Vem aí uma reedição do entendimento que associou os Alves a Tarcísio Maia
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ROBERTO GUEDES
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Jornalistas
vinculados ao matutino impresso “Tribuna do Norte” dizem que, nos próximos dias o periódico deverá focalizar simpaticamente alguns segmentos do governo Robinson Faria,
conforme orientação que seus editores teriam recebido do presidente da empresa
que o publica, o ex-deputado Henrique Eduardo Alves, presidente regional do
PMDB e desde o início de abril ministro do Turismo.
O começo do que
chamam de “operação água de flor de laranja em Robinson” foi a grande
entrevista do Governador que o periódico veiculou no último domingo, 10, “Dia
das Mães”.
A sucessão de reportagens
simpáticas seria o ponto alto de uma ofensiva de demonstração de que o
controlador da editora passou a reconhecer o apoio que Robinson emprestou à sua
nomeação. Estaria em curso o vestibular de uma reedição da “Paz Pública”,
processo em que o então governador Tarcísio Maia, colocado no poder pelos
militares de plantão em 1975, cooptou o pai de Henrique Eduardo, o
jornalista Aluizio Alves, que, a despeito de estar então desprovido de seus
direitos políticos, devido a um ato de força, era de longe o maior líder
popular do Rio Grande do Norte. Em 1978, Aluizio, líder do PMDB impedido de subir a palanque, deu a Tarcísio uma grande vitória, a reeleição do saudoso senador Jessé Freire pela Arena, o partido dos governantes fardados.
Gratidão
Como este jornalista
informou muito antes de a presidanta Dilma Roussef confiar a pasta do Turismo a
Henrique Eduardo, uma das dificuldades enfrentadas pelo Palácio do Planalto era
a informação, previamente transmitida à casa, de que uma eventual nomeação dele
irritaria profundamente a Robinson. O “nihil obstat” do Governador foi
conseguido pelo ex-presidente Lula da Silva, que se empenhou pessoalmente pela
nomeação de Henrique Eduardo por considerá-lo necessário à rearticulação
política a partir da Presidência da República.
Mais do que
gratidão, entretanto, a simpatia que os meios de comunicação controlados pela
família de Henrique Eduardo ou, como no caso da InterTVCabugi, afiliada local
da Rede Globo de Televisão, contratualmente vinculadas aos interesses políticos
do Ministro, refletiria novo entendimento em gestação entre líderes potiguares.
Henrique e Robinson
estariam começando um “Pas de deux”, termo do ballet clássico que, em francês
significa “Passo de dois”. É o trecho do “ballet” dançado por um bailarino e
uma bailarina. O “Pas de deux” completo é chamado de “Grand Pas de deux”
ou “Grand Pas”, e é composto de um “entrée”,
um “adágio”, variação masculina, variação feminina e a “coda”.
Abrindo portas
O primeiro passo
para que a população potiguar tomasse conhecimento da reconciliação, a
princípio batizada de apenas administrativa, como sempre acontece em situações
como esta, foi o agendamento da audiência que o Ministro concedeu ao Governador
e à bancada federal potiguar, esta semana, em Brasília. Vista por analistas
políticos como verdadeira ida de Robinson ao altar de Henrique Eduardo, o
encontro lembrou situações em que a inegável capacidade de articulação do
Ministro tem levado adversários a procurá-lo em busca de soluções que dependem
de outrem.
Isto ocorreu
sucessivamente às então governadoras Wilma de Faria e Rosalba Ciarlini, a cujas
gestões Henrique Eduardo apensou o PMDB sob críticas de exercitar um mero
fisiologismo ao qual não conseguiria escapar. Deputado em franca ascensão no
cenário político nacional, nessas ocasiões Henrique Eduardo abriu muito as
portas do poder em Brasília para governos estaduais que de outra forma não
teriam acesso a nada que dependesse da União.
Decorre dessa
importância e das reconciliações protagonizadas pelo atual Ministro o fato de
seu nome estar ligado a muitas realizações de Rosalba e Wilma e também do
saudoso governador Iberê Ferreira de Souza, um dos maiores amigos de Henrique
Eduardo, que chefiou o executivo entre os mandatos de uma e de outra.
Erros com o PT
O que teria levado
Robinson a reconhecer a necessidade de apensar seu governo ao espaço de
manobras do Ministro em Brasília teriam sido algumas conclusões a que chegou
recentemente, capazes de fazê-lo tentar derrubar a barreira de inimizada que os
separou na fase final da campanha eleitoral de 2014, quando o atual chefe do
executivo atropelou súbita e bruscamente a realização do sonho de vir a
governar o Rio Grande do Norte.
