Ao elencar
vários projetos para inserção atrasada no Programa de Investimentos em
Logística (PIL) da presidanta Dilma Rousseff, o Rio Grande do Norte não citou
um investidor, como quem pensa que basta dizer em que deseja gastar para que o
dinheiro apareça. Na realidade, o PIL está para investimentos estruturantes
assim como as leis Rouanett e Câmara Cascudo para empreendimentos culturais:
ele pode referendar empreendimentos, mas é imprescindível que o interessado por
cada um destes conquiste capitalistas para investirem neles. Atrair e mobilizar
investidores não é, ancestralmente, uma característica desta unidade
federativa.
Maquete do porto à esquerda do Potengí: quem quer investir nele? |
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ROBERTO
GUEDES
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Os norte-rio-grandenses viajaram tão
rapidamente da situação de não terem nda de seu incluído no Programa de
Investimentos em Logística (PIL) lançado há poucas semanas pela presidanta
Dilma Rousseff que em pleno vôo imaginam estarem prestes a desembarcar numa
grande bolsa de financiamentos a fundo perdido.
Como se vê na manchete desta
sexta-feira, 26, hoje, do matutino impresso “Tribuna do Norte”, o resultado
desta atitude é a determinação local de incluir no “pacote” a construção de
ferrovias, rodovias e dois portos que até bem recentemente não figuravam nem no
cardápio tradicional de reivindicações conterrâneas.
Já esgrimindo “projetos básicos” e
“estudos de viabilidade” de que ninguém tinha conhecimento até anteontem e que
têm data marcada para serem apresentados ao governo federal, 7 de julho
próximo, os proponentes falam em investimento global de 12,1 bilhões de reais e
não indicam sequer um grupo empresarial dotado de capital e de interesse em
investir nesses empreendimentos.
Cadê
o investidor?
A ofensiva conterrânea não parte do
princípio de que o PIL foi lançado por um governo federal desprovido de
dinheiro, que investiu muito em outros países, através do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), e não no território nacional, e que
deseja apenas juntar reivindicações localizadas com capitalistas que nem
conhece. Na verdade, o PIL é apenas uma versão das leis "Rouanet" e
"Câmara Cascudo", que permitem a quem quiser investir neste ou naquele
projeto cultural, sem que o poder público coloque de seu um níquel nesses
empreendimentos.
Procurando sugerir que deseja
"privatizar" quatro projetos como se os tivesse em sua carteira de
investimentos e carecesse de parceiros para eventual injeção de capitais, quem
aparece expondo o pacote é o secretário estadual de Desenvolvimento, Indústria
e Comércio, economista Paulo Roberto Cordeiro, que recentemente foi desautorizado
em questão importante para o Rio Grande do Norte pelo governador Robinson
Faria, criticado por não cuidar de oferecer ao Estado um núcleo pensante ou
planejador.
Cordeiro, como se viu, quis inibir
investimentos na geração de energia não poluente no território potiguar, e se
Robinson não viesse apagar o incêndio o Secretário teria prestado inestimável
serviço ao desinvestimento nesta unidade federativa.
Sem apresentar o cartão de visitas de
nenhum capitalizado que se candidate a investir aqui, o cardápio de projetos
potiguares só elencam idéias arrumadas às pressas ou que vinham mofando há
tempos em espaços obscuros que nem a naftalina cheiram. E inclui
empreendimentos que até agora correspondiam a responsabilidade de órgãos
governamentais que os negligenciaram.
Destaca-se, por exemplo, na oferta, que
parece estar sendo elaborada a toque de caixa a duplicação do trecho potiguar
da rodovia BR 304, que o Rio Grande do Norte nunca soube advogar, porquanto só
a apresenta como interesse daqui, a despeito de dispor da chance de
compartilhar o DNA da proposta com o governo do vizinho Ceará, Estado de muito
maior força política do que este. Aos norte-rio-grandenses, vários ministros
dos Transportes, diretores do Departamento Nacional de Infra-estrutura de
Transportes (Dnit), presidentes da República e candidatos a tal já prometeram esta
duplicação, que esbarrou, sempre, na falta de dinheiro da União para este tipo
de empreendimento.
Às
pressas
Associando ainda a construção de um
porto na margem esquerda do estuário Potengí à de um outro em alto-mar, próximo
à cidade de Porto do Mangue, no litoral salineiro pontificado por Macau e Areia
Branca, o pacote potiguar passou a prever investimentos na criação de uma malha
ferroviária voltada para a exportação de insumos, de frutas a ferro.
Lastimavelmente, nada disto estava
preparado como prioridades do Rio Grande do Norte, unidade federativa cujo
governo há muito tempo colocou planejamento abaixo do seu tapete, e não
constava também nos escalões da União que precisassem eleger projetos quando a
administração federal precisasse lançar um factóide qualquer para sugerir que acordou
para a crise econômica gerada por suas incúria e inoperância.
Os coestaduanos precisam acreditar que
algo com o propósito de alavancar o desenvolvimento local será finalmente feito
e torcer, no caso, para que algum desses projetos cheguem a bom termo. Contudo,
é indispensável salientar que nada será feito se esta unidade federativa não
tiver uma ótima carteira de potenciais candidatos a investidores em iniciativas
de interesse local. Do contrário, o Rio Grande do Norte estará somente fazendo
número na nova jogada federal.
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