão de Tatiana, foi
justamente o de Fábio Dantas. Mas Robinson observou que o deputado federal
Fábio Faria, seu primogênito e liderado no PSD, não aceitaria jamais entregar a
interlocução política do governo ao Vice-governador, com quem colide há tempos
em função de interesses conflitantes em municípios do agreste.
Ciente da falta de nomes qualificados,
Julianne teria concedido algum prazo ao marido. Pelos depoimentos, Robinson
teve até este dia 17 para resolver o “imbróglio”. Por enquanto, sabe-se apenas
que a segunda reunião entre Tatiana e os estudantes não foi realizada. Quanto à
permanência dela no mesmo time em que Julianne não deseja vê-la, é outra
história a ser conferida nos próximos capítulos.
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Nenhuma novidade para quem conhece a Chefe da Casa Civil ou já trabalhou com ela. Muita zoada, pouca ação, longe de notável saber jurídico e um ego infladíssimo. Fico surpreso quando vejo essa mulher no poder, sem nenhuma qualificação pra isso. Nem articuladora, política e agregadora é. Muito ao contrário, como se viu. O governador já devia ter exonerado há tempos..
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