Prefeito e arquitetas que planejaram a decoração natalina: nada de São João, festa que já foi maior em Natal do que em outras cidades do Nordeste. |
A verdadeira festa que o prefeito Carlos
Eduardo Alves promoveu nesta sexta-feira. 15, anteontem, para anunciar os
vencedores de um concurso que a municipalidade promoveu a fim de escolher um
projeto de decoração para a temporada natalina, que só pode acontecer daqui a
seis meses, levantou entre seus assessores uma questão que transpõe os limites
de seu gabinete e se estende até o bom senso.
Trata-se de saber porque a prefeitura
não mostrou preocupação pelo menos idêntica quanto à necessidade de investir
nas festividades juninas que deveriam mobilizar os natalenses daqui a menos de
um mês.
Não se fala sobre algo muito remoto, pois
há pouco tempo Natal tentava rivalizar com Campina Grande, na Paraíba, Caruaru,
e Mossoró, no Oeste potiguar, tentando promover o que seria “o maior São João
do Nordeste”, título que também motivou Assu. Festa altamente agregadora, o São
João impõe uma síndrome às cidades nordestinas: ou elas exercitam o turismo
receptivo, investindo muito em animação de época, ou contenta-se em ser mercado
emissor, despachando seus munícipes para gastarem nos forrós alheios.
“Já
teve”
Enquanto Natal se omite a respeito, a
prefeitura de Campina Grande, há mais de quarenta anos destacando-se no
calendário regional do forró do meio do ano, gastará dez milhões de reais
apenas com a montagem da infra-estrutura para seus espetáculos de junho. Na
outra ponta da corda de cálculos, estima que no próximo mês o turismo injetará
160 milhões de reais na economia local.
Campina Grande não tinha quase nada a
ver com São João e nem era personagem da música sobre gostar de tudo grande,
imortalizada pela cantora paraibana Elba Ramalho, até os anos setenta. Quem
inventou de transformá-la no cenário da maior festa de junho do Nordeste e do
mundo, em meados dos anos oitenta, foi a prefeitura local, numa inspiração que
ocorreu ao então jovem prefeito Cássio Cunha Lima, hoje senador pelo PSDB
paraibano.
Bem antes deste esforço, Natal falava
mais alto do que Assu, Mossoró e Campina Grande neste quesito, e Caruaru ainda
não se jactava de promover o maior São João do mundo. Triste portadora e vítima
da síndrome do “já teve”, a capital potiguar assumiu a dianteira no quesito em
1979.
Festa
do Milho
Na época, as outras cidades nem cuidavam
de reunir diferentes festas de bairros e distritos num grande evento com
características de turismo receptivo, o primeiro ano da gestão do atual senador
José Agripino Maia, presidente nacional do Dem, como burgomestre de Natal
inventou de criar a “Festa do Milho”, uma grande quermesse num pátio enorme,
bem maior do que o da atual festa campinense, no estacionamento das Centrais de
Abastecimento (Ceasa), em Lagoa Nova.
Adiante, a Ceasa ergueu edificações no
lugar do estacionamento e a “Festa do Milho” dançou. Porém, logo depois uma investida
comandada pelo jornalista Antonio Milton (“Toinho”) Silveira fez Natal tentar
reassumir sua condição de líder com uma grande promoção no entorno do estádio
municipal de futebol, em Lagoa Nova. Lastimavelmente, também esta promoção foi
truncada pela descontinuidade que preside as gestões governamentais no Rio
Grande do Norte.
Enquanto aqui o apreciador de forró e
boas festas juninas começa a se preparar para gastar lá fora, Campina Grande,
que perseverou esses anos todos, espera acolher um milhão de forrozeiros
durante os trinta dias de seu “maior” São João. Isto significa um impacto
financeiro positivo de estimado em mais de 160 milhões de reais.
Os técnicos campinenses estimam em cinqüenta
milhões de reais o que o comercio e a hotelaria locais receberão em junho dos
visitantes. Pela lei do custo-benefício, o investimento municipal é mínimo.
Sabendo que as malas se afivelam para o
natalense ir desembolsar em festa alheia, a prefeitura daqui faz oba-oba para
dizer que paga cinqüenta mil reais a um arquiteto pela proposta de decoração
para o fim do ano. E deleita-se em atropelar a temporada junina.
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