terça-feira, 7 de julho de 2015

Deputados nem viram a “esparrela” do Vice-governador

A última esperança que o vice-governador Fábio Dantas nutria de ver entrar em vigor a lei que devolveria soldados da reserva da Polícia Militar à ativa remunerada foi duramente abalada pela Comissão de Constituição, Justiça e Redação da Assembléia Legislativa, que, podendo, não se debruçou sobre o projeto. Antes, a matéria que deveria marcar a passagem do Vice-governador pela chefia do executivo já havia sido deserdada por colaboradores do governador efetivo, Robinson Faria, sem a chancela dos quais o texto não poderia ter sido enviado ao parlamento potiguar.
Hermano, na extrema esquerda, fala na reunião: deputados lavaram as mãos,...
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ROBERTO GUEDES
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Para estranheza do vice-governador Fábio Dantas e de outros aliados do governador Robinson Faria, ao se reunir extraordinariamente nesta segunda-feira, 6, ontem, a Comissão de Constituição, Justiça e Redação da Assembléia Legislativa não examinou a admissibilidade do projeto de lei que o primeiro, enquanto chefiava interinamente o poder executivo, enviou ao parlamento, há poucos dias, com o objetivo de garantir que possam voltar à ativa, no serviço público, policiais militares que o limite da idade expulsória instalou na reserva remunerada de sua corporação.
Reforçando uma intranqüilidade que o envio da matéria ao parlamento instalou na Vice-governadoria, o projeto começou a ser examinado onde ele não esperava que o fosse, o ministério público estadual, que a priori o considera inválido, desde a quinta-feira 2, menos de 24 horas depois de desembarcar, ritualisticamente, no protocolo da Assembléia Legislativa.
Inconstitucional
A simples celeridade com que o “parquet” estadual anunciou que argüiria a inconstitucionalidade da proposta, um projeto de lei complementar que visaria restaurar direito já negado por tribunal superior, Fábio esperava que os deputados estaduais agilizassem sua aprovação definitiva como forma de entregar o fato consumado à justiça, até porque, de seu ponto de vista, ela também teria interesse na exumação daquele “status”.  
Para Fábio, seria péssimo que, ao invés de assinalar sua efêmera passagem pela chefia do governo, a iniciativa viesse a ser caracterizada, como ameaça, como algo que, por tudo, nunca deveria tê-lo animado e muito menos levado a transformá-la como criação sua. Daí a aposta de todas as suas fichas na reunião de ontem da comissão parlamentar.
Convocada excepcionalmente por sua presidente, deputada estadual Márcia Maia (PSB), a comissão agiu com prodigalidade ao se debruçar sobre diversas matérias.
Motivados por Márcia, os demais deputados mostraram generosidade, com destaque, ao começar a examinar alguns projetos que afetam a situação de serventuários da justiça, os quais ensejaram o chamamento em caráter extraordinário dias antes. Eles recorreram na semana passada à parlamentar a fim de mostrar-lhe que se estaria esticando demais a corda que os separa do presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Cláudio Santos.
...a exemplo do que parece ter sido a conduta com
que Robinson (E) deixou Fábio enfrentar a polêmica sozinho.
Voltar ao quartel
Tamanha prodigalidade, entretanto, não parece haver alcançado o projeto de lei complementar, apesar de uma visão simplista que imperou fugazmente no gabinete de Fábio sugerir que seria capaz de resolver situações que incomodam o executivo, o legislativo, o judiciário e em termos o próprio ministério público estadual.
Esta visão decorre da medida que há semanas Robinson Faria adotou, de determinar que retornassem à polícia militar todos os praças e oficiais que atuam, como cedidos, em outros espaços do serviço público potiguar, com o objetivo de devolvê-los ao que seria o objetivo fundamental de seus empregos, o policiamento ostensivo em favor do cidadão. Para se ter ideia, o Tribunal de Justiça cogita de criar correndo uma polícia judiciária para ocupar o espaço em que estão hoje dezenas, senão centenas de policiais militares que Robinson mandou de volta para o quartel.
