Ao declarar que está ao lado do senador Aécio Neves (PSDB-MG), principal adversário da presidente Dilma Rousseff no cenário nacional e principalmente no tocante ao “impeachment” que se ensaia contra ela, o senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN) parece não se lembrar de que seu primo Henrique Eduardo Alves é demissivel “ad nutum” do ministério do Turismo. Ele pode perder o emprego com uma canetada de Dilma, que não lhe concede audiência desde sua posse.
Ao declarar seu apoio ao colega Aécio Neves (E), que pede o "impeachment" de Dilma, Garibaldi Filho pode... |
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ROBERTO GUEDES
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Ao declarar, em plena sessão do plenário
de sua casa congressual, que hoje apóia seu colega Aécio Neves (MG), presidente
nacional do PSDB e principal oponente da presidanta Dilma Rousseff na disputa
residencial do ano passado, o senador Garibaldi Alves Filho agravou o problema
de relacionamento que ancestralmente opõe seu primo Henrique Eduardo Alves e a
chefe do executivo brasileiro.
Tudo o que os amigos comuns ao Senador e
a Henrique Eduardo gostariam de não ver ou ouvir estes dias era a frase com que
algum apoiador do último enfrentasse aquela. Em meio a este clima, entretanto,
Garibaldi Filho soltou a sua ao responder a afagos que Aécio lhe dirigiu em
plenário:
“Eu não votei em Aécio, mas agora estou
com ele!”, disse o Senador potiguar.
Humilhação
A mais cruel noção do distanciamento que
arde entre Henrique e Dilma está no fato de ele, Ministro do Turismo há quase noventa
dias, desde sua nomeação nunca haver conseguido que a presidanta o recebesse,
formal ou informalmente. Segundo um conceituado blog brasiliense, o “Diário do
Poder”, “Dilma vem submetendo o subalterno a uma rara humilhação: há 90 dias
ela se recusa a recebê-lo em audiência privada. Desde a posse, em 16 de abril,
o ministro jamais conseguiu despachar com a chefe”, diz o informativo.
Esta falta de diálogo, ostensivamente
alimentada por Dilma, responde pelo fato de a pasta de Henrique Eduardo haver
perdido 1,3 bilhão de reais, ou 73,80% de seu orçamento para este ano, numa
canetada que ela promoveu há pouco mais de um mês.
A pior decorrência do corte é que o
Ministro, presidente do PMDB potiguar, ainda não conseguiu honrar nenhum dos
compromissos que desde a posse tem assumido com correligionários – formais e
informais – no Rio Grande do Norte, notadamente prefeitos que contam com o
apoio a máquina partidária a seu dispor para vencerem as eleições de outubro do
próximo ano.
Pouco antes de Garibaldi Filho fazer sua
profissão de fé pelo colega mineiro, que lidera a oposição a Dilma, Aécio
passou a falar mais abertamente em “impeachment” para ela, face à chegada as
investigações da “Operação Lava Jato” a doações criminosas à campanha com que
ela se reelegeu.
Impeachment
A situação é delicadíssima para Dilma,
que paralelamente corre o risco de perder o apoio de todo o PMDB. Há dias a
crônica política de Brasília diz que expoentes da legenda se aproximaram muito
de Aécio exatamente para robustecerem a proposta de “impeachment” e recomendam
que o presidente nacional de seu partido, o vice-presidente Michel Temer, se
exonere da articulação política do governo central.
....ter deflagrado um processo que leve a presidanta a exonerar seu primo Henrique Eduardo Alves do ministério do Turismo, onde ele acumula projetos que a falta de recursos não lhe deixa realizar. |
Uma jogada como a associação do PMDB aos
defensores do “impeachment” pode ensejar a abertura de caminho para que a
destituição de Dilma não atingisse o Vice-presidente, confiando-lhe a suprema
magistratura do país. Trata-se de cirurgia que só o “know how” do “jeitinho
brasileiro” conceberia, porquanto Temer estaria tão inelegível quanto Dilma se
a justiça comprovasse que ambos foram eleitos com dinheiro doado ilegalmente
pelos corruptos pescados pela “Lava Jato”. Como o país é o Brasil, porém,
também isto é possível. Afinal de contas, em 1992 a derrubada do então
presidente Fernando Collor de Mello, por corrupção iniciada na captação de
recursos para sua eleição em 1989, entregou o poder ao vice-presidente Itamar
Franco, tão beneficiado quanto ele pelas doações espúrias.
Garçon
Para piorar o estado de ânimo de aliados
de Garibaldi Filho e do Ministro do Turismo, a profissão de fé com que o senador potiguar
se comprometeu com a projeção de Aécio como o anti-Dilma foi pronunciada na
mesma hora em que henriquistas em Natal se preocupavam com o fato de seu líder
só acumular pedidos, como garçom em restaurante, sem dar-lhes eficácia, a
exemplo do que cumulavam políticos em decadência que ocupavam até o semestre
passado o ministério da Articulação Política.
Pelas contas dos colaboradores
potiguares de Henrique Eduardo, já são mais de cinqüenta os projetos que
prefeitos e outros políticos municipais confiaram ao Ministro achando que seriam
transformados em realidade, ou aparência disto, em condições de interferir nas
eleições municipais de 2016.
De fato, desde sua posse Henrique
Eduardo tem adotado tantos projetos de prefeitos e vereadores que alguns de
seus críticos o têm chamado de “ministro municipal”, pelo apequenamento que seu
uso do Ministério sugere.
