José Vanildo, que se mostra tranquilo, pode ser investigado, assim como.... |
Políticos e desportistas natalenses
passaram nesta segunda-feira a admitir que atingirão a Federação
Norte-rio-grandense de Futebol (FNF) as investigações sobre corrupção ligada à
realização da Copa do Mundo de 2014 no Brasil, que começaram a se tornar
públicas na semana passada, depois que a polícia da Suíça prendeu em Berna a
cúpula da entidade promotora do certame, a Federação Internacional de Futebol
Association, a Fifa. Acreditam, também, que antigos governantes potiguares deverão ser alcançados pelas investigações conduzidas por brasileiros e ianques, tamanha é a mistura de interesses escusos que operou as decisões que incluíram Natal na Copa legando ao governo potiguar ônus estúpidos, como o comprometimento de uma fortuna em terrenos e o pagamento de um "mensalinho" de onze milhões de reais aos exploradores do estádio.
Eles dizem que se os norte-americanos
não chegarem aqui, certamente Natal entrará no roteiro de investigações
anunciadas no Congresso brasileiro a respeito de corrupção na gestão do futebol
pátrio. E ninguém se surpreenda se investigações a serem promovidas pela
Confederação Brasileira de Futebol (CBF) pegarem “bagrinhos” para protegerem
“tubarões” que agem na órbita da entidade nacional.
Salientam que enquanto a investigação
não chega às federações estaduais, os grandes da “quadrilha da Fifa”, ou do “Fifagate”,
como batizam os malversadores, começam a cair na sucessão iniciada pela prisão
de alguns deles na semana passada.
Renúncia
de Blatter
Presidente da entidade havia dezessete
anos, o principal suspeito de comandar uma quadrilha instalada a partir da sede
da Fifa, o desportista Joseph Blatter acabou de renunciar ao cargo, para o qual
foi reeleito há três dias. O principal motivo foi a liberação, por
investigadores dos Estados Unidos, de que seu braço-direito e delfim, o
secretário-geral da Fifa, Jerôme Valcker, que esteve muito em Natal, distribuiu
milhões e milhões de dólares em propinas a dirigentes de confederações
continentais e nacionais, que as repassariam conforme a capilaridade do esquema
que operou em função da Copa do Mundo de 2014.
Horas antes, o que seria o principal
agente de Blatter no Brasil até precisar refugiar-se em Miami para não ser
preso, quando renunciou à presidência da CBF, o empresário Ricardo Teixeira,
foi indiciado pela Polícia Federal, que lhe imputa quatro crimes – falsificação
de documento público, falsidade ideológica, evasão de divisas e lavagem de
dinheiro –, agravado por evidências de enriquecimento ilícito, traduzido, ainda
minimamente, pela compra de imóveis de luxo na orla marítima do Rio de Janeiro.
Sobrepreço
Estranhamente, pelo que dizem os
potiguares, a certeza de que Natal entrará no mapa dos investigadores acionados
pela corrupção na Fifa só os atingiu graças a um fato local, pois até então o “Fifagate”
lhes parecia muitíssimo distante, a despeito de a capital potiguar ter sido escolhida,
ninguém sabe ainda a que preço, para sediar jogos do certame.
Os desportistas locais somente se
persuadiram ao saberem que o Tribunal de Contas do Estado (TCE) encontrou
indícios de superfaturamento em consultorias para a execução das obras de
construção do estádio “Arena das Dunas”, a praça esportiva natalense que sediou
jogos da Copa atraídos para Natal. Como se sabe, a FNF não teve participação
alguma no empreendimento.
A associação de idéias decorre do fato
de estarem sendo investigados vários fatos ligados à gestão do futebol do
Brasil nos últimos anos. O período investigado a partir dos Estados Unidos,
país que mais se empenha na elucidação das irregularidades imputadas a cartolas
internacionais do futebol, inclui a edição 1998 da Copa do Mundo, na qual a
seleção canarinho, franco-favorita, teria sido “vendida” por cartolas que
comandavam a CBF.
“Mensalinho”
Mesmo isentando a FNF de qualquer
responsabilidade direta em relação às construções que a Copa do Mundo ensejou
em Natal, os observadores lembram que a cúpula da entidade era muito ligada à
da CBF, mantida sob forte suspeita de pactuar negociatas em relação à edição do
ano passado do campeonato.
Partem do princípio de que, formal ou
informalmente, a FNF e seus dirigentes constituíram o braço não governamental
com que a CBF conduziu as providências que lhe eram demandadas em Natal pela
Copa do Mundo.
....os ex-secretários de Estado Demétrio Torres e... |
Vem dessa época, também, a informação de
que o presidente da FNF, advogado José Vanildo da Silva, tinha passado a
receber da CBF um “mensalinho”, orçado há um ano em quinze mil reais.
Ancestralmente, os cargos de direção das entidades que comandam o futebol no
Brasil não são remunerados, dizem os desportistas preocupados, cuidando para
não misturar informações a respeito da FNF.
Rosalba
No tocante à constatação feita pela
Comissão de Acompanhamento e Fiscalização da Copa 2014 (CafCopa), do TCE, de um
superfaturamento de 2,65 milhões de reais em dois contratos de consultoria para
estruturação, modelagem e desenvolvimento do projeto de Parceria
Público-Privada (PPP) para o nascimento do “Arena das Dunas”, por exemplo,
garantem que tudo os leva a confiar na ausência da FNF e de seus dirigentes das
negociações que teriam ensejado a ilicitude.
