quinta-feira, 30 de julho de 2015

Procurador não cortou no seu, mas no bolso de colegas

Fazendo mesura com o chapéu alheio, o promover um corte ao orçamento do ministério público estadual, com o objetivo de contribuir para a gestão do governador Robinson Faria, o procurador geral de Justiça, promotor Rinaldo Reis, atingiu apenas seus críticos internos. Ao escolher cortar 96% da Parcela Autônoma de Equivalência (Pae) de colegas que a vêm recebendo aos pedaços e recorrendo a liminares, Rinaldo não subtraiu nada a seus rendimentos, porque já embolsou integralmente o que lhe coube dessa rubrica. Atingiu apenas 61 colegas, apenas. Se cortasse o “Auxílio Moradia”, teria atraído contra si a ira de todos os promotores, que recentemente lhe deram o segundo mandato à frente do “parquet”.
Ao tentar ajudar o amigo Robinson, Rinaldo
promoveu o corte menor a fim de não perder
os votos dos promotores, seus colegas, e
terminou atingindo os procuradores, que
lhe fazem oposição no ministério público e o enfrentam
nos tribunais superiores, em Brasília.
 
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ROBERTO GUEDES
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Não foi “cortando na própria carne”, como se diz no jargão da administração pública, mas apenas na receita de 61 colegas de trabalho que o procurador geral de Justiça, promotor Rinaldo Reis, impôs nesta quarta-feira, 29, ontem, o corte, que anunciou com toda pompa, de 97% à Parcela Autônoma de Equivalência (PAE), gratificação que há muito tempo o contrapõe à mais velha geração de integrantes do ministério público potiguar.
Embora elogiado pelo discurso com que apresentou a medida, como contribuição do ministério público à imposição de cortes ao orçamento geral do governo potiguar, pedido dias atrás pelo governador Robinson Faria, Rinaldo está sendo criticado por muitos colegas em função desta opção, que deixa os adversários internos sem ter nem como enfrentá-lo neste particular.
Líder sindical
Sacrificados pelo corte, procuradores de justiça o acusam de fazer mesura com o boné alheio. Eles apontam dois motivos em reforço a esta afirmativa. Dizem que o Procurador Geral usou a rubrica que menos produziria a economia anunciada e contornou a que deveria ser cortada porque agiu como líder sindical, e não como dirigente de uma parte ponderável do poder público. E aplicou aos dos colegas um corte que não alcançaria o próprio bolso.
Como o objetivo era contribuir para adequar o orçamento geral do ministério público à realidade que a crise econômica nacional impingiu ao governo potiguar, ele poderia ter eliminado ou reduzido a contribuição conhecida como “Auxílio Moradia”, e não a PAE. De fato, dizem os procuradores, o peso desta rubrica nos gastos do “parquet” é em muito inferior ao do “Auxílio Moradia”, que acrescentou cerca de quatro mil reais ao salário mensal dos promotores de justiça em atividade a pretexto de ajudar-lhes a custear residências que não utilizam nas respectivas comarcas.
Já recebeu
Em segundo lugar, vem a pior crítica, a de que Rinaldo só reduziu a 7% a contribuição que vários colegas vinham recebendo porque já havia embolsado integralmente o que lhe competia a título de PAE. Segundo colegas de Rinaldo, ele é um dos muitos promotores que receberam integralmente esta verba, uma espécie de indenização criada há vários anos pelo Supremo Tribunal Federal para desfazer uma disparidade que existia entre os ganhos dos integrantes do Congresso Nacional e os da magistratura e do ministério publico.
Sem solidariedade
Ironicamente paga de uma vez só a vários deputados e ex-integrantes da Assembléia Legislativa potiguar, um dos quais embolsou na ocasião mais de 1,4 milhão de reais, a PAE também chegou num lance só para diversos magistrados e membros do ministério público. Outros, porém, foram condenados a recebê-la em prestações. É o caso dos procuradores de justiça aposentados, que receberam tratamento ainda pior.
Responsabilidade transferida do ministério público para o Instituto de Previdência do Estado (Ipern), a indenização mensal para esses procuradores só tem sido paga por força de liminares que sistematicamente eles impetram por intermédio de seu advogado, Artêmio Azevedo.
Execração
A última vez em que os procuradores aposentados receberam a PAE ocorreu em abril, abrangendo alguns meses em atrasado. Por coincidência, o anúncio feito pelo Procurador Geral encontrou Azevedo preparando novo pedido para que a justiça bloqueie recursos do Ipern a fim de garantir o repasse do que remanesce da PAE desde maio aos procuradores aposentados.
Eles não estranharam que agora Rinaldo os escolhesse como bode expiatório. Suspeitam até que na política interna do “parquet” Rinado aproveitou o pedido de
Desprovidos do apoio de Rionaldo, os procuradores aposentados
só recebem a PAE de tempos em tempos, quando e porque Artêmio
consegue liminar na justiça. 
economia formulado pelo Governador para entregar seus críticos aos leões, execrando-os à sua maneira.
Como lembram, há muito tempo os aposentados reclamavam porque Rinaldo não os ajudava no conflito que travam recorrentemente na justiça para receberem sua parte na PAE. Acham que, no mínimo por coerência, ele deveria ter entrado no pólo ativo de suas ações porque são colegas de ministério público atingidos involuntariamente por uma desvantagem em relação a ele e integrantes mais novos do ministério público.
Presidente forte
O choque que os opõe ao comando do ministério público e ao poder executivo é tamanho que mais de uma vez os procuradores aposentados pediram à justiça a decretação da prisão do Secretário estadual de Planejamento e Fazenda, na época o engenheiro Francisco Obery Rodrigues Júnior, e o presidente do Ipern, bancário aposentado José Marlúcio Diógenes, que o governador Robinson Faria manteve como legado da ex-governadora Rosalba Ciarlini e em pouco tempo se transformou num dos auxiliares de sua maior confiança.
