O silêncio
obsequioso que o ministro do Turismo, ex-deputado federal Henrique Eduardo
Alves, presidente do PMDB potiguar adota em relação ao presidente da Câmara
Federal, deputado Eduardo Cunha (RJ), que rompeu com a presidanta Dilma
Rousseff e enfrenta inferno astral por conta de acusação ensejada pela “Operação
Lava Jato”, lembra no Rio Grande do Norte uma grande incoerência. Aqui, quando
um seu liderado discrepa de sua posição, Henrique Eduardo impõe logo o anátema,
como fez contra Hermano Morais e Flávio Azevedo, novo secretário estadual de
Desenvolvimento, Indústria e Comércio.
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Aliados e ex-aliados potiguares de Henrique Eduardo gostariam que ele apresentasse ao PMDB a proposta de anatematizar Eduardo Cunha, a exemplo do que tem feito no Rio Grande do Norte com quem diverge de sua orientação. |
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ROBERTO GUEDES
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Passadas duas semanas desde o rompimento
do presidente da Câmara Federal, deputado Eduardo Cunha (RJ) com a presidanta
Dilma Rousseff, peemedebistas potiguares ainda esperam que o comando nacional
de seu partido expulsem de seus quadros o parlamentar, e não apenas pelas
condições morais que levaram o também deputado Jarbas Vasconcelos,
ex-governador de Pernambuco, a propor simplesmente seu afastamento do comando
da casa congressual.
Principalmente, querem que o presidente
do diretório potiguar da legenda, o ministro do Turismo, ex-deputado federal
Henrique Eduardo Alves, rompa o silêncio obsequioso que vem nutrindo em relação
ao agravamento da situação política e moral de Eduardo Cunha e avance com uma
proposta visando a imposição de anátema ao parlamentar. E dizem que,
esgueirando-se diante da situação, como tem feito, ele só mostra a falsidade
com que tem prejudicado correligionários que pensam diferentemente dele. No mínimo, no mínimo, para guardar coerência com o Presidente do PMDB potiguar, o Ministro do Turismo deveria propor o licenciamento, senão a expulsão de Eduardo Cunha de seu partido.
Do alto da condição do grupo de ex-senadores que nos últimos anos sustentaram na Câmraa Alta do país a bandeira da moral na política nacional, a exemplo do gaúcho Pedro Simon, também peemedebista, Jarbas esgrime as acusações que
emergiram contra Cunha nas investigações proporcionadas pela “Operação Lava
Jato”, que a Justiça, Ministério Público e Polícia federais desenvolvem há
alguns anos com o objetivo de cubar o maior crime de formação de quadrilha já
arquitetado no Brasil. Bem mais modestos, os filiados ao PMDB em Natal querem
apenas que os líderes de sua legenda ajam com coerência no tocante a princípios
de fidelidade partidária.
Igual
aos ditadores
Eles gostariam que, por coerência, o
Ministro Potiguar apresentasse ao comando nacional do PMDB a necessidade de anatematizar
Eduardo Cunha porque, discrepando frontalmente da orientação partidária, virou
as costas à Presidente da República à qual a legenda continua a servir.
Afinal, dizem, impor anátemas é o que o presidente
do diretório potiguar mais tem feito no Rio Grande do Norte em prejuízo de
aliados que pensam de alguma forma diferentemente da sua em relação aos
negócios que tem levado o PMDB a celebrar com aliados de ocasião.
Eles deploram esta conduta salientando
episódios da vida política da família do Ministro que deveriam ensinar-lhe a
melhorar a conduta quanto a lidar com diferenças. Fundador do clã político que
leva seu sobrenome, o pai de Henrique Eduardo, o jornalista Aluizio Alves, que
foi duas vezes Ministro de Estado, não foi expulso da UDN quando se insurgiu
como candidato de uma dissidência a Governador, em 1960, também porque os
correligionários que se opunham à sua candidatura não quiseram chegar a esse
extremo. Em 1968, o endurecimento do governo militar anatematizou o aliado
Aluizio, cassando-lhe o mandato de deputado federal e seus direitos políticos
por dez anos. Infelizmente, entretanto, a arma dos ditadores se incorporaria
depois ao perfil de Henrique Eduardo de uma forma que cruelmente transforma
liderados em reféns de suas vontades pessoais.