Em face mesmo deste interesse, que desde o início de junho se manifesta em todas as conversas de gabinetes e corredores da Assembléia Legislativa, Fábio torcia para que o parlamento iniciasse logo a tramitação legislativa de seu projeto para resolver com celeridade a situação de centenas de policiais militares que integravam um grupo mobilizado pelo poder executivo e subitamente perderam o direito a manter-se na ativa por decisão judicial.
Solidão
Para aumentar o desapontamento de Fábio, a ata da reunião não aborda o tema, expondo-o em solidão incômoda que não lhe aparecia diante de seu caminho, como expectativa, ameaça ou perspectiva, quando alguém, ainda não identificado, o levou a triunfalmente assinar o projeto. A colaboradores dele, pareceu que deputados amigos também deserdaram o grande projeto imputado a Fábio, a exemplo do que já haviam feito colaboradores da confiança personalíssima do governador efetivo.
Tatiana silenciou quando a proposta se revelou polêmica.
Apontado como uma das principais prioridades que Fábio gostaria de atacar ao assumir pela primeira vez a chefia do executivo, o que lhe foi ensejado por viagem de Robinson a Buenos Aires, o projeto de lei tende a motivar polêmica no campo jurídico. Ele diz que policiais militares da reserva com até 65 anos, homens, e sessenta anos, mulheres, poderão voltar à ativa por uma prazo máximo de 24 meses, para prover segurança dos imóveis pertencentes ao Estado ou aos Poderes, ao Ministério Público e Tribunal de Contas.
Neste retorno, para o qual serão designados pelo Comandante da Polícia Militar, os servidores fardados terão direito a abono de permanência, enquanto durar a designação; férias anuais remuneradas, acrescidas de 1/3; recebimento e uso de fardamento; e ficarão sujeitos às obrigações a cargo dos militares da ativa.
E os municípios que quiserem ter a sua disposição militares designados para a ativa, ficarão responsáveis, integralmente, pelos custos da cessão, como diz o texto, elaborado, a pedido de Fábio, por uma equipe indicada pela advogada Tatiana Mendes Cunha, chefe da Casa Civil e procuradora de carreira da Assembléia Legislativa.
Deserdado
Cingindo a questão ao enfoque financeiro, Tatiana procurou pavimentar o caminho para a aprovação parlamentar do projeto de lei assegurando que a proposta assinada por Fábio, com o objetivo de “assegurar a guarda dos imóveis pertencentes os Estado”, não criará ônus para o governo.
A Eduardo Nobre caberia examinar o texto antes de seu envio à
Assembléia Legislativa, principalmente quanto à sua constitucionalidade.
“Não acarretará aumento de despesa com pessoal, pois os destinatários das convocações receberão, somente, as parcelas correspondentes ao abono de permanência, terço de férias e verbas indenizatória”, salientou.
O argumento não bastou para o promotor de justiça Wendell Beetoven Ribeiro Agra, segundo outros operadores do direito o profissional que mais “faz a cabeça” do ministério público estadual, em termos de conteúdo, desde a posse de seu colega Reinaldo Reis como Procurador Geral de Justiça, há dois anos.
Responsável também pelo Controle Externo da Atividade Policial, de conformidade com a Constituição Federal, ele diz que, ressalvadas alterações de forma, o projeto de lei guarda “similaridade com o conteúdo disposto na Lei Estadual nº 6.989/1997”, que o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte considerou inconstitucional em 2009.
Matéria vencida
Segundo Wendell Beetoven, não há nem o que discutir a respeito, pois se trata do que seria qualificado como “matéria vencida” na linguagem parlamentar e “exumação de cadáver” no jargão jurídico e policial:
“Já foi decidido que as atividades inerentes aos guardas patrimoniais não poderiam ser desempenhas por policiais militares da reserva, mas pelos ativos”, simplifica.
Se a instalação desta polêmica já se inoculara no entorno de Fábio Dantas como péssimo presságio para uma das únicas iniciativas que adotou na semana em que governou o Rio Grande do Norte, dizem operadores do direito situados no Centro Administrativo, o ambiente se lhe tornou pior ainda depois que uma cortina de silêncio se abateu sobre o projeto de lei complementar.
Inimigos cordiais
Ainda sem certeza sobre o DNA da empresa, colaboradores informais de Fábio sugerem que, ao enviar o projeto de lei complementar à Assembléia Legislativa, ele esperava estar prestando serviço a Robinson, como se aceitasse assumir o ônus da paternidade da iniciativa para poupar o chefe efetivo do executivo de qualquer desgaste.
