Ensaiando
aproximação com a Vice-prefeita de Natal, que pode transformar em sua candidata
à prefeitura, e redesenhando seu relacionamento com a senadora Fátima Bezerra
depois de defenestrar o deputado Fernando Mineiro, petista como ela, da candidatura
que lançou muito prematuramente, o governador Robinson Faria causou estranheza
ao evitar encontrar-se com ambas durante a festa anual de Currais Novos.
Robinson com Julianne e amigos em Currais Novos: talvez Fátima Bezerra e Wilma de Faria sejam tema para Caicó. |
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Roberto Guedes
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Um dos fatos que mais chamaram atenção
neste fim de semana em Currais Novos, onde na noite passada chegariam ao ápice
as comemorações em homenagem à padroeira local e da região do Seridó, Santana,
foi a forma ostensiva com que o governador Robinson Faria evitou encontrar-se
na cidade com duas mulheres que têm muito a ver com seu projeto de conquistar
para um aliado a prefeitura de Natal em 2016.
A senadora Fátima Bezerra (PT) e a
vice-prefeita de Natal, ex-governadora Wilma de Faria, presidente regional do
PSB, marcaram presença na festa mas em nenhum instante lograram ter um encontro com
o chefe do executivo. Wilma ainda chegou a ser fotografada com a primeira dama do Estado, advogada Julianne Faria, durante caminhada religiosa na cidade, tendo a seu lado o presidente da Assembléia Legislativa, deputado estadual Ezequiel Ferreira de Souza (PMDB). Mas não teve diálogo com o marido de Julianne. E não porque ele não estivesse nos mesmos lugares por onde ela circulou.
Robinson andou muito pela área urbana local,
sempre acompanhado pela esposa, advogada que comanda a secretaria estadual de
Trabalho, Habitação e Assistência Social, e por dois deputados estaduais
seridoenses, Ezequiel, que é um dos principais expoentes da política currais-novense, e Vivaldo
Costa, que adquiriu o mandato este mês em virtude do falecimento do deputado
Agnelo Alves e tende a trocar seu partido, o Pros, pelo PSD, comandado no
Estado pelo Governador.
Mineiro
jogou a toalha
Determinado a impedir a reeleição do
prefeito Carlos Eduardo Alves, presidente do diretório potiguar do PDT, seu
amigo de infância a quem sempre menciona como “Táta”, apelido familiar,
Robinson está na iminência de definir novos relacionamentos com Fátima e Wilma.
Com a primeira, ele precisa estabelecer
o relacionamento que volatizou ao constituir seu secretariado, quando preteriu
candidatos dela a postos de destaque, como a secretaria de Educação, em
benefício do deputado estadual Fernando Mineiro, também petista, porque na
época estava dominado pela certeza de que precisaria empinar a candidatura
deste a prefeito da capital.
Mineiro emitiu na semana passada sinal
de que jogou a toalha, como se diz entre pugilistas sobre o que desistiu de
levar a luta adiante. Ele virou carta fora desse baralho ao declarar que não é
o candidato do PT à prefeitura. Falou depois que Robinson emitiu vários sinais
de que não mais o apóia. É certo que o Governador ofereceu apoio às candidaturas do
vereador Luiz Almir Filgueira Magalhães, presidente do PV em Natal, e ao
advogado Luiz Gomes, que comanda o Partido Ecológico Nacional (PEN) no Rio Grande
do Norte. Contudo, ele ainda não encontrou o momento certo para voltar a tratar de suas relações com o PT, para o que espera sinais do eleitorado natalense e de desdobramentos da política nacional, cenário em que há meses o partido de Fátima e Mineiro sofre revés atrás a revés. A preservação desta tendência ameaça o PT local de, com ou sem méritos próprios, transformar-se em novo "pau de lata" da política local, mas uma avaliação precipitada quanto a isto e um descarte extemporâneo podem mais adiante custar muito caro a Robinson.
Usá-la
contra “Táta”
Por último, Robinson passou a dar a
entender que seu principal objetivo, no momento, é transformar em seu candidato
a prefeito de Natal a outra política a quem paradoxalmente evitou encontrar em
Currais Novos, berço dos antepassados de ambos, que compartilham parentesco e o
sobrenome Faria.
Wilma: perto de Julianne, mas sem conversar com Robinson. |
Vários políticos e observadores da cena
política potiguar passaram nas últimas semanas a dizer que vêem Robinson
procurando atrair Wilma para esta candidatura. Concorreriam para o sucesso da
empreitada vários fatores, inclusive o “gelo” a que o burgomestre natalense
estaria submetendo a Vice-prefeita. Carlos Eduardo passou a mostrar tão
ostensivamente que não mais atendia telefonemas de Wilma que seus secretários
mais próximos, como o chefe da Casa Civil, jornalista Jonny Costa, passaram a
fazer o mesmo sem se preocupar em não mostrar aos circunstantes o prazer que
este “chá de cadeira virtual” lhe proporcionava.
