terça-feira, 2 de junho de 2015

Natalenses acham que “Fifagate” chegará à FNF e a Natal

José Vanildo, que se mostra tranquilo, pode ser investigado, assim como.... 
Políticos e desportistas natalenses passaram nesta segunda-feira a admitir que atingirão a Federação Norte-rio-grandense de Futebol (FNF) as investigações sobre corrupção ligada à realização da Copa do Mundo de 2014 no Brasil, que começaram a se tornar públicas na semana passada, depois que a polícia da Suíça prendeu em Berna a cúpula da entidade promotora do certame, a Federação Internacional de Futebol Association, a Fifa. Acreditam, também, que antigos governantes potiguares deverão ser alcançados pelas investigações conduzidas por brasileiros e ianques, tamanha é a mistura de interesses escusos que operou as decisões que incluíram Natal na Copa legando ao governo potiguar ônus estúpidos, como o comprometimento de uma fortuna em terrenos e o pagamento de um "mensalinho" de onze milhões de reais aos exploradores do estádio.  
Eles dizem que se os norte-americanos não chegarem aqui, certamente Natal entrará no roteiro de investigações anunciadas no Congresso brasileiro a respeito de corrupção na gestão do futebol pátrio. E ninguém se surpreenda se investigações a serem promovidas pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) pegarem “bagrinhos” para protegerem “tubarões” que agem na órbita da entidade nacional.
Salientam que enquanto a investigação não chega às federações estaduais, os grandes da “quadrilha da Fifa”, ou do “Fifagate”, como batizam os malversadores, começam a cair na sucessão iniciada pela prisão de alguns deles na semana passada.  
Renúncia de Blatter
Presidente da entidade havia dezessete anos, o principal suspeito de comandar uma quadrilha instalada a partir da sede da Fifa, o desportista Joseph Blatter acabou de renunciar ao cargo, para o qual foi reeleito há três dias. O principal motivo foi a liberação, por investigadores dos Estados Unidos, de que seu braço-direito e delfim, o secretário-geral da Fifa, Jerôme Valcker, que esteve muito em Natal, distribuiu milhões e milhões de dólares em propinas a dirigentes de confederações continentais e nacionais, que as repassariam conforme a capilaridade do esquema que operou em função da Copa do Mundo de 2014.
Horas antes, o que seria o principal agente de Blatter no Brasil até precisar refugiar-se em Miami para não ser preso, quando renunciou à presidência da CBF, o empresário Ricardo Teixeira, foi indiciado pela Polícia Federal, que lhe imputa quatro crimes – falsificação de documento público, falsidade ideológica, evasão de divisas e lavagem de dinheiro –, agravado por evidências de enriquecimento ilícito, traduzido, ainda minimamente, pela compra de imóveis de luxo na orla marítima do Rio de Janeiro.
Sobrepreço
Estranhamente, pelo que dizem os potiguares, a certeza de que Natal entrará no mapa dos investigadores acionados pela corrupção na Fifa só os atingiu graças a um fato local, pois até então o “Fifagate” lhes parecia muitíssimo distante, a despeito de a capital potiguar ter sido escolhida, ninguém sabe ainda a que preço, para sediar jogos do certame.
Os desportistas locais somente se persuadiram ao saberem que o Tribunal de Contas do Estado (TCE) encontrou indícios de superfaturamento em consultorias para a execução das obras de construção do estádio “Arena das Dunas”, a praça esportiva natalense que sediou jogos da Copa atraídos para Natal. Como se sabe, a FNF não teve participação alguma no empreendimento. 
A associação de idéias decorre do fato de estarem sendo investigados vários fatos ligados à gestão do futebol do Brasil nos últimos anos. O período investigado a partir dos Estados Unidos, país que mais se empenha na elucidação das irregularidades imputadas a cartolas internacionais do futebol, inclui a edição 1998 da Copa do Mundo, na qual a seleção canarinho, franco-favorita, teria sido “vendida” por cartolas que comandavam a CBF.
“Mensalinho”
Mesmo isentando a FNF de qualquer responsabilidade direta em relação às construções que a Copa do Mundo ensejou em Natal, os observadores lembram que a cúpula da entidade era muito ligada à da CBF, mantida sob forte suspeita de pactuar negociatas em relação à edição do ano passado do campeonato.
Partem do princípio de que, formal ou informalmente, a FNF e seus dirigentes constituíram o braço não governamental com que a CBF conduziu as providências que lhe eram demandadas em Natal pela Copa do Mundo.
....os ex-secretários de Estado Demétrio Torres e... 
Vem dessa época, também, a informação de que o presidente da FNF, advogado José Vanildo da Silva, tinha passado a receber da CBF um “mensalinho”, orçado há um ano em quinze mil reais. Ancestralmente, os cargos de direção das entidades que comandam o futebol no Brasil não são remunerados, dizem os desportistas preocupados, cuidando para não misturar informações a respeito da FNF.
Rosalba
No tocante à constatação feita pela Comissão de Acompanhamento e Fiscalização da Copa 2014 (CafCopa), do TCE, de um superfaturamento de 2,65 milhões de reais em dois contratos de consultoria para estruturação, modelagem e desenvolvimento do projeto de Parceria Público-Privada (PPP) para o nascimento do “Arena das Dunas”, por exemplo, garantem que tudo os leva a confiar na ausência da FNF e de seus dirigentes das negociações que teriam ensejado a ilicitude.