A seu ver, a relação incestuosa foi
bilateralmente restrita ao governo do Estado e uma empresa paulista, a Valora
Participações Ltda, cabendo ao Tribunal de Contas procurar as autoridades que
geriam o poder executivo na época, a médica Rosalba Ciarlini, então
governadora, e os engenheiros Demétrio Torres e Kátia Pinto, na época
secretários da Copa e de Infra-estrutura, respectivamente.
....Fernando Fernandes (E) e outros potiguares que trabalharam pela Copa. |
Os investigadores do TCE foram mais
longe, relacionando como ordenadores dos pagamentos superfaturados outros
ex-secretários de Estado, como Fernando Fernandes de Oliveira, Múcio Gurgel de
Sá e Ramzi Elali. Os desportistas se lembram de que houve muita operação reservada para que Natal entrasse no mapa da Fifa, incluindo a contratação por potiguares de escritórios exógenos como a Valora. Estranham, inclusive, que o TCE não tenha mirado o escritório de arquitetura comandado por uma filha de Ricardo Teixeira, que teria sido o "autor" do projeto do "Arena das Dunas". No tocante a outros estádios erguidos ou reformados para o certame ela foi presença marcante, aparecendo depois em investigações sobre iniciativas escusas.
Suborno
O que mais ameaça estender as sombras da
corrupção sobre a FNF é a informação de que órgãos de investigação dos Estados
Unidos garantem ter encontrado indícios de suborno em contratos da CBF em
certames nacionais que a entidade comandou e na preparação da Copa do Mundo.
Os desportistas acham que os investigadores
chegaram a uma quadrilha concêntrica, com círculos de dimensão mundial,
continentais e nacionais, e que no caso do Brasil chegarão aos tentáculos que
os cartolas da CBF mobilizavam nas entidades congêneres dos estados.
Segundo fontes do Departamento de
Justiça dos Estados Unidos, o fato de as notícias sobre falcatruas no futebol
mundial chamarem atenção pela referência à Copa do Mundo, o espectro
investigado é enorme, alcançando certames nacionais. Um dos esquemas
investigados teria viciado há tempos a escolha de Rússia e Catar para sediar a
Copa do Mundo em 2018 e 2022. Mas a investigação da Justiça norte-americana vai
além da suposta participação de dirigentes da Fifa e empresários em uma
possível fraude na escolha dos países-sede das duas próximas Copas do Mundo.
Patrocínio
e transmissão
Segundo as autoridades norte-americanas,
durante as investigações foram encontrados indícios de práticas ilícitas em
outros países. “No Brasil, as suspeitas recaem sobre contratos de patrocínio e
de transmissão da Copa do Brasil assinados pela CBF”, diz informe procedente de
Washington, a capital dos Estados Unidos.
Conforme um comunicado divulgado pelo
Departamento de Justiça dos Estados Unidos, “o outro esquema investigado” se
relaciona ao pedido e recebimento de subornos e propinas por autoridades do
futebol e executivos de marketing esportivo durante as negociações sobre o
direito de transmissão de campeonatos.
Entre os eventos citados nominalmente
está a Copa do Brasil, organizada pela CBF. A nota também menciona o “pagamento
e recebimento de subornos e propinas em conexão com o patrocínio da CBF por uma
grande empresa dos EUA. Atualmente, a patrocinadora oficial da CBF é a Nike.
Bancos
envolvidos
Por enquanto, só três brasileiros
constam da relação de investigados divulgada pelo Departamento de Justiça dos
Estados Unidos – José Maria Marin, ex-presidente da FNF, que foi detido no
último dia 27, em Zurique, e os empresários José Hawilla, dono da Traffic
Group, e José Margulies, dono de empresas de transmissão de eventos esportivos.
No entanto, três grandes bancos – o do
Brasil, estatal, o Itaú e o Unibanco – participaram dos esquemas, cuidando de
fazer transferência de recursos para o pagamento de propinas, de acordo com o
processo aberto na Justiça dos Estados Unidos, baseado em investigações do FBI,
sobre a corrupção no futebol mundial.
Eleição
viciada
A referência a propinas dilata o campo
investigado em função de a CBF promover em plena preparação da edição do ano
passado da Copa do Mundo a eleição do sucessor de Marin em sua presidência.
Muitas articulações foram lubrificadas por muito dinheiro, e o fato de a cúpula
da FNF fazer jogo duplo durante boa parte do tempo, até finalmente se
posicionar ao lado do candidato situacionista, o empresário paulista Marco Polo
Del Nero.
Lembrando que adversários de Marin
vieram a Natal antes de este ter uma conversa reservada com José Vanildo,
asseguram que este esteve durante bom tempo comprometido com a oposição ou
fingindo vincular-se a esta para à última hora deixar-se cooptar pelo então
Presidente.
Quanto à honestidade de Marin e à sua
capacidade de tudo fazer para alcançar os resultados que lhe interessam,
lembram um fato que ele protagonizou antes de assumir a presidência da CBF,
face à renúncia do então presidente Ricardo Teixeira, provocada, a propósito,
por suspeitas de corrupção no cargo. Marin foi flagrado roubando um souvenir
numa cerimônia promovida por desportistas.
“Cesteiro que faz um cesto faz um
cento”, salienta um desportista natalense sobre o que Marin arriscaria para
garantir a vitória de Del Nero.
O Blog de Roberto Guedes tentou, sem
sucesso, ouvir José Vanildo sobre as suspeitas que trazem apreensão em Natal,
mas colaboradores seus na FNF garantem que ele está absolutamente tranqüilo
quanto a se encontrar qualquer irregularidade na entidade e nos que a dirigem.
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