domingo, 21 de junho de 2015

Tribuna do Norte homenageia Agnelo: Amor à vida e ao jornalismo

“Sou um milagre da ciência. Hoje tenho apenas metade de mim. A outra metade os médicos já retiraram. Mas fiz um pacto com o Senhor Deus. Mesmo querendo ficar mais um pouco, apreciar suas belezas, curtir suas virtudes, serei o último a sair e a apagar a luz”.
Era assim, de forma bem humorada, que o jornalista Agnelo Alves gostava de celebrar a maior de todas as suas paixões: a vida. “Eu amo viver” foi a frase escolhida por ele para realçar o perfil de sua conta no WhatsApp, aberta no dia 18 de junho de 2014, provavelmente por algum assessor, uma vez que ele, mesmo tendo acesso às mais modernas tecnologias da comunicação, em casa e no trabalho, ainda preferia escrever na velha máquina de datilografia que adorna seu apartamento, na praia de Areia Preta.
Nascido em Ceará-Mirim no dia 16 de julho de 1932, ano em que foi instituído o voto feminino, Agnelo cresceu respirando política. O pai era prefeito de Angicos quando ele nasceu; o irmão Aluízio Alves foi deputado constituinte em 1946 e fez carreira política no Rio Grande do Norte, sendo eleito governador em 1960. Agnelo seguiu os passos do irmão. Foi prefeito de Natal, cassado pela ditadura militar, elegeu-se duas vezes prefeito de Parnamirim, suplente de Senador e por duas legislaturas foi uma das vozes atuantes na Assembleia Legislativa do RN.
De saúde frágil, raquítico, mas com uma inteligência privilegiada, o menino Agnelo foi obrigado a abandonar os estudos no Colégio Marista. E de uma forma dolorosa para qualquer adolescente. Numa entrevista para a revista Palumbo, ele contou como foi: “Logo no primeiro ano de Marista fui acometido de tuberculose. Fiquei nove anos afastado de qualquer aglomeração. Não podia estudar em nenhum colégio. Naquela época, a tuberculose era uma sentença de morte. Mas eu sobrevivi”.
Passou quase dois anos respirando os ares de montanha de Belo Horizonte, para onde foi enviado a pedido do médico que o tratava. Em 1955, aos 23 anos de idade, conheceu a estagiária de serviço social, Celina Aparecida Nunes, com quem se casou numa cerimônia simples na Capela Santa Mônica, no Leblon, Rio de Janeiro,cidade onde nasceram dois de seus três filhos – Agnelo Filho e Carlos Eduardo.
Foi repórter político na Tribuna da Imprensa, trabalhou no Jornal do Brasil e no Diário Carioca. Depois de anos morando numa “república” no Rio de Janeiro, foi indicado por José Aparecido de Oliveira para atuar na assessoria de imprensa do presidente Jânio Quadros, juntamente com um amigo da pauta política que também estava de mudança para Brasília: o jornalista Carlos Castelo Branco.
De volta a Natal, engajou-se nas lutas políticas e no dia a dia do jornal – a Tribuna do Norte -, fundado pelo irmão Aluízio Alves, a exemplo do que fizera Carlos Lacerda no Rio de Janeiro, para fortalecer a luta democrática. Sócio da empresa, Agnelo sempre disse que no jornalismo nunca almejou ser mais do que “um repórter”. Tanto que, durante anos, o título de uma das colunas semanais que assinou na TN foi “Agnelo Alves, o repórter”.
Detentor de uma linguagem clara, estilo acurado e irreverente, Agnelo exercitou no jornalismo a arte das entrevistas, da análise política e do texto curto. Criou e imortalizou, durante as décadas de 1970 e 1980, a figura do “Neco”, personagem que assinava as “Cartas ao Humano”, textos de crítica de costumes, política e social com os quais exponha suas análises, ideais e também desnudava a hipocrisia e o autoritarismo da ditadura militar e dos governos estaduais nomeados por ela, driblando a censura e a truculência do regime de exceção vigente no Brasil.
Ao ser entrevistado para a edição especial do 65º aniversário de fundação da Tribuna do Norte, em março deste ano, Agnelo lembrou, emocionado, a motivação inicial para o jornalismo político. “Carlos Lacerda tinha a Tribuna de Imprensa no Rio de Janeiro e convidou Aluízio Alves para ser redator-chefe. Certo dia ele perguntou a Aluízio por que nós não fundávamos um jornal no Rio Grande do Norte. Fizemos uma sondagem junto a algumas pessoas. Consultamos Aristófanes Fernandes e envolvemos a UDN. Aí entraram, além de Aristófanes, Dinarte Mariz, José Xavier da Cunha, Jocelin Villar e vários outros que não quiseram aparecer, mas ajudaram.” E acrescentou: “Se fosse fazer um artigo sobre a Tribuna do Norte eu diria: A Tribuna e eu fazemos hoje 65 anos de vida, de luta, de resistência. Valeu a pena”.
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Morre em São Paulo o deputado estadual Agnelo Alves


