segunda-feira, 27 de julho de 2015

Rompimento expõe falsidade do PMDB potiguar

O silêncio obsequioso que o ministro do Turismo, ex-deputado federal Henrique Eduardo Alves, presidente do PMDB potiguar adota em relação ao presidente da Câmara Federal, deputado Eduardo Cunha (RJ), que rompeu com a presidanta Dilma Rousseff e enfrenta inferno astral por conta de acusação ensejada pela “Operação Lava Jato”, lembra no Rio Grande do Norte uma grande incoerência. Aqui, quando um seu liderado discrepa de sua posição, Henrique Eduardo impõe logo o anátema, como fez contra Hermano Morais e Flávio Azevedo, novo secretário estadual de Desenvolvimento, Indústria e Comércio.
Aliados e ex-aliados potiguares de Henrique Eduardo gostariam
que ele apresentasse ao PMDB a proposta de anatematizar Eduardo
Cunha, a exemplo do que tem feito no Rio Grande do Norte com quem
diverge de sua orientação.
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ROBERTO GUEDES
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Passadas duas semanas desde o rompimento do presidente da Câmara Federal, deputado Eduardo Cunha (RJ) com a presidanta Dilma Rousseff, peemedebistas potiguares ainda esperam que o comando nacional de seu partido expulsem de seus quadros o parlamentar, e não apenas pelas condições morais que levaram o também deputado Jarbas Vasconcelos, ex-governador de Pernambuco, a propor simplesmente seu afastamento do comando da casa congressual.
Principalmente, querem que o presidente do diretório potiguar da legenda, o ministro do Turismo, ex-deputado federal Henrique Eduardo Alves, rompa o silêncio obsequioso que vem nutrindo em relação ao agravamento da situação política e moral de Eduardo Cunha e avance com uma proposta visando a imposição de anátema ao parlamentar. E dizem que, esgueirando-se diante da situação, como tem feito, ele só mostra a falsidade com que tem prejudicado correligionários que pensam diferentemente dele. No mínimo, no mínimo, para guardar coerência com o Presidente do PMDB potiguar, o Ministro do Turismo deveria propor o licenciamento, senão a expulsão de Eduardo Cunha de seu partido. 
Do alto da condição do grupo de ex-senadores que nos últimos anos sustentaram na Câmraa Alta do país a bandeira da moral na política nacional, a exemplo do gaúcho Pedro Simon, também peemedebista, Jarbas esgrime as acusações que emergiram contra Cunha nas investigações proporcionadas pela “Operação Lava Jato”, que a Justiça, Ministério Público e Polícia federais desenvolvem há alguns anos com o objetivo de cubar o maior crime de formação de quadrilha já arquitetado no Brasil. Bem mais modestos, os filiados ao PMDB em Natal querem apenas que os líderes de sua legenda ajam com coerência no tocante a princípios de fidelidade partidária.
Igual aos ditadores
Eles gostariam que, por coerência, o Ministro Potiguar apresentasse ao comando nacional do PMDB a necessidade de anatematizar Eduardo Cunha porque, discrepando frontalmente da orientação partidária, virou as costas à Presidente da República à qual a legenda continua a servir.
Afinal, dizem, impor anátemas é o que o presidente do diretório potiguar mais tem feito no Rio Grande do Norte em prejuízo de aliados que pensam de alguma forma diferentemente da sua em relação aos negócios que tem levado o PMDB a celebrar com aliados de ocasião.
Eles deploram esta conduta salientando episódios da vida política da família do Ministro que deveriam ensinar-lhe a melhorar a conduta quanto a lidar com diferenças. Fundador do clã político que leva seu sobrenome, o pai de Henrique Eduardo, o jornalista Aluizio Alves, que foi duas vezes Ministro de Estado, não foi expulso da UDN quando se insurgiu como candidato de uma dissidência a Governador, em 1960, também porque os correligionários que se opunham à sua candidatura não quiseram chegar a esse extremo. Em 1968, o endurecimento do governo militar anatematizou o aliado Aluizio, cassando-lhe o mandato de deputado federal e seus direitos políticos por dez anos. Infelizmente, entretanto, a arma dos ditadores se incorporaria depois ao perfil de Henrique Eduardo de uma forma que cruelmente transforma liderados em reféns de suas vontades pessoais.