Excomunhão
Pelo que dizem, a versão de anátema empregada
pelo presidente do PMDB potiguar vai da reprovação enérgica à excomunhão
partidária, abrangendo a maldição e até a transformação do liderado em réprobo,
como se viu em diversos casos.
Eles dizem que, no mínimo por coerência,
o presidente de honra do diretório nacional do partido, o vice-presidente da república
Michel Temer, e principalmente o presidente do seu diretório potiguar, o
ministro Henrique Eduardo Alves, estão na obrigação de impor o afastamento de
Eduardo Cunha dos quadros da agremiação, definitiva ou temporariamente, porque
rompeu com Dilma.
Como salientam, este é o critério que
tem forçado o PMDB a sancionar políticos potiguares de reputação ilibada que
eventualmente discrepam de orientação da legenda quanto quem é seu aliado, como
Dilma, que transportou Temer à vice-presidência da república em suas duas
eleições, em 2010 e em 2014, e no semestre passado o alçou à coordenação
política de seu governo.
Hermano
Morais, Flávio Azevedo...
No Rio Grande do Norte, o PMDB tem
afastado sistematicamente filiados que destoam das preferências de Henrique
Eduardo. Só nos últimos tempos agiu assim com pelo menos três filiados.
Tomou a presidência do diretório natalense
ao engenheiro, professor e ex-vereador Luiz Carlos Noronha quando este
manifestou ponto de vista diferente em relação a com quem o partido deveria se
aliar em função de eleições majoritárias recentes, alojando em seu lugar o
deputado estadual Hermano Morais, por lhe parecer mais cordato.
Há poucos meses, porém, quando Hermano, candidato
derrotado à prefeitura de Natal em 2012, contra-indicou a reconciliação em
curso com o prefeito Carlos Eduardo Alves, em minutos Henrique Eduardo o
afastou da mesma presidência municipal, substituindo-o então por um parente por
considerá-lo ainda mais cordato.
O cúmulo da punição, porém, foi aplicado
há dez dias em resposta a uma inicativa ética, quando o engenheiro e empresário
Flávio Azevedo, ex-candidato a suplente de senador na chapa encabeçada pela
vice-prefeita de Natal e ex-governadora Wilma de Faria, resolveu informar a
Henrique Eduardo sobre ter aceitado o convite do governador Robinson Faria para
assumir a secretaria estadual de Desenvolvimento, Indústria e Comércio, na qual
tomará posse estes dias.
Licença
constrangedora
A rigor, Flávio Azevedo nem precisaria
falar a Henrique Eduardo, pois em termos político mantém vínculo apenas com
Wilma. Filiara-se ao PMDB em dezembro de 2013 para ser companheiro de chapa da
presidente regional do PSB, até então sua legenda, num pacto que ambos
celebraram com Henrique Eduardo em face do apoio que emprestariam à candidatura
deste ao governo potiguar.
Mesmo dispensado desta obrigação,
entretanto, por questão moral Flávio procurou Henrique Eduardo. Para sua
surpresa, o Ministro exigiu que ele se licenciasse do partido para deixar claro
que estava subindo sozinho, isto é, sem o PMDB, a escadaria da Governadoria.
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Licença constrangedora imposta a Flávio Azevedo lembrou que no Rio Grande do Norte este só tem vínculo com Wilma de Faria. |
Para piorar a determinação de expor a
licença como constrangimento, Henrique Eduardo adotou, paralelamente, a decisão
de divulgar por meios próprios o fato de haver imposto esta medida ao interlocutor.
