Suspeito de blindar o Governador no caso da entrega da inspeção veicular a George Olímpio, o procurador geral Rinaldo Reis deixa Robinson despachar em seu gabinete e agora leva o “parquet” a bancar adaptação de prédio do Centro Administrativo.
Em lugar de dotar a sede da Procuradoria de Justiça do que ele sente que lhe.. |
Depois de tomar dinheiro
emprestado ao Tribunal de Justiça e de esvaziar quase completamente o fundo previdenciário
e financeiro do Instituto de Previdência do Estado (Ipern), o governo do Rio
Grande do Norte está recorrendo a outro financiador atípico para atender a uma
de suas necessidades, aliás das mais inesperadas.
O novo agente financeiro é um
ente que tem prodigalizado desperdícios, como na compra de um edifício que
demoliria logo em seguida ao constatar que não lhe servia. Trata-se da
Procuradoria Geral de Justiça, que há poucos dias demoliu o prédio “micado” da
esquina da avenida Deodoro com a rua José de Alencar, agravando um prejuízo de mais
de um milhão de reais que assumiu ao adquiri-lo sem que atendesse às suas
necessidades.
Tudo pela festa de posse
...falta, é na Escola de Governo, pertencente ao executivo, que.... |
O executivo receberá dinheiro do
Ministério Público Estadual para promover uma mini-reforma, mais do que isto
uma adaptação em dependência do prédio que abriga a “Escola de Governo”. A operação já chama atenção quanto ao dispêndio pela sua necessidade em si, pois o prédio foi inaugurado há muito pouco tempo e só depois de o executivo receber a certeza de que estava pronto para acolher a escola, braço didático da secretaria estadual de Administração.l
Erguida sobre a construção que originalmente se destinou a sediar os principais
acontecimentos que o saudoso Papa João Paulo II liderou em sua visita a Natal, ainda
nos anos noventa, o prédio que sedia a "Escola de Governo Cardeal Dom Eugênio de Araújo Sales" ganhará condições de abrigar festas animadas por conjuntos musicais.
... Rinaldo (à direita, com Robinson) quer montar um espaço para comemorações. |
Três custearão a festa
Foi o próprio Rinaldo quem
anunciou o gasto do Ministério Público numa edificação que não lhe pertence ao
explicar a procuradores e promotores de justiça a informação, divulgada esta
semana pelo “Novo Jornal”, de que o “parquet” gastaria 42 mil reais na festa da
posse. Sem fornecer um quantitativo exato, ele disse aos companheiros de
trabalho que todas as despesas do evento serão assumidas por três pagantes.
Uma parte caberá à Associação do
Ministério Público (Ampern), que pagará as bebidas a serem servidas na
comemoração, outra será assumida pela repartição, a quem cabe restaurar o
prédio para que acolha melhor a festa a ser promovida imediatamente após a
posse, e Rinaldo custeará pessoalmente a terceira, que seria a comida.
Filho na mulher alheia
Rinaldo se perdeu ao ser instado
a explicar porque a posse não seria realizada na vistosa sede do Ministério
Público estadual, situado entre a rua Jaguarari e o conjunto Candelária, na
zona sul de Natal. Trata-se de um prédio tão agradável e protegido que o
governador Robinson Faria e sua entourage passaram há algum tempo a despachar
ali quando querem fazer alguma coisa longe dos olhos de curiosos e,
principalmente, de pessoas que só se aproximam do chefe do executivo para
pedir.
Argumentando que o prédio é
completo e que seu auditório comportaria muito bem quantos convidados Rinaldo
gostaria de atrair para a cerimônia, agentes do “parquet” lhe propuseram nesta
quarta-feira que promovesse ali mesmo o evento, que constituiria, assim,
oportunidade para mostrar como está bem tratada a sede da Procuradoria de
Justiça.
Quanto ao desembolso, salientaram
que seria “fazer filho em mulher alheia”, expressão muito utilizada quanto a
situações em que alguém banca o que não deve. O Procurador Geral redargüiu,
porém, dizendo que, embora efetivamente possua um ótimo auditório, à sede do “parquet”
falta um espaço para festas animadas por conjuntos musicais. É exatamente na
criação, na sede da “Escola de Governo”, do espaço para esta parte da
programação que o Ministério Público gastará em lugar do poder executivo.
Por que não investir em casa?
Como argumentou, esta parte “festiva”
da programação da posse não é uma invenção sua. Ausente da agenda até à ascensão
do antecessor de seu antecessor imediato à frente do “parquet”, a parte profana
da agenda foi criada quando o promotor Manoel Onofre de Souza Neto assumiu o
cargo, há seis anos. Ele apenas dará continuidade ao que Onofre criou, porque,
como disse, os participantes das últimas cerimônias de posse gostaram muito da
comemoração.