Flávio
Azevedo, a ponte
Ao mesmo tempo, circunstâncias de
diferentes motivações reaproximaram Robinson de amigos leais que ainda se
preocupam com reconstruírem novas perspectivas de poder para Wilma, construindo
ponte em direção a esta. O principal entre esses interlocutores passou a ser o
engenheiro e empresário Flávio Azevedo, o ex-presidente da Federação das
Indústrias (Fiern), a quem Robinson está transformando em secretário de Desenvolvimento,
Indústria e Comércio em substituição a um paranaense que ao longo de um
semestre em Natal marcou presença mais por incontinências verbais e políticas.
Os cronistas políticos de Natal
interpretaram equivocadamente o fato de, após receber o convite, Flávio ter ido
conversar com Wilma, assim como com o ministro do Turismo, ex-deputado federal
Henrique Eduardo Alves, presidente regional do PMDB, legenda à qual o
empresário se filiou no início de 2014 para formalizar sua candidatura a
suplente de Senador coadjuvando a presidente regional do PSB.
Acharam que Flávio havia ido pedir apoio
a fim de assumir a Secretaria, para a qual seu currículo o recomenda oferecendo
ao Rio Grande do Norte a chance de reintroduzir planejamento e pragmatismo ao
estafe governamental.
Falta de Flávio (E) em Currais Novos pode ter adiado para Caicó o primeiro encontro público de Wilma com Robinson. |
Na verdade, a Henrique Eduardo o
empresário foi cumprir ritualisticamente o que recomendam os bons modos e
evitar que ruídos entre ambos viessem a surgir após sua posse, ainda não
agendada. Combinaram que Flávio se licenciaria, a fim de mostrar que está
entrando sozinho, e não levando consigo o PMDB, ao subir a escada em direção ao
gabinete de Robinson.
Defecção
entre os Alves
Também quanto a Wilma, Flávio não foi pedir
nada. Ao contrário, pronunciando ou não estas palavras, apresentou-se como
emissário de um pedido de reaproximação subscrito pelo primo dela que está na
Governadoria. Há semanas circula em Natal a informação de que em particular e em decorrência da diplomacia de Flávio, Robinson e Wilma já avançaram em boas conversas.
Percebendo que o Prefeito levou longe
demais o afastamento que vinha impingindo até então a Wilma, Robinson resolveu
apostar até na candidatura dela como cabeça de chapa, principalmente se isto
não lhe subtrair os apoios que hoje acolhe de outros pré-candidatos a prefeito
que agindo articuladamente podem evitar a reeleição de Carlos Eduardo.
Além da negatividade proporcionada pela
rejeição que o burgomestre vinha exibindo em relação a Wilma, vários fatores de
carga positiva reforçam o interesse de Robinson Faria.
Wilma ainda é o maior eleitor de Natal,
conforme atestam muitas pesquisas sobre intenções de votos, perdendo eventualmente,
a um ano do pleito, para o circunstancial ocupante do palácio Felipe Camarão. E
transformá-la em candidata da Governadoria a afastaria ainda mais de Henrique
Eduardo. Nos últimos meses e movido a bílis e a recomendações de publicitários,
Robinson, que tem entre seus principais conselheiros o empresário Ricardo Gobat
Alves, primo de Henrique Eduardo e diretor do matutino impresso “Tribuna do
Norte”, resolveu transformar o Ministro em inimigo público número 1 seu e do
Rio Grande do Norte. Tirar Wilma da órbita que se restaurou em torno de
Henrique Eduardo após a ascensão deste a Ministro seria uma operação digna das “partidas
dobradas” de livro contábil, registrando não apenas perda para um, mas também,
e principalmente, ganho exatamente proporcional para o outro.
Seria dupla, portanto, a defecção que
sua estratégia imporia aos Alves – a Carlos Eduardo na própria tentativa de
reeleição e a Henrique Eduardo quanto ao sonho de comandar oposições em face do
Governador.
Baile
dos Coroas
Para estes observadores, não seria estranho
que, a exemplo do que dezenas de políticos fizeram ao longo de décadas ao
convergirem para as festas de Santana em Currais Novos e logo depois em Caicó,
Robinson e Wilma aproveitassem o evento deste fim de semana para emitirem
sinais de que estão se reaproximando e inclusive darem idéia do quanto este
processo já teria evoluído. Talvez não tenham ainda combinado um “Pas de deux”,
termo do ballet clássico que, em francês, significa “Passo de dois”.
Talvez lhes faltasse em Currais Novos o
aproximador Flávio Azevedo, outro oriundo do Seridó, que viajou semana passada
para São Paulo a fim de se submeter à cirurgia que o impediu de marcar com
exatidão o dia de sua posse. E é possível que tenham escolhido o “Baile dos
Coroas”, grande evento da versão caicoense da Festa de Santana, para finalmente
projetarem sua reaproximação.
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