Segundo consta na área, a grande força de que Marlúcio desfruta junto ao Governador deriva do fato de administrar o fundo previdenciário que o executivo dilapidou em grande parte de dezembro a abril últimos para pagar os salários de todos os servidores estaduais.   
Para se ter idéia do prestígio de que Marlúcio desfruta hoje na Governadoria, Robinson o levou há poucos dias a Teresina, onde participaria de encontro dos governadores do Nordeste. O chefe do executivo potiguar negou então espaço em sua “entourage” para a secretária de Segurança, delegada Kalina Leite, embora o que mais lhe interessasse na pauta de Teresina fossem assuntos ligados ao combate à violência no Rio Grande do Norte. Em tudo o que o governo potiguar divulgou relacionado à reunião, previdência de servidores estaduais não estava em pauta.
Atingiu seus críticos
Procurando examinar a questão de fora para dentro, procuradores elogiam Rinaldo pela compreensão que agora mostrou quanto a cortar na carne orçamentária do ministério público, coisa que se recusou terminantemente a fazer em 2014, quando recebeu de Rosalba o mesmo apelo elaborado há poucos dias pelo Governador.
Diferentemente de outros operadores locais do direito, os procuradores aposentados contra-indicam o ajuizamento de ações com o propósito de anular a decisão do chefe porque, como dizem, Rinaldo tem cobertura legal.
Explicam que a legislação e jurisprudência firmada pelo STF asseguram ao Procurador Geral de Justiça a prerrogativa de impor cortes na medida em que as necessidades orçamentárias o recomendem ou exijam, situação a que, na sua visão, chegou o Rio Grande do Norte em decorrência da queda amargada pela arrecadação tributária nacional.
2%
A norma diz que o ministério público não pode gastar mais do que 2% de todo o orçamento potiguar. À luz dela, penduricalhos apenados à folha de pessoal do “parquet” concorre para que o Rio Grande do Norte perambule pelo limite imposto pela lei da responsabilidade fiscal. Paradoxalmente, este é o teto que, depois de se conceder e aos secretários de Estado um aumento de 100% em janeiro último, muito frequentemente Robinson esgrime para negar a servidores reajustes salariais que estes reivindicam com base em cálculos sobre a elevação do custo de vida feitos pelo governo federal.
Rinaldo deu a Robinson o apoio que negou a Rosalba (E).
Por fim, lembrando os choques que Rinaldo travou com Rosalba, lembram o quanto são estreitas as relações que mantém com Robinson. Quando precisa de mais privacidade do que a garantida pelo seu estamento, o Governador despacha e reúne secretários da maior confiança no gabinete de Rinaldo, em Candelária, na zona sul de Natal.
Seria natural, portanto, que demonstrasse boa vontade para atender ao pedido governamental. Até aí não haveria problema, principalmente considerando-se a extensão do pacote de cortes que Rinaldo levou o Colégio de Procuradores a aprovar anteontem, garantindo-lhe o anúncio no dia seguinte.
Entre as medidas novas e as já implementadas, ele listou cortes em projetos e despesas como o “MP Ativo”, gestão documental, compra de imóveis, modernização administrativa. Com estas, calcula promover uma economia de mais de um milhão de reais.
O “parquet” também adotou a redução de despesas em projetos de construção e reforma, contratos de terceirização, qualificação funcional, perícias, diárias e gratificações do “Núcleo Volante”, visando economizar mais de dois milhões de reais.
Rinaldo também partiu para o cancelamento de eventos, como a “Semana do MP” e “Encontros Regionais”, assim como para a aquisição de “softwares”, consultoria em tecnologia da informação, licenças de uso, equipamentos de informática, almejando um corte de cinco milhões de reais. Ao mesmo tempo, procurará outros ganhos através de adequações e aperfeiçoamentos na gestão, como reprografia, central de contínuos, central de transportes, redução do consumo de energia elétrica, telefonia e água.
No canto do ringue
Por fim, o Procurador Geral salientou a redução de 92% no pagamento de direitos financeiros de exercícios anteriores para membros, com destaque para a PAE. O mal teria sido apontar em quem questiona seus atos quando poderia ter promovido uma grande economia.
Além de terem sido muito afetados pelo corte, o que mais os procuradores questionam foi a opção, que refletiu o desejo de se equilibrar entre a aparência e a sensação de ajudar a Robinson e ao Estado, de um lado, e não atingir seus eleitores, os cerca de duzentos promotores de justiça, que há poucos meses lhe asseguraram seu segundo e atual mandato em detrimento do que almejava a minoria formada pelos procuradores de justiça.
Estes, como se sabe, vivem litigando com Rinaldo, a quem, por diversos motivos, enfrentam no Conselho Nacional do Ministério Público e nos tribunais superiores, em Brasília.  
Se elegesse o “auxilio moradia”, Rinaldo ensejaria uma economia bem maior do que anunciada ontem, e ainda por cima concorreria para melhorar a imagem do ministério público junto à população, que questionou a adoção dessa ajuda a promotores. Como, em contrapartida, se incompatibilizaria com todo o seu eleitorado, ele resolveu atingir adversários que nem poderiam gritar contra seu ataque. Daí, concluem os procuradores, facilmente o chefe se voltou para a PAE, rubrica que não o incomodava e cujo esvaziamento só atinge 61 colegas e opositores seus.
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