Excomunhão
Pelo que dizem, a versão de anátema empregada pelo presidente do PMDB potiguar vai da reprovação enérgica à excomunhão partidária, abrangendo a maldição e até a transformação do liderado em réprobo, como se viu em diversos casos.
Eles dizem que, no mínimo por coerência, o presidente de honra do diretório nacional do partido, o vice-presidente da república Michel Temer, e principalmente o presidente do seu diretório potiguar, o ministro Henrique Eduardo Alves, estão na obrigação de impor o afastamento de Eduardo Cunha dos quadros da agremiação, definitiva ou temporariamente, porque rompeu com Dilma.
Como salientam, este é o critério que tem forçado o PMDB a sancionar políticos potiguares de reputação ilibada que eventualmente discrepam de orientação da legenda quanto quem é seu aliado, como Dilma, que transportou Temer à vice-presidência da república em suas duas eleições, em 2010 e em 2014, e no semestre passado o alçou à coordenação política de seu governo.
Hermano Morais, Flávio Azevedo...
No Rio Grande do Norte, o PMDB tem afastado sistematicamente filiados que destoam das preferências de Henrique Eduardo. Só nos últimos tempos agiu assim com pelo menos três filiados.
Tomou a presidência do diretório natalense ao engenheiro, professor e ex-vereador Luiz Carlos Noronha quando este manifestou ponto de vista diferente em relação a com quem o partido deveria se aliar em função de eleições majoritárias recentes, alojando em seu lugar o deputado estadual Hermano Morais, por lhe parecer mais cordato.
Há poucos meses, porém, quando Hermano, candidato derrotado à prefeitura de Natal em 2012, contra-indicou a reconciliação em curso com o prefeito Carlos Eduardo Alves, em minutos Henrique Eduardo o afastou da mesma presidência municipal, substituindo-o então por um parente por considerá-lo ainda mais cordato.
O cúmulo da punição, porém, foi aplicado há dez dias em resposta a uma inicativa ética, quando o engenheiro e empresário Flávio Azevedo, ex-candidato a suplente de senador na chapa encabeçada pela vice-prefeita de Natal e ex-governadora Wilma de Faria, resolveu informar a Henrique Eduardo sobre ter aceitado o convite do governador Robinson Faria para assumir a secretaria estadual de Desenvolvimento, Indústria e Comércio, na qual tomará posse estes dias.
Licença constrangedora
A rigor, Flávio Azevedo nem precisaria falar a Henrique Eduardo, pois em termos político mantém vínculo apenas com Wilma. Filiara-se ao PMDB em dezembro de 2013 para ser companheiro de chapa da presidente regional do PSB, até então sua legenda, num pacto que ambos celebraram com Henrique Eduardo em face do apoio que emprestariam à candidatura deste ao governo potiguar.
Mesmo dispensado desta obrigação, entretanto, por questão moral Flávio procurou Henrique Eduardo. Para sua surpresa, o Ministro exigiu que ele se licenciasse do partido para deixar claro que estava subindo sozinho, isto é, sem o PMDB, a escadaria da Governadoria.
Licença constrangedora imposta a Flávio Azevedo lembrou que
no Rio Grande do Norte este só tem vínculo com Wilma de Faria.
 
Para piorar a determinação de expor a licença como constrangimento, Henrique Eduardo adotou, paralelamente, a decisão de divulgar por meios próprios o fato de haver imposto esta medida ao interlocutor. Não se lembrou de que Flávio somente se havia feito seu correligionário para compor a chapa ao lado de Wilma numa articulação que o atual Ministro montou quando pilotava sua fracassada tentativa de conquistar o governo potiguar em 2014. 