Acrescentou que a festa funciona
também como momento para confraternização geral das famílias que orbitam em
torno da repartição, inclusive as de magistrados, procuradores governamentais e
expoentes da Ordem dos Advogados (OAB) e líderes sindicais do funcionalismo
vinculado aos órgãos governamentais que existem em função da prestação
jurisdicional.
Os interlocutores ficaram sem
respostas para duas perguntas. Uma é sobre quem bancará a contratação dos
artistas que animarão a festa, pois a tripartição das despesas que ele
demonstrou não focalizou essa rubrica. A outra é sobre o desperdício da
oportunidade de agregar valor à sede do “parquet”. A questão é simples: se
pagará para criar um espaço para festas, que lhe falta, num prédio do poder
executivo, por que não construir este espaço num imóvel do próprio Ministério
Público?
Podem investigar
Eles receiam que alguém
encarregado de fiscalizar gastos públicos e combater corrupção termine
implicando com o que possa haver de espúrio nessa transação se esta pessoa se
fizer as duas perguntas. Eles acham que este papel pode caber ao Tribunal de
Contas do Estado e ao Marco, à Corregedoria Geral do governo do Estado, Movimento
Articulado de Combate à Corrupção.
O próprio Ministério Público
também pode tomar a iniciativa de investigar essa imbricação, através do Gaeco,
o Grupo Articulado de Combate à Corrupção, setor que opera articuladamente com
agentes das polícias estadual e federal e de outros órgãos públicos empenhados
em buscar a lisura na gestão governamental.
Ainda segundo agentes do “paquet”,
a suspeita de irregularidade nessa operação também pode atrair os olhos da
Corregedoria Geral do Ministério Público Federal, em Brasília, assim como do
Conselho Nacional do Ministério Público (CNPM), onde já tramitam alguns
processos capazes de impor vexames a Rinaldo.
Blindagem e nomeação
Para integrantes do “parquet”, as
duas perguntas sem respostas são as mais recentes de das muitas que se impõem
desde a posse de Robinson Faria a respeito da relação que o executivo passou a
manter com o Ministério Público. Eles dizem que a casa subitamente se esqueceu
de cobrar na justiça o que vinha exigindo corriqueiramente ao executivo durante
a gestão da governadora Rosalba Ciarlini.
Num dado instante de março último,
os meios de comunicação mostraram que, do alto de suas prerrogativas, Rinaldo
havia blindado Robinson Faria ao acusar o senador José Agripino Maia,
presidente nacional e regional do Dem, e o deputado estadual Ezequiel Ferreira
de Souza (PMDB), presidente da Assembléia Legislativa, de participação, ainda
não comprovada, na tentativa de entregar a inspeção veicular no Rio Grande do
Norte a uma empresa que corrompia o processo, sob a liderança do advogado George
Olímpio.
Soube-se, então, que Rinaldo
teria pactuado a acusação a José Agripino com o procurador geral da República, bacharel
Rodrigo Janot, comprometendo-se a enviar-lhe uma versão requentada de denúncia
que este havia engavetado, a fim de agir contra o parlamentar no Supremo
Tribunal Federal (STF).
Do acordo teria feito parte a estratégia
de então acrescentar ao pólo passivo outros agentes políticos locais cujo
indiciamento dispensaria a mobilização de Janot e o recurso à suprema corte.
Seria o caso de implicar Robinson porque presidia a Assembléia Legislativa e
conduziu o processo em que esta aprovou a negociação com a empresa de George
Olímpio. Um ou outro integrante do parlamento estadual entraria na acusação,
segundo constava então entre operadores natalenses do direito.
Poucos dias antes de enviar a
Janot a denúncia contra José Agripino, que só pode ser denunciado no STF, porque
tem foro privilegiado, soube-se em Natal que Rinaldo, então pré-candidato à sua
própria sucessão à frente do “parquet”, havia conversado reservadamente, sobre
o escândalo, com Robinson Faria. Poucos dias depois, exercitando a “reserva
recursal” que aprecia utilizar em detrimento de prerrogativa de promotores,
Rinaldo denunciou somente Ezequiel, sem importunar Robinson, que o nomearia em
maio último para o segundo mandato.
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Roberto Guedes:
O MP que tem a finalidade precípua de combater os desmandos, é agora agente de festejos com o dinheiro ´do povo. E a corrupção desenfreada continua leve e solta.
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