sexta-feira, 26 de junho de 2015

Ubirajara Macedo está na UTI

"Bira" está no Hospital do Coração.
Decano dos jornalistas potiguares sofre em decorrência de complicações pulmonares.
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ROBERTO GUEDES
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É altamente delicada a situação do jornalista Raimundo Ubirajara de Macedo, de 95 anos, o decano da categoria profissional no Rio Grande do Norte. Macaibense oriundo de Santana do Matos, ele está internado desde a última segunda-feira, 22, na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital do Coração, na zona sul de Natal, onde enfrenta complicações pulmonares.
Uma das maiores unanimidades a favor nesta unidade federativa, “Bira” presidiu durante anos o Sindicato dos Jornalistas e, em seguida, criou e liderou um dos melhores movimentos culturais de Natal, o Clube da Música Popular Brasileira (Clambom).
Há poucas semanas ele recebeu inúmeras homenagens pelo transcurso de seu aniversário.
Um pouco antes, ele gravou depoimento para o sexto volume da “Coleção Multimídia” da “Memória das Lutas Populares no Rio Grande do Norte”, ensejando, segundo os produtores, um dos mais importantes resgates da história política, sindical, cultural e musical vivenciada entre as décadas de 50 e 60 do século passado.
Testemunha ocular e ativo militante e participante de acontecimentos significativos da vida pública potiguar nos últimos cinqüenta anos, dentro e fora da imprensa natalense, Ubirajara revelou no depoimento episódios desconhecidos para as novas gerações, principalmente os referentes à versão local da campanha “O Petróleo é Nosso”, à luta pelas reformas de base e, principalmente, à campanha “De Pé no Chão Também de Aprende a Ler”, criada pelo legendário prefeito Djalma Maranhão para combater o analfabetismo.
Autor de vários livros, notadamente “...E lá fora falavam em liberdade”, no qual depõe sobre o que sofreu nas prisões militares, na entrevista Bira Macedo também falou sobre o “Grupo dos Onze”, que o político gaúcho Leonel Brizola idealizou e lançou para dar suporte ao movimento nacionalista de esquerda no Brasil que foi sufocado pelo Golpe de Estado de abril de 1964, quando tentava impedir o golpe militar que derrubou o famoso presidente João Goulart da chefia do executivo nacional.
Filho de um humilde professor primário que “lutou muito para sustentar e educar a família”, como testemunhou, Ubirajara de Macedo nasceu em 1920 e nunca esqueceu sua primeira professora, a educadora Maria Olimpia Ferreira, do Grupo Escolar “Auta de Souza”, que lhe ministrava aulas de “História Natural” num sítio, em Uruassú, entre sua cidade e a de São Gonçalo do Amarante. Também lembrou as atividade ao ar livre em Jundiaí, durante duas a três horas, onde os alunos assistiam as aulas em contato com a natureza e ouvindo música.
Menino, “Bira”, gostando de música, veio para Natal estudar no Colégio Estadual do Atheneu Norte-rio-grandense, onde fez o curso secundário, conheceu os melhores professores da cidade e fez amizades com colegas e mestres que se destacariam, anos depois, na política, na cultura e no sindicalismo potiguar.
“Naquele tempo, eu só não assistia as aulas quando chovia muito em Natal, pois não podia me deslocar para a Cidade Alta, por causa da lama e do aguaceiro”, recorda. Nessa época, prossegue, “não existia ônibus, só bondes, e até a Ribeira. Como eu morava na ‘Limpa’, no bairro de Santos Reis, não saía de casa nos dias de chuvas. Aí, meu pai ia falar com o diretor do Atheneu e justificava as minhas faltas”, relembra.
Uma das melhores atuações na redação do famoso matutino “Diário de Natal”, onde se destacou nos anos oitenta, recentemente Ubirajara Macedo trouxe a público uma informação inédita a respeito do golpe militar.
Pelo seu depoimento, a movimentação começou na manhã de 1º de abril e o então governador Aluizio Alves já estava refém dos novos donos do poder. “Eu fui a uma missa já programada. Quando cheguei à igreja, encontrei Aluizio ao lado de Hélio Galvão e do almirante Tertius Rebelo, que veio a ser o Prefeito de Natal. Então, Aluizio já estava como uma espécie de refém”, conclui, falando também sobre a deposição de Djalma Maranhão, prefeito de Natal, a repressão policial e os onze meses que passou na cadeia do 16º Regimento de Infantaria (16º RI), no Tirol, juntamente com dezenas de amigos, sindicalistas, intelectuais e estudantes que se destacaram no movimento pelas “Reformas de Base”.
No mesmo depoimento “Bira” traça perfis de personalidades da política, da cultura e da Igreja no Rio Grande do Norte, como o cardeal Dom Eugênio Sales, o comendador Ulisses de Góis, os professores Luís Ignácio Maranhão Filho, Hélio Vasconcelos e Moacir de Góis, o médico Vulpiano Cavalcanti, o jornalista Luiz Maria Alves e o senador Kerginaldo Cavalcanti. Também evoca o saudoso vice-prefeito Luiz Gonzaga dos Santos, destituído do cargo pela força das armas, e outros líderes, como Luiz Gonzaga de Souza. E homenageia colegas de sofrimentos, como o tipógrafo Moisés Grilo, que, “de tanto apanhar, morreu louco”.
E naturalmente fala sobre os algozes. Ele aponta um certo capitão Enio Lacerda como “o mais covarde e perverso torturador” que conheceu na cadeia.
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(150626). 

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