"Bira" está no Hospital do Coração. |
Decano dos jornalistas potiguares sofre em
decorrência de complicações pulmonares.
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ROBERTO GUEDES
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É altamente delicada a situação do
jornalista Raimundo Ubirajara de Macedo, de 95 anos, o decano da categoria
profissional no Rio Grande do Norte. Macaibense oriundo de Santana do Matos, ele
está internado desde a última segunda-feira, 22, na Unidade de Terapia
Intensiva (UTI) do Hospital do Coração, na zona sul de Natal, onde enfrenta
complicações pulmonares.
Uma das maiores unanimidades a favor nesta
unidade federativa, “Bira” presidiu durante anos o Sindicato dos Jornalistas e,
em seguida, criou e liderou um dos melhores movimentos culturais de Natal, o
Clube da Música Popular Brasileira (Clambom).
Há poucas semanas ele recebeu inúmeras
homenagens pelo transcurso de seu aniversário.
Um pouco antes, ele gravou depoimento
para o sexto volume da “Coleção Multimídia” da “Memória das Lutas Populares no
Rio Grande do Norte”, ensejando, segundo os produtores, um dos mais importantes
resgates da história política, sindical, cultural e musical vivenciada entre as
décadas de 50 e 60 do século passado.
Testemunha ocular e ativo militante e
participante de acontecimentos significativos da vida pública potiguar nos
últimos cinqüenta anos, dentro e fora da imprensa natalense, Ubirajara revelou no
depoimento episódios desconhecidos para as novas gerações, principalmente os
referentes à versão local da campanha “O Petróleo é Nosso”, à luta pelas reformas
de base e, principalmente, à campanha “De Pé no Chão Também de Aprende a Ler”,
criada pelo legendário prefeito Djalma Maranhão para combater o analfabetismo.
Autor de vários livros, notadamente “...E
lá fora falavam em liberdade”, no qual depõe sobre o que sofreu nas prisões
militares, na entrevista Bira Macedo também falou sobre o “Grupo dos Onze”, que
o político gaúcho Leonel Brizola idealizou e lançou para dar suporte ao
movimento nacionalista de esquerda no Brasil que foi sufocado pelo Golpe de
Estado de abril de 1964, quando tentava impedir o golpe militar que derrubou o
famoso presidente João Goulart da chefia do executivo nacional.
Filho de um humilde professor primário
que “lutou muito para sustentar e educar a família”, como testemunhou, Ubirajara
de Macedo nasceu em 1920 e nunca esqueceu sua primeira professora, a educadora
Maria Olimpia Ferreira, do Grupo Escolar “Auta de Souza”, que lhe ministrava aulas
de “História Natural” num sítio, em Uruassú, entre sua cidade e a de São
Gonçalo do Amarante. Também lembrou as atividade ao ar livre em Jundiaí,
durante duas a três horas, onde os alunos assistiam as aulas em contato com a
natureza e ouvindo música.
Menino, “Bira”, gostando de música, veio
para Natal estudar no Colégio Estadual do Atheneu Norte-rio-grandense, onde fez
o curso secundário, conheceu os melhores professores da cidade e fez amizades
com colegas e mestres que se destacariam, anos depois, na política, na cultura
e no sindicalismo potiguar.
“Naquele tempo, eu só não assistia as
aulas quando chovia muito em Natal, pois não podia me deslocar para a Cidade
Alta, por causa da lama e do aguaceiro”, recorda. Nessa época, prossegue, “não
existia ônibus, só bondes, e até a Ribeira. Como eu morava na ‘Limpa’, no
bairro de Santos Reis, não saía de casa nos dias de chuvas. Aí, meu pai ia
falar com o diretor do Atheneu e justificava as minhas faltas”, relembra.
Uma das melhores atuações na redação do famoso
matutino “Diário de Natal”, onde se destacou nos anos oitenta, recentemente
Ubirajara Macedo trouxe a público uma informação inédita a respeito do golpe
militar.
Pelo seu depoimento, a movimentação
começou na manhã de 1º de abril e o então governador Aluizio Alves já estava
refém dos novos donos do poder. “Eu fui a uma missa já programada. Quando
cheguei à igreja, encontrei Aluizio ao lado de Hélio Galvão e do almirante
Tertius Rebelo, que veio a ser o Prefeito de Natal. Então, Aluizio já estava
como uma espécie de refém”, conclui, falando também sobre a deposição de Djalma
Maranhão, prefeito de Natal, a repressão policial e os onze meses que passou na
cadeia do 16º Regimento de Infantaria (16º RI), no Tirol, juntamente com dezenas
de amigos, sindicalistas, intelectuais e estudantes que se destacaram no
movimento pelas “Reformas de Base”.
No mesmo depoimento “Bira” traça perfis
de personalidades da política, da cultura e da Igreja no Rio Grande do Norte,
como o cardeal Dom Eugênio Sales, o comendador Ulisses de Góis, os professores Luís
Ignácio Maranhão Filho, Hélio Vasconcelos e Moacir de Góis, o médico Vulpiano
Cavalcanti, o jornalista Luiz Maria Alves e o senador Kerginaldo Cavalcanti.
Também evoca o saudoso vice-prefeito Luiz Gonzaga dos Santos, destituído do
cargo pela força das armas, e outros líderes, como Luiz Gonzaga de Souza. E
homenageia colegas de sofrimentos, como o tipógrafo Moisés Grilo, que, “de
tanto apanhar, morreu louco”.
E naturalmente fala sobre os algozes.
Ele aponta um certo capitão Enio Lacerda como “o mais covarde e perverso
torturador” que conheceu na cadeia.
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