Não se lembrou de que Flávio somente se havia feito seu correligionário para
compor a chapa ao lado de Wilma numa articulação que o atual Ministro montou
quando pilotava sua fracassada tentativa de conquistar o governo potiguar em
2014.
O constrangimento que a licença imposta causou a Flávio foi tema de conversa que Wilma manteve na última sexta-feira com Henrique Eduardo e o senador Garibaldi Alves Filho, primo e liderado deste no PMDB, onde, a propósito, figura como o único correligionário que eventual discrepa e nunca sofre anátema, devido ao peso de seu eleitorado, infinitamente maior do que o do Ministro.
Constrangimento semelhante, segundo
consta, só foi imposto no Rio Grande do Norte pelo PT a alguns filiados que
assumiram cargos de confiança na equipe do prefeito Carlos Eduardo Alves, como
o médico Cipriano Maia, a quem os correligionários quiseram mesmo expulsar da
legenda.
Ex-dirigentes
No interior do Estado são incontáveis os
peemedebistas e principalmente ex-peemedebistas aos quais Henrique Eduardo
impingiu anátemas por pensarem de forma diferente da ocasionalmente defendida
pelo Ministro do Turismo.
A exemplo de inúmeros outros donos de
legendas, Henrique Eduardo também tem promovido intervenções em diretórios
municipais para sacramentar esse tipo de sanção. Uma das mais típicas ocorreu
alguns anos atrás em São Tomé, quando ele arrancou o diretório local da família
Estrela, que o acompanhava fazia muitos anos. Em Riachuelo, cometeu verdadeiro
crime ao fazer o mesmo contra o legendário prefeito Luiz Gonzaga Cavalcanti, de
lealdade a toda prova.
Ele fez isso mais recentemente, ao se deixar
seduzir pelo grupo situacionista de Caiçara do Rio do Vento, adversários
ancestrais dos aluizistas, correligionários de seu pai, Aluizio, criador da
força política que ainda o transporta e a seus familiares, emprestando-lhe,
merecidamente ou não, poder há mais de cinqüenta anos. Bruscamente destituiu do
comando local do PMDB o ex-prefeito Francisco Edson Barbosa, o “Etinho”, que
lhe havia sido exemplo de solidariedade toda a vida.
Abraçando
inimigos
Ao anatematizar Etinho, Henrique Eduardo
se aliou aos adversários que agiam com relação a seus liderados caiçarenses
como os perrés do Seridó faziam com os “pelabuxos” de antes da redemocratização
que o Brasil experimentou após a segunda guerra mundial. Como se sabe, o termo “pelabuxo”
deriva do fato de os adversários ralarem materiais abrasivos na pela da barriga
de quem pensava diferentemente deles.
Historicamente, toda campanha eleitoral
em Caiçara do Rio do Vento, cidade em si muito pacata, se transforma em cenário
de violência graças aos arroubos primários dos novos aliados locais que
Henrique Eduardo Alves adotou em detrimento dos aluizistas locais. O anátema aplicado em Caiçara do Rio do Vento ressaltou a incoerência da conduta do Ministro: ele não puniu o deputado federal Walter Alves, seu primo e correligionário no PMDB e filho do senador Garibaldi Alves Filho, quando o parlamentar resolveu continuar ao lado de Etinho.
Na visão de um seu tio, o saudoso
jornalista e político Agnelo Alves, que faleceu há pouco mais de um mês, aos 83
anos e em pleno exercício de mandato como deputado estadual, Henrique Eduardo
afronta uma das máximas de sua família. Pai do prefeito Carlos Eduardo, Agnelo
dizia que um dos maiores méritos dos políticos de sua família era a capacidade
de agregar forças, inclusive contrárias entre si, algo que faltava a muitos de
seus adversários tradicionais.
