domingo, 19 de julho de 2015

Professores evitam contratações para Filosofia e Sociologia

Educadores que têm influência na gestão de escolas e mesmo da secretaria estadual de Saúde inibem a contratação de colegas para ministrarem disciplinas introduzidas há pouco tempo na grade curricular do setor público porque usam o horário destas para complementarem cargas horárias de professores de outras áreas. Concursados que há tempos aguardam nomeação querem ir à justiça contra esta conduta.
Raimundo Caio, à direita: obrigado o governo a contratar os concursados.
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Roberto Guedes
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Professores que ensinam outras disciplinas na rede estadual e têm condições de influenciar decisões em suas escolas e mesmo na secretaria responsável pela Educação no Rio Grande do Norte trabalham contra a contratação de colegas para ministrarem as de Filosofia, Geografia e Sociologia porque se beneficiam com a falta destes em salas de aula. A manobra também está inibindo a contratação de especialista em educação pelo governo potiguar, assim como de mestres para ensinarem as disciplinas de Artes e Ensino Religioso.
Um alerta neste sentido foi dado há poucos dias por um professor que passou em concurso para ensinar uma das duas matérias e há tempos espera ser nomeado e convocado para tomar posse. Ele descobriu que as brechas para Filosofia, Geografia e Sociologia nas grades curriculares das escolas têm sido usadas para complementar cargas horárias de professores de outras áreas desde que o Estado tornou obrigatório o ensino das duas disciplinas.
Limite prudencial
Esta situação levou um grupo de concursados ainda não nomeados para ensinarem Filosofia a resolver recorrer à justiça a fim de evitar que a secretaria estadual de Educação termine eliminando as vagas para ministrarem a disciplina. Eles deploram que o roubo de espaço aconteça em plena época em que os governantes brasileiros querem fazer o povo se ufanar de viver numa “Pátria Educadora”.
O problema é mais um que os concursados “na espera” enfrentam enquanto aguardam entrar em sala de aula, o principal dos quais é o argumento esgrimido pelo governador Robinson Faria de que não pode contratá-los devido ao fato de o Estado se encontrar no “limite prudencial” da lei de responsabilidade fiscal no tocante à folha de pessoal.
Eles esperam, a propósito, que nesta segunda-feira, 20, amanhã, o executivo demonstre concretamente que está cuidando de acolher concursados em salas de aula, como prometeu ao Ministério Público estadual.
A advertência soou como um triste contraponto a outra informação que professores concursados e ainda não nomeados queriam comemorar, a de que o ministério público estadual, seu aliado na luta pela eficácia dos resultados do certame, havia conseguido celebrar com a secretaria de Educação um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) para garantir a nomeação, o mais rapidamente possível, de novos professores temporários e efetivos.
“É lamentável descobrir que professores já bem situados na área fazem isto exatamente quando só alguns conseguem entrar no organograma da secretaria, ainda que impondo-se e às conquistas positivadas, com base na legislação, e procurando ser aceitos para melhor interagirem com os colegas e com os educandos”, diz um concursado, procurando não aparece para não “ficar marcado”.
Decisão velada
Como explicam os concursados na espera, desde que a lei mandou ensinar filosofia, geografia e sociologia os dirigentes das escolas estaduais vêm adotando uma “decisão velada” com o objetivo de usar o tempo destinado a estas para contemplarem interesses de professores já instalados em salas de aula.
Em decorrência, as escolas nunca incluem, no plano para a contratação de novos professores em cada estabelecimento, as cargas horárias de Filosofia, Sociologia e Geografia e outras disciplinas que ainda não conseguiram se consolidar nas grades curriculares simplesmente porque suas horas são utilizadas pelos colegas que ensinam outras matérias para que completem as respectivas cargas horárias sem precisarem mudar de escola.
Ocupação indevida
Quanto ao cargo de especialista em educação, os denunciantes asseguram que estão sendo ocupados indevidamente em prejuízo de quem se habilitou para preenchê-lo com conteúdo e na forma da lei:
“Tem muito professor que poderia se aposentar mas quer continuar para progredir na carreira, mas não quer ir pra sala de aula, daí surge a readaptação, e lá se foi mais uma vaga de especialista em educação habilitado em concurso”, diz um candidato ainda preterido.
A denúncia tem sido confirmada por diversos concursados.  
“Tenho certeza que não serei chamado, pois filosofia está sendo ministrada por professores de outra área para completar a carga horária”, assegura um concursado que conferiu o “desvio de função”, ou de cátedra, em diferentes estabelecimentos situados em Natal.
Promotor obriga
Diante desta situação, poucos fatos estimulam os concursados escanteados pelo governo. Uma alegria lhes foi proporcionada pelo promotor de justiça Raimundo Caio dos Santos, titular da 78ª Promotoria Pública de Natal.
Também professor, se bem que no terceiro nível, em cursos de Direito, Caio havia sido designado pelo Ministério Público para acompanhar de perto a realização e os desdobramentos de concursos visando à contratação de educadores pelo executivo potiguar, e nesta missão deu a entender que discorda do governo quanto ao fato de o limite prudencial imposto à folha de pessoal do executivo impedir a contratação dos aprovados, face à prioridade que a Educação deve ter para toda a sociedade que sustenta a máquina governamental.
Na segunda-feira ele disse esperar que até amanhã o titular da secretaria, professor Francisco das Chagas Fernandes, providenciasse nova contratação de concursados. Um pouco antes, Chagas chegou a afirmar perante Caio que existem condições de ficar tudo pronto para a convocação “até sexta-feira próxima”, ou seja, anteontem. Segundo concursados, seria melhor cumprir o TAC em todo o Estado, para não cair em vários cantos, um a um, em efeito dominó, em decorrência de ações ajuizadas pelos aprovados em espera.
Justiça mandou Chagas, à direita, promover logo as contratações. 
Justiça também obriga
Fato isolado ou não, anteontem a secretaria de Educação engoliu a convocação de trinta pedagogos do “Polo II” de um mapa em que o território potiguar se divide para fins educacionais. Graças a trabalho realizado pela advogada Rayssa Maria Gonzaga Fonsêca, o Tribunal de Justiça deu ganho de causa aos educadores, que foram aprovados em 2011. Eles agora aguardam somente a citação do governo para que seja efetivado o rito de admissão ao serviço público.
Segundos seus colegas, esses trinta pedagogos construíram esta vitória recorrendo ao Ministério Público de cada um dos municípios que integram o pólo II, coletando informações e realizando audiências para que conseguissem ter acesso às informações governamentais relativas às carências do Estado em termos de professores e aos desdobramentos dos concursos.
“Ainda bem que o Ministério Público ajuda, e muito, mas é triste a gente pensar que é indispensável a intervenção da justiça para que o poder executivo cumpra a sua parte, não?”, pergunta um dos professores “na espera”.
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(1507019 às 20h04m).

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