Uma destas é a de
que estariam ocorrendo muitas obstruções nas suas comunicações com os líderes
do PT no Rio Grande do Norte, a senadora Fátima Bezerra e o deputado estadual
Fernando Mineiro. Não era assim antes que ela começasse a deixar escapar a
intenção de disputar-lhe a chefia do executivo em 2018. Robinson e Fátima se
deram bem até depois que, contrariando a vontade dela, ele anunciou, antes
mesmo de tomar posse, a 1° de janeiro, que Mineiro já era seu candidato a
prefeito de Natal nas urnas do próximo ano.
Desatar nós
O quadro se agravou
na medida em que Robinson percebeu o erro desse anúncio. Pesquisas eleitorais
promovidas periodicamente desde janeiro mostram que nem esse empurrão levou
Mineiro a se destacar entre os potenciais candidatos a prefeito e a ameaçar a
grande liderança que o ocupante do cargo, Carlos Eduardo Alves, primo de
Henrique Eduardo, mantém folgadamente sondagem após sondagem.
Ademais, no âmbito
interno do petismo, ele havia feito uma opção cara, por Mineiro, em detrimento
de Fátima, traduzindo-a através da entrega de secretarias de seu governo a
correligionários formais dos dois que só aceitam a liderança do Deputado.
Enquanto este
relacionamento enfrentava gargalos e obstruções, Robinson foi alertado para o
fato de que, transformado em zumbi em Brasília pela derrota que ele lhe
impingiu, ao se transformar em Ministro rapidamente Henrique Eduardo se
transformaria, novamente, em pedra de toque da busca de soluções para os
problemas que inibem o desenvolvimento do Rio Grande do Norte.
Intervenção de Garibaldi
Servido, além dos
limites do organograma governamental, por conselheiros que ao mesmo tempo
assessoram – também fora do poder público – o Ministro do Turismo, Robinson
passou a ponderar a vantagem de se reconciliar com ele, pagando o preço
político que lhe apresentassem, pois nenhum seria tão elevado e amargo quanto o
de alimentar no PT a cobra que já se prepara para picar mortalmente seu projeto
de reeleição.
Ademais, como não foi eleito por conquista, e sim por exclusão da hipótese de vitória do principal concorrente, Robinson assumiu a chefia do executivo sem liderar um exército de ataque e obrigado a improvisar um de ocupação, sob pena de ficar cada vez mais na mãos de petistas que não lhe davam retorno.
Reconciliar-se com o presidente nacional do Dem, senador José Agripino Maia, a quem tratou deselegantemente desde que assumiu a presidência regional do PSD, legenda fundada sobre escombros daquela, ajudou Robinson a pavimentar o caminho do entendimento com Henrique Eduardo visando passar a contar, em Brasília, com o que parece a ambos o melhor advogado junto a Dilma.
Aceitando esta
orientação, deu o primeiro passo rumo à reconciliação ao concordar com a nomeação
de Henrique Eduardo, mas esperou à sua maneira um gesto do novo Ministro: nem
sequer mencionou sua presença na mesa principal ao discursar num evento
nacional de que participaram, em Trancoso, na Bahia, e não o convidou para
ajudar a recepcionar o ministro da Fazenda, economista Joaquim Levi, em Natal. Esta ofensiva chegou ao ápice quando o secretário estadual de Turismo, o jovem Ruyzito Gaspar, foi orientado a não comparecer a uma audiência que tinha agendado com o Ministro, no gabinete deste, em Brasília.
Enquanto o público
assistia a gestos desagradáveis como esses, Robinson esperava que o Ministro
estendesse a mão. Quem ensejou este gesto foi o senador Garibaldi Alves Filho
(PMDB). Ele estranhou que Robinson não tivesse sido convidado para compartilhar
com Henrique Eduardo a condição de anfitrião do ministro Edinho Araújo, titular
da secretaria nacional dos Portos, enquanto os dois colegas de ministério
almoçavam na casa natalense do titular da pasta do Turismo, pegou o telefone e
fez com que Edinho e Henrique Eduardo conversassem com o Governador.
Da quebra do gelo a
um entendimento altamente complexo para Henrique Eduardo e Robinson foi um
passo muito coreografado. Agora se sabe, por exemplo, que o fora dado pelo Secretário de Turismo no Ministro objetivou reservar a Robinson a primazia de estender a mão a Henrique Eduardo em nome de toda a sua equipe, deixando para Ruyzito, amigo pessoal do novo parceiro, a missão de secundá-lo.
As pegadas dessa caminhada deverão ser escritas nas entrelinhas de próximas
reportagens do “Tribuna do Norte”.
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