Seis
por meia dúzia
Segundo Agnelo, os adversários dos Alves
sabiam apenas substituir o velho pelo novo, num processo em que terminavam
trocando seis por meia dúzia, enquanto Aluizio, seu mentor, passava desta
medida para as dúzias juntando, em favor de seus projetos, forças excludentes
entre si. Exemplo desta capacidade foi unir em Açu os primos, deputados e
praticamente inimigos entre si Edgard e Olavo Montenegro, em 1978, visando a
reeleição do saudoso senador Jessé Freire. Como participou de muitas conversas
que Aluizio conduziu nesse ano, Henrique Eduardo deveria ter aprendido. Sua
opção, entretanto, tem sido sempre a exclusão que o pai lhe apontava didaticamente
nos adversários.
Apoio
a Dilma
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Etinho, à direita de Walter Alves, sofreu anátema em Caiçara do Rio do Vento, onde seu grupo sustentava a bandeira do aluizismo desde antes de 1960. |
Se pretere assim rapidamente todo
liderado que não acompanha os novos conchavos que impõe à legenda, seria
natural que Henrique Eduardo sempre o fizesse por coerência com linha de
conduta adotada pelo comando nacional. E se integra este comando desde os
tempos em que assumiu a cúpula nacional do PMDB ao lado de seus amigos Michel
Temer e Geddel Vieira Lima, seria natural que o Ministro agora exigisse que o
PMDB, reiterando todo dia sua lealdade a Dilma, mesmo quando a aprovação popular
à gestão dela despenca para 7%, anatematizasse Eduardo Cunha.
Rindo da incoerência que se verbaliza
através do silêncio que o Ministro mantém em relação a Cunha desde o rompimento
unilateral deste em relação a Dilma, os aliados que lhe imputam grande
incoerência em benefício de interesses menores, circunstanciais e divorciados
do que seriam os mais elevados interesses do PMDB e do Rio Grande do Norte, dizem
que, mais do que nunca, Henrique Eduardo só defende a própria pele.
Foi com o apoio decisivo de Eduardo
Cunha, seu sucessor na presidência da Câmara Federal, que ele se tornou
Ministro do Turismo, demissível “ad nutum”, estando agora, portanto, no meio do
tiroteio que se impôs entre o parlamentar e a presidanta, uma mulher que faz
questão de mostrar que não o tolera, principalmente desde quando ironicamente a
presenteou com um bambolê para que aprendesse a criar o jogo de cintura que
notoriamente, quase oito anos depois do brinde, ainda lhe falta.
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Henrique Eduardo se finge de morto enquanto Jarbas Vasconcelos propõe que o PMDB derrube Eduardo Cunha da presidência da câmara federal. |
Fingindo-se
de morto
Em relação à mal-querência entre os presidentes
da República e da Câmara Federal, Henrique Eduardo gostaria, acima de tudo,
portanto, que ninguém na área se lembrasse dele e da sua vinculação com Eduardo
Cunha.
Pior, ainda, entretanto, é sua vinculação
a Eduardo Cunha quanto à questão que anima Jarbas Vasconcelos, político remanescente
da legendária ala “autêntica” de deputados federais com que o PMDB afrontava
corajosamente os ditadores dos anos setenta na câmara baixa do país.
Henrique Eduardo só está Ministro porque
a polícia e o ministério público federais garantiram a Dilma que ele não integrava
a lista de políticos que seriam alcançados pela “Lava Jato”. Idêntica segurança
havia, na época, em relação a Eduardo Cunha, agora tão exposto como capaz de se
deixar subornar que a cada novo dia vê eclodir em diferentes recantos do país
movimentos pedindo sua punição. Se se volatizou agora a tranqüilidade que havia
em relação à inculpação de Eduardo Cunha, o mesmo pode acontecer com Henrique
Eduardo Alves em relação à operação fiscalizadora em curso.
Sob esta espada de Dâmocles, o que o
presidente do diretório potiguar do PMDB mais deseja é que ninguém o note,
pois, como na anedota, quer fingir-se de morto... até para não vir a ser
anatematizado por questões morais. Enquanto ele se equilibra como pode, as
vítimas dos anátemas que impingiu se dividem quanto a rir ou se compadecer da situação
em que o vêem.
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