Abraço
no aeroporto
Assessores de Henrique Eduardo temem que
o pronunciamento de Garibaldi Filho repercuta no Palácio do Planalto como eco
de insatisfação do Ministro, ou mesmo como sugestão de que este também pode
abraçar a causa do “impeachment” quando isto lhe parecer mais conveniente do
que manter-se pendurado ao emprego. Eles até vêem um paralelo incômodo entre a
verbalização pelo Senador e um gesto histórico do atual Ministro, que hoje narram
como autêntica “mancada” de “quem não ouve os assessores”.
Para eles, uma das causas da derrota que
Henrique Eduardo experimentou ao tentar conquistar o governo potiguar, em 2014,
foi ter ido ostensivamente ao aeroporto de São Gonçalo do Amarante, num dia da
campanha eleitoral, apenas para ostensivamente abraçar Aécio Neves e depois
dizer que nesse gesto não havia nada de conteúdo político, e sim um reencontro
entre dois amigos.
Para um candidato a Governador que até
então, como também em seguida, escondia o fato de ser correligionário de Dilma,
cujo companheiro de chapa era um dos maiores amigos do atual ministro, o gesto
de Henrique Eduardo foi tão danosamente eloqüente quanto pode se revelar a
declaração de aecismo de Garibaldi Filho.
Declaração de Garibaldi Filho pode ter sido tão negativa para Henrique Eduardo, em relação a Dilma, quanto o encontro do atual Ministro com Aécio Neves em plena campanha eleitoral de 2014. |
Dilma, que nunca apreciou o atual
Ministro e passou a desprezá-lo ostensivamente quando chegou à Casa Civil do então
presidente Lula da Silva e Henrique Eduardo a presenteou com um bambolê para
que adquirisse “jogo de cintura”, irritou-se muito com aquele abraço. Logo em
seguida, Lula da Silva passou a aparecer também ostensivamente na televisão
pedindo votos para o atual governador Robinson Faria.
Se
Henrique cair
Eles admitem que sempre têm medo de
atitudes de Garibaldi Filho, porque soçobra em muita curva. Na campanha passada,
muitas frases que pronunciou prejudicaram a candidatura de Henrique Eduardo. E
salientam que, a despeito de ter sido Ministro da Previdência no governo de
Dilma, o Senador age como quem não tem nada a perder. Como se contribuir para manter
um primo no estafe presidencial, mesmo numa corte que tem 39 ministros, fosse
algo irrelevante.
Quando souberam da frase de Garibaldi Filho, os assessores de Henrique passaram a torcer para que ela passasse despercebido, como "muitas outras besteiras" do Senador, como dizem, e em seguida lastimaram que a jornalista Monica Bergamo a destacasse na edição deste domingo da coluna "Painel", a principal do matutino impresso "Folha de São Paulo", o principal jornal do Brasil.
Mesmo querendo ver a declaração de Garibaldi Filho como inocente fogo amigo, eles temem seus efeitos. Lembrando que o humor de Dilma é mercurial, eles chamam atenção para o risco que apenas Henrique Eduardo corre: ele é demissível “ad nutum”. Pode ser exonerado a qualquer momento, assim o queira Dilma.
Quando souberam da frase de Garibaldi Filho, os assessores de Henrique passaram a torcer para que ela passasse despercebido, como "muitas outras besteiras" do Senador, como dizem, e em seguida lastimaram que a jornalista Monica Bergamo a destacasse na edição deste domingo da coluna "Painel", a principal do matutino impresso "Folha de São Paulo", o principal jornal do Brasil.
Mesmo querendo ver a declaração de Garibaldi Filho como inocente fogo amigo, eles temem seus efeitos. Lembrando que o humor de Dilma é mercurial, eles chamam atenção para o risco que apenas Henrique Eduardo corre: ele é demissível “ad nutum”. Pode ser exonerado a qualquer momento, assim o queira Dilma.
Diante desta possibilidade, os acólitos
de Henrique Eduardo dizem que uma frase como a de Garibaldi Filho pode cumprir
a trajetória de um salto malsucedido do alto de um edifício para outro, com o
detalhe de a princípio e aparentemente o ser que cairia não seria ele, mas
apenas o primo Ministro.
Se Dilma não cair da suprema magistratura
do país, contrariando o desejo de Aécio e de mais de 60% dos brasileiros, e se seu
humor em relação a Henrique Eduardo piorar em decorrência de fases como a de
Garibaldi Filho, o Ministro pode rapidamente perder o emprego. Mas não cairia
sozinho, como pode não ter ocorrido a Garibaldi Filho na hora de declarar-se aecista.
Pois esta queda derrubaria sua família, incluindo-se Garibaldi Filho. Altamente
comprometido pelo fisiologismo, o grupo familiar ficaria sem muita, ou mesmo
nenhuma sustentação na política potiguar às portas da escolha dos próximos
prefeitos e vereadores.
Dizem, por fim, que deve ser apostando
nesta possibilidade que Robinson Faria resolveu nas duas últimas semanas
transformar Henrique Eduardo em inimigo público número 1 do Rio Grande do
Norte. Sabendo-o forte em Brasília, talvez fosse oposta a estratégia que o
chefe do executivo potiguar adotasse. Ele chegou até a ensaiar uma
reaproximação com Henrique Eduardo, puxando o freio um tanto quanto inesperadamente
e sem explicar nem aos auxiliares mais próximos porque passou à ofensiva
apontando Henrique Eduardo como símbolo do retrocesso no Rio Grande do Norte.
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