agnelo
Faleceu agora há pouco, no hospital Sírio Libanês, em São Paulo, o deputado estadual, ex-senador e ex-prefeito de Natal e Parnamirim, Agnelo Alves. Durante a madrugada ele teve uma queda acentuada de pressão e piora no quadro de infecção respiratória do qual vinha se tratando há duas semanas. As defesas baixas, devido ao tratamento de quimioterapia contra um câncer no esôfago, também contribuíram para dificultar a recuperação. O corpo do deputado deverá se transportado para Natal ainda hoje.
Agnelo Alves nasceu em 16 de julho de 1932, no município de Ceará-Mirim, na Grande Natal, filho de Manuel Alves Filho, prefeito de Angicos, e Maria Fernandes Alves. Aos 13 anos, enquanto estudava no Colégio Marista, em Natal, já era ligado à política, frequentando a sede da UDN, partido contrário ao governo de Getúlio Vargas.
Em 1946, com tuberculose, foi morar no Rio de Janeiro, onde vivia o seu irmão Aluízio Alves. Quatro anos depois, foi um dos fundadores da TRIBUNA DO NORTE, onde assinou as colunas “Carta ao Humano” e, depois, “Espaço Livre”. De volta ao Rio, em 1954, trabalhou como repórter nos jornais “Tribuna da Imprensa”, “Jornal do Brasil”, “O Jornal”, “Diário Carioca” e “Diário de Pernambuco”. Em 1955 assumiu a chefia de gabinete da direção do Serviço Nacional de Tuberculose, na época comandado pelo médico Reginaldo Fernandes.
No começo da década de 1960, voltou a Natal para trabalhar na campanha vitoriosa de Aluízio Alves ao Governo do Estado, assumindo, em seguida, a chefia da Casa Civil. Entre 1964 e 1965, Agnelo atuou como presidente da Fundação de Habitação Popular (FUNDHAP) e implantou o projeto Cidade da Esperança, a primeira experiência em habitação popular do Brasil.
Em 1966, foi eleito prefeito de Natal, permanecendo no cargo até 1969, quando foi cassado politicamente, preso e torturado psicologicamente pelos militares durante a Ditadura Militar. Durante sua gestão, estendeu o serviço de iluminação pública para a Zona Norte, trabalhou na pavimentação e arborização de rus e deu início a construção do estádio Machadão.
Agnelo só ganhou a anistia 12 anos depois, durante o governo de João Baptista Figueiredo. No início da década de 1980, participou ativamente, junto com Aluízio Alves, das Diretas Já e, em seguida, da campanha de Tancredo Neves à presidência.
Entre 1985 e 1990 trabalhou, à convite do presidente José Sarney, no Banco do Nordeste, onde assumiu a diretoria de crédito geral e chegou a ser presidente do banco. Sua vida política no Rio Grande do Norte só foi retomada em 1996, quando concorreu à prefeitura de Parnamirim, sendo derrotado. Três anos depois, ele assumiu a vaga no Senado Federal deixada por Fernando Bezerra, empossado como ministro da Integração Nacional.
Em 2000 foi novamente candidato a prefeito de Parnamirim, saindo vitorioso nas eleições com 72,86% dos votos. Ele foi reeleito e ficou no cargo até 2008, saindo com 92% de popularidade e elegendo o seu sucessor, Maurício Marques. No ano de 2010, Agnelo foi eleito deputado estadual e anistiado moralmente pelo Governo Federal, recebendo o título durante a 42ª Caravana da Anistia, em Natal. Em 2014, ele foi reeleito deputado estadual.

Durante sua trajetória, ele escreveu dois livros “Crônicas de Outros Tempos e Circunstâncias” e “Parnamirim e Eu”. A experiência literária rendeu à Agnelo o título de imortal na Academia Norte-riograndense de Letras, ocupando, em 2012, a cadeira de número quatro, deixada pelo escritor Enélio Petrovich.

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