A seu ver, a relação incestuosa foi bilateralmente restrita ao governo do Estado e uma empresa paulista, a Valora Participações Ltda, cabendo ao Tribunal de Contas procurar as autoridades que geriam o poder executivo na época, a médica Rosalba Ciarlini, então governadora, e os engenheiros Demétrio Torres e Kátia Pinto, na época secretários da Copa e de Infra-estrutura, respectivamente.
....Fernando Fernandes (E) e outros potiguares que trabalharam pela Copa.
Os investigadores do TCE foram mais longe, relacionando como ordenadores dos pagamentos superfaturados outros ex-secretários de Estado, como Fernando Fernandes de Oliveira, Múcio Gurgel de Sá e Ramzi Elali. Os desportistas se lembram de que houve muita operação reservada para que Natal entrasse no mapa da Fifa, incluindo a contratação por potiguares de escritórios exógenos como a Valora. Estranham, inclusive, que o TCE não tenha mirado o escritório de arquitetura comandado por uma filha de Ricardo Teixeira, que teria sido o "autor" do projeto do "Arena das Dunas". No tocante a outros estádios erguidos ou reformados para o certame ela foi presença marcante, aparecendo depois em investigações sobre iniciativas escusas. 
Suborno
O que mais ameaça estender as sombras da corrupção sobre a FNF é a informação de que órgãos de investigação dos Estados Unidos garantem ter encontrado indícios de suborno em contratos da CBF em certames nacionais que a entidade comandou e na preparação da Copa do Mundo.
Os desportistas acham que os investigadores chegaram a uma quadrilha concêntrica, com círculos de dimensão mundial, continentais e nacionais, e que no caso do Brasil chegarão aos tentáculos que os cartolas da CBF mobilizavam nas entidades congêneres dos estados. 
Segundo fontes do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, o fato de as notícias sobre falcatruas no futebol mundial chamarem atenção pela referência à Copa do Mundo, o espectro investigado é enorme, alcançando certames nacionais. Um dos esquemas investigados teria viciado há tempos a escolha de Rússia e Catar para sediar a Copa do Mundo em 2018 e 2022. Mas a investigação da Justiça norte-americana vai além da suposta participação de dirigentes da Fifa e empresários em uma possível fraude na escolha dos países-sede das duas próximas Copas do Mundo.
Patrocínio e transmissão
Segundo as autoridades norte-americanas, durante as investigações foram encontrados indícios de práticas ilícitas em outros países. “No Brasil, as suspeitas recaem sobre contratos de patrocínio e de transmissão da Copa do Brasil assinados pela CBF”, diz informe procedente de Washington, a capital dos Estados Unidos.
Conforme um comunicado divulgado pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos, “o outro esquema investigado” se relaciona ao pedido e recebimento de subornos e propinas por autoridades do futebol e executivos de marketing esportivo durante as negociações sobre o direito de transmissão de campeonatos.
Entre os eventos citados nominalmente está a Copa do Brasil, organizada pela CBF. A nota também menciona o “pagamento e recebimento de subornos e propinas em conexão com o patrocínio da CBF por uma grande empresa dos EUA. Atualmente, a patrocinadora oficial da CBF é a Nike.
Bancos envolvidos
Por enquanto, só três brasileiros constam da relação de investigados divulgada pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos – José Maria Marin, ex-presidente da FNF, que foi detido no último dia 27, em Zurique, e os empresários José Hawilla, dono da Traffic Group, e José Margulies, dono de empresas de transmissão de eventos esportivos.
No entanto, três grandes bancos – o do Brasil, estatal, o Itaú e o Unibanco – participaram dos esquemas, cuidando de fazer transferência de recursos para o pagamento de propinas, de acordo com o processo aberto na Justiça dos Estados Unidos, baseado em investigações do FBI, sobre a corrupção no futebol mundial.
Eleição viciada
A referência a propinas dilata o campo investigado em função de a CBF promover em plena preparação da edição do ano passado da Copa do Mundo a eleição do sucessor de Marin em sua presidência. Muitas articulações foram lubrificadas por muito dinheiro, e o fato de a cúpula da FNF fazer jogo duplo durante boa parte do tempo, até finalmente se posicionar ao lado do candidato situacionista, o empresário paulista Marco Polo Del Nero.
Lembrando que adversários de Marin vieram a Natal antes de este ter uma conversa reservada com José Vanildo, asseguram que este esteve durante bom tempo comprometido com a oposição ou fingindo vincular-se a esta para à última hora deixar-se cooptar pelo então Presidente.
Quanto à honestidade de Marin e à sua capacidade de tudo fazer para alcançar os resultados que lhe interessam, lembram um fato que ele protagonizou antes de assumir a presidência da CBF, face à renúncia do então presidente Ricardo Teixeira, provocada, a propósito, por suspeitas de corrupção no cargo. Marin foi flagrado roubando um souvenir numa cerimônia promovida por desportistas.
“Cesteiro que faz um cesto faz um cento”, salienta um desportista natalense sobre o que Marin arriscaria para garantir a vitória de Del Nero.
O Blog de Roberto Guedes tentou, sem sucesso, ouvir José Vanildo sobre as suspeitas que trazem apreensão em Natal, mas colaboradores seus na FNF garantem que ele está absolutamente tranqüilo quanto a se encontrar qualquer irregularidade na entidade e nos que a dirigem.
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