O constrangimento que a licença imposta causou a Flávio foi tema de conversa que Wilma manteve na última sexta-feira com Henrique Eduardo e o senador Garibaldi Alves Filho, primo e liderado deste no PMDB, onde, a propósito, figura como o único correligionário que eventual discrepa e nunca sofre anátema, devido ao peso de seu eleitorado, infinitamente maior do que o do Ministro. 
Constrangimento semelhante, segundo consta, só foi imposto no Rio Grande do Norte pelo PT a alguns filiados que assumiram cargos de confiança na equipe do prefeito Carlos Eduardo Alves, como o médico Cipriano Maia, a quem os correligionários quiseram mesmo expulsar da legenda.
Ex-dirigentes
No interior do Estado são incontáveis os peemedebistas e principalmente ex-peemedebistas aos quais Henrique Eduardo impingiu anátemas por pensarem de forma diferente da ocasionalmente defendida pelo Ministro do Turismo.
A exemplo de inúmeros outros donos de legendas, Henrique Eduardo também tem promovido intervenções em diretórios municipais para sacramentar esse tipo de sanção. Uma das mais típicas ocorreu alguns anos atrás em São Tomé, quando ele arrancou o diretório local da família Estrela, que o acompanhava fazia muitos anos. Em Riachuelo, cometeu verdadeiro crime ao fazer o mesmo contra o legendário prefeito Luiz Gonzaga Cavalcanti, de lealdade a toda prova.
Ele fez isso mais recentemente, ao se deixar seduzir pelo grupo situacionista de Caiçara do Rio do Vento, adversários ancestrais dos aluizistas, correligionários de seu pai, Aluizio, criador da força política que ainda o transporta e a seus familiares, emprestando-lhe, merecidamente ou não, poder há mais de cinqüenta anos. Bruscamente destituiu do comando local do PMDB o ex-prefeito Francisco Edson Barbosa, o “Etinho”, que lhe havia sido exemplo de solidariedade toda a vida.
Abraçando inimigos
Ao anatematizar Etinho, Henrique Eduardo se aliou aos adversários que agiam com relação a seus liderados caiçarenses como os perrés do Seridó faziam com os “pelabuxos” de antes da redemocratização que o Brasil experimentou após a segunda guerra mundial. Como se sabe, o termo “pelabuxo” deriva do fato de os adversários ralarem materiais abrasivos na pela da barriga de quem pensava diferentemente deles.
Historicamente, toda campanha eleitoral em Caiçara do Rio do Vento, cidade em si muito pacata, se transforma em cenário de violência graças aos arroubos primários dos novos aliados locais que Henrique Eduardo Alves adotou em detrimento dos aluizistas locais. O anátema aplicado em Caiçara do Rio do Vento ressaltou a incoerência da conduta do Ministro: ele não puniu o deputado federal Walter Alves, seu primo e correligionário no PMDB e filho do senador Garibaldi Alves Filho, quando o parlamentar resolveu continuar ao lado de Etinho.
Na visão de um seu tio, o saudoso jornalista e político Agnelo Alves, que faleceu há pouco mais de um mês, aos 83 anos e em pleno exercício de mandato como deputado estadual, Henrique Eduardo afronta uma das máximas de sua família. Pai do prefeito Carlos Eduardo, Agnelo dizia que um dos maiores méritos dos políticos de sua família era a capacidade de agregar forças, inclusive contrárias entre si, algo que faltava a muitos de seus adversários tradicionais.
