sexta-feira, 19 de junho de 2015

Secretário se concede “auxílio mudança” acima do permitido por lei

Pouquíssimas horas depois de o governador Robinson Faria mandar o secretário Gustavo Nogueira devolver ao erário o que havia recebido ilicitamente a título de salário, estoura na Governadoria a notícia de que o mesmo auxiliar havia turbinado ilegalmente uma ajuda de custo que recebeu para se mudar de Campina Grande para Natal.

Assim age a grande "galinha mineira" do governo Faria: ao arrepio 
da lei, Gustavo secretário pagou mais a Gustavo servidor. 
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ROBERTO GUEDES 
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O secretário estadual de Planejamento e Finanças, economista Gustavo Maurício Filgueiras Nogueira,
concedeu-se com o dinheiro do governo do Rio Grande do Norte uma gratificação acima do previsto em lei para custear as despesas de mudança de sua família de Campina Grande, na Paraíba, seu domicílio durante vários anos, para Natal, onde desembarcou em janeiro como titular da pasta potiguar da Administração.
A lei garantiria a Gustavo direito a receber catorze mil ou até até 21 mil reais para cobrir as despesas familiares, mas ele, como guardião do cofre do governo potiguar, resolveu receber 28,16 mil reais.
Por coincidência, embolsou valor proporcional ao que passou a embolsar como reajuste salarial depois que se concedeu esta vantagem num processo espúrio ao qual o governador Robinson Faria deu um “basta” nesta quinta-feira, 18, ontem.
Como o Blog de Roberto Guedes informou no início da noite passada, o chefe do executivo determinou que Gustavo providenciasse até à meia noite desta quinta-feira a devolução do que havia recebido indevidamente todo mês na conta de salário. Robinson chegou a esta determinação depois que o procurador geral do Estado, advogado Francisco Wilkie Rebouças, investigando o auto-reajuste de Gustavo, mostrou a Robinson que tudo fora feito ao arrepio da lei.
A propósito, o blog confirmou a informação de que funcionários da secretaria haviam providenciado a papelada necessária à realização do retorno do dinheiro aos cofres públicos, mas não confirmou se o depósito foi efetuado à risca, como queria Robinson.
Bomba no colo
Pagamento a mais foi descoberto horas depois de Wilkie
confirmar ilegalidade do reajuste salarial do colega.
Foi como verdadeira bomba de efeito retardado que o recebimento ilegal do valor a mais para a cobertura das despesas da mudança chegou ao conhecimento da Governadoria, no Centro Administrativo de Lagoa Nova, na zona sul de Natal, onde despacham Robinson e quase todos os secretários de seu governo.
Com DNA da pasta da Administração, onde parece que Gustavo não conquistou amizades, a bomba se alojou no colo de Robinson pouquíssimas horas depois de o chefe do executivo mandar o Secretário estornar o que havia auferido desde março como reajuste salarial que se concedeu ilegalmente.
A ajuda de custo para a mudança é um repasse que na forma da lei os órgãos governamentais promovem em benefício do servidor quando, para exercer determinada função ou realizar alguma tarefa, este precisa mudar de uma cidade para outra.
Sete mil a mais
Professor de uma universidade governamental em Campina Grande, na Paraíba, ao aceitar o convite de Robinson para vir assumir a pasta da Administração Gustavo passou a fazer jus ao benefício.
Ocorre, porém, que a legislação fixa limites que ele desconsiderou adredemente. Segundo fontes da secretaria de Administração, responsável pelo custeio da mudança da família, ele teria direito ao equivalente a até três vezes o seu salário. Na época, este somava 7.040 reais, e como o beneficiário se concedeu apenas dois meses o valor que embolsaria não passaria de 14.080 reais. Ele poderia chegar aos 21 mil reais se pedisse o equivalente a três meses.
Pelo salário novo
Pessoas que analisaram o processo não conseguiram entender como, na forma da lei vigente à época, março último, ele recebesse os 28.160 reais. A explicação lhes ocorreu exatamente nesta quinta-feira 18 quando souberam que Robinson Faria mandou Gustavo devolver ao erário o que havia recebido a mais a título de salário.
A única explicação produzida desde então é a de que ainda em março o Secretário calculou o benefício da mudança com base no salário que esperava passar a receber a partir do fim desse mês, com a adoção do parecer que o Governador terminou rejeitando.
Como funcionário de órgão independente do governo potiguar, ao passar a exercer cargo de confiança neste Gustavo deveria optar entre receber 100% dos vencimentos que os norte-rio-grandenses poderiam lhe pagar ou ficar embolsando o que recebe do seu antigo e ainda atual patrão.
Parecer suspeito
Adotando a segunda opção, do governo do Rio Grande do Norte ele só poderia passar a receber 50% do salário do cargo, valor equivalente à verba de representação que integra os proventos do seu posto.
Foi graças a um processo administrativo suspeitíssimo e vetorizado pela produção de um parecer em que a Consultoria Geral do Estado consideraria inconstitucional o dispositivo da lei estadual que veda o pagamento do equivalente ao salário propriamente dito aos servidores de fora, que ele se concedeu seu reajuste.
Robinson agirá na forma da lei ou mandará
"ajeitar" como na devolução do salãrio?
O certo, caso um parecer bem fundamentado esgrimisse esta inconstitucionalidade, não seria o Secretário deixar de respeitar a lei. Melhor faria se persuadisse o Governador a revogar o dispositivo inconstitucional com o concurso da Assembléia Legislativa ou da justiça.
Cobrar ao Governador
Vendo que o Governador se recusou a coonestar esta conduta, obrigando Gustavo a devolver o que recebeu graças à manobra do reajuste, servidores da secretaria de Administração, que ele acumula com a de Planejamento e Finanças, agora querem que Robinson também intervenha neste processo, forçando o ressarcimento do que o erário entregou sem razão ao titular da pasta. 
Funcionários da pasta gostariam também que Robinson encomendasse ao Procurador Geral uma investigação sobre a auto-concessão da ajuda de custo, para constatar a adoção de um padrão presente ao processo que reajustou ilicitamente os vencimentos de Gustavo. E pedem que aproveite o ensejo para fazer uma varredura geral, porque a seu ver há mais ilicitudes a descobrir.
Eles dizem ainda que, se não levar Gustavo às barras da justiça, o Governador deverá ser qualificado como conivente em relação a muita coisa errada, pois, capturando expressão já empregada na mídia para qualificar aproveitadores alojados no estafe do executivo potiguar, o titular de sua pasta é a mais emblemática “galinha mineira” do Rio Grande do Norte.
Segundo o folclore político potiguar há muito tempo decodificado pelo advogado e ex-deputado Manoel de Medeiros Brito, 87 anos, “galinha mineira” é a ave galiforme que só cisca para dentro de seu quintal, sem respeitar as necessidades do restante da natureza. Eles torcem para que desta vez o Governador cumpra com transparência a lei, diferentemente do que fez ao mandar Gustavo devolver o que recebeu a mais de salário. Neste caso, ele deu um "jeitinho" ao arrepio da lei.  
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(Em 150619).  
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