Os defensores desta certeza esgrimem, a respeito, o fato de que Fábio foi informado de que assumiria o governo a apenas pouquíssimos dias antes de Robinson embarcar, o que não lhe teria conferido tempo para lançar a proposta, no âmbito interno do executivo, e supervisionar a elaboração do texto até o dia da viagem, quando o assinou solenemente.
Muito menos seu relacionamento com Tatiana estaria tão bom ao ponto de ele confiar-lhe a supervisão desse trabalho.
Como se viu, a Chefe da Casa Civil nem prestigiou, digamos assim, a posse de Fábio, transferida para uma dependência do aeroporto Aluizio Alves, em São Gonçalo do Amarante, por ocasião do embarque de Robinson, exatamente para evitar o constrangimento de ser realizada no prédio em que há meses o Vice-governador e Tatiana mal conseguiam se cumprimentar devido a várias crises políticas em que se batem há meses. Esses conflitos têm sido desviados da opinião pública por um grande batalhão de colaboradores que Robinson mobilizada na mídia, principalmente nas redes sociais.
Poder vitalício
Para Wendell, além de inconstitucional o projeto é matéria vencida.
Para piorar o ambiente em torno do Vice-governador e seu rebento legislativo, o retorno de Robinson a Natal mostrou que o chefe do executivo não quer envolver seu nome com esta e com outras iniciativas que atraíram contraditório e maus olhados para Fábio em seus dias de carro oficial número 001, como o decreto de desapropriação do quintal do edifício residencial Luciano Barros, em Petrópolis, com o fito de abrigar um estacionamento para o Tribunal de Contas do Estado.
O que terminou prevalecendo a respeito da proposta de garagem, foi a impressão de que Fábio decidiu à revelia de Robinson para agradar ainda mais aos integrantes do Tribunal de Contas, onde tentou desembarcar há alguns anos e dizem que ainda sonha em se instalar com um projeto de poder vitalício.
Virando as costas
Com a pulga atrás da orelha, como dizem conhecedores do Vice-governador, Fábio não fala sobre o reaproveitamento dos policiais aposentados desde que o ministério público passou a torpedear sua iniciativa, mas esperava que o governo em si o apoiasse. Para sua surpresa, porém, auxiliares da maior confiança de Robinson que teoricamente compartilhariam o DNA do projeto parecem ter-lhe virado as costas.
Tatiana se esquivou de defendê-la na imprensa, indicando, para defender a matéria, o consultor geral do Estado, o sub-procurador geral da República aposentado Eduardo Nobre. Afinal, como deixou claro, o texto não teria sido encaminhado pelo Governador à Assembléia Legislativa se antes não houvesse sido chancelado pelo Consultor Geral.  
Procurado por jornalista, porém, Nobre também desconversou a respeito. Como narrou a jornalista Anna Ruth Dantas, do matutino impresso “Tribuna do Norte”, “por telefone, Eduardo Nobre disse que ‘não queria falar sobre isso’ e encerrou o assunto”.
Casca de banana
Fábio esperava sair desta orfandade após o retorno de Robinson, que olimpicamente desconheceu a matéria. Em seguida, muitíssimo bem relacionado na Assembléia Legislativa, onde sua esposa, deputada Cristiane Dantas (PPS), ocupa a cadeira que ele ocupou até o ano passado, Fábio passou a apostar mais na certeza de que a cônjuge e os ex-colegas de parlamento, inclusive adversários em termos de partidos e grupos políticos, o respaldariam, agilizando logo a aprovação do projeto de lei complementar. 
Nem a atuação do deputado Hermano Morais (PMDB), com quem o prefeito Arlindo Dantas, pai de Fábio, procura se harmonizar na política de São José de Mipibú, principal reduto político de sua família, ajudou o Vice-governador a colocar o trem sobre os trilhos e fazê-lo andar na reunião da comissão. 
O que se viu ontem foi-lhe verdadeira traulitada, na avaliação de aliados de Fábio que ainda procuram descobrir se ele caiu em alguma esparrela e quem a empurrou seu pé para cima da casca de banana.
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(150707 às 11h43m).

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