Seis por meia dúzia
Segundo Agnelo, os adversários dos Alves sabiam apenas substituir o velho pelo novo, num processo em que terminavam trocando seis por meia dúzia, enquanto Aluizio, seu mentor, passava desta medida para as dúzias juntando, em favor de seus projetos, forças excludentes entre si. Exemplo desta capacidade foi unir em Açu os primos, deputados e praticamente inimigos entre si Edgard e Olavo Montenegro, em 1978, visando a reeleição do saudoso senador Jessé Freire. Como participou de muitas conversas que Aluizio conduziu nesse ano, Henrique Eduardo deveria ter aprendido. Sua opção, entretanto, tem sido sempre a exclusão que o pai lhe apontava didaticamente nos adversários.    
Apoio a Dilma
Etinho, à direita de Walter Alves, sofreu anátema em Caiçara do
Rio do Vento, onde seu grupo sustentava a bandeira do
aluizismo desde antes de 1960.
Se pretere assim rapidamente todo liderado que não acompanha os novos conchavos que impõe à legenda, seria natural que Henrique Eduardo sempre o fizesse por coerência com linha de conduta adotada pelo comando nacional. E se integra este comando desde os tempos em que assumiu a cúpula nacional do PMDB ao lado de seus amigos Michel Temer e Geddel Vieira Lima, seria natural que o Ministro agora exigisse que o PMDB, reiterando todo dia sua lealdade a Dilma, mesmo quando a aprovação popular à gestão dela despenca para 7%, anatematizasse Eduardo Cunha.
Rindo da incoerência que se verbaliza através do silêncio que o Ministro mantém em relação a Cunha desde o rompimento unilateral deste em relação a Dilma, os aliados que lhe imputam grande incoerência em benefício de interesses menores, circunstanciais e divorciados do que seriam os mais elevados interesses do PMDB e do Rio Grande do Norte, dizem que, mais do que nunca, Henrique Eduardo só defende a própria pele.
Foi com o apoio decisivo de Eduardo Cunha, seu sucessor na presidência da Câmara Federal, que ele se tornou Ministro do Turismo, demissível “ad nutum”, estando agora, portanto, no meio do tiroteio que se impôs entre o parlamentar e a presidanta, uma mulher que faz questão de mostrar que não o tolera, principalmente desde quando ironicamente a presenteou com um bambolê para que aprendesse a criar o jogo de cintura que notoriamente, quase oito anos depois do brinde, ainda lhe falta.
Henrique Eduardo se finge de morto enquanto Jarbas
Vasconcelos propõe que o PMDB derrube Eduardo Cunha
da presidência da câmara federal.
Fingindo-se de morto
Em relação à mal-querência entre os presidentes da República e da Câmara Federal, Henrique Eduardo gostaria, acima de tudo, portanto, que ninguém na área se lembrasse dele e da sua vinculação com Eduardo Cunha.
Pior, ainda, entretanto, é sua vinculação a Eduardo Cunha quanto à questão que anima Jarbas Vasconcelos, político remanescente da legendária ala “autêntica” de deputados federais com que o PMDB afrontava corajosamente os ditadores dos anos setenta na câmara baixa do país.
Henrique Eduardo só está Ministro porque a polícia e o ministério público federais garantiram a Dilma que ele não integrava a lista de políticos que seriam alcançados pela “Lava Jato”. Idêntica segurança havia, na época, em relação a Eduardo Cunha, agora tão exposto como capaz de se deixar subornar que a cada novo dia vê eclodir em diferentes recantos do país movimentos pedindo sua punição. Se se volatizou agora a tranqüilidade que havia em relação à inculpação de Eduardo Cunha, o mesmo pode acontecer com Henrique Eduardo Alves em relação à operação fiscalizadora em curso.
Sob esta espada de Dâmocles, o que o presidente do diretório potiguar do PMDB mais deseja é que ninguém o note, pois, como na anedota, quer fingir-se de morto... até para não vir a ser anatematizado por questões morais. Enquanto ele se equilibra como pode, as vítimas dos anátemas que impingiu se dividem quanto a rir ou se compadecer da situação em que o vêem.
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