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Robinson, Silveira Júnior e assessores deixam o prédio... |
Policiais federais
mobilizados pela “Operação Salt”, que na semana passada levou à prisão de
vários empresários e profissionais liberais em Mossoró e Areia Branca, sob a
acusação ou no mínimo suspeita de integrarem uma quadrilha especializada, entre
outros, no crime de sonegação tributária, que teria desviado mais de meio
bilhão de reais da secretaria da Receita Federal, acreditam estar próximos de
estabelecer nova conexão política do chefe da gang, o empresário Edvaldo
Fagundes de Albuquerque. Os comprometidos desta feita seriam o governador
Robinson Faria e o prefeito Francisco José da Silveira Júnior, de Mossoró.
O ministério
público federal e os policiais dispõem de documentação e evidências de que o
Governador e o Prefeito de Mossoró mantiveram em 2014 estreitas ligações com
Fagundes, embora soubessem que esta aproximação poderia comprometê-los face a
um precedente drástico de 2012.
No apartamento
Segundo consta na
corporação federal, os policiais têm fotos que documentam ao menos uma visita
em que Robinson e Silveira Júnior trataram, no apartamento natalense de
Fagundes, de uma ajuda financeira deste para a campanha que levou o primeiro ao
Palácio Potengi.
Não é certo ainda
se as fotos foram encomendadas por Edvaldo, que na época se mostrava ressabiado
com políticos. Quando a polícia federal começou a admoestá-lo, ele procuro
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...onde mora em Natal o sonegador Fagundes. |
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contar com o apoio da então governadora Rosalba Ciarlini, a quem havia tentado
beneficiar quando esbanjou dinheiro de diversas formas, inclusive usando seu
helicóptero para divulgar o nome de Cláudia Regina, como candidata da chefe do
executivo estadual, na campanha de 2012.
Ressentimento
Receando ser
atingida pelas investigações voltadas para Edvaldo, Rosalba procurou manter
distância do empresário. Esta conduta não a desviou da mira dos federais, cujas
acusações de envolvimento em ilicitudes naquela campanha podem custar a Rosalba
a inelegibilidade quando ela mais precisa conquistar mandato eletivo, e
terminou gerando o ressentimento de Fagundes.
Na eleição
suplementar de maio passado, ele terminou ajudando a Silveira Júnior por baixo
do pano, a fim de não provocar-lhe a perda do mandato no tapetão do poder
judiciário.
Gangorra
Missões realizadas
em 2013 e 2014 levaram os policiais a mostrar como Edvaldo viciou o processo da
eleição da advogada Cláudia Regina Leite de Azevedo como prefeita de Mossoró em
2012, subsidiando a decisão com que o juiz Herval Sampaio anulou o pleito,
cassando o mandato da burgomestra e convocando nova votação, na qual Silveira
Júnior, então presidente da câmara municipal, conquistou a chefia do executivo.
Segundo fontes bem
postadas junto à polícia, ministério público e justiça federais, há provas de
que, a exemplo do grupo responsável pela candidatura de Cláudia Regina em 2012,
liderado pela então Governadora, no ano passado Robinson e Silveira Júnior
mantiveram contatos comprometedores com Edvaldo Fagundes.
Quebrar sigilos
Ainda não é
possível precisar qual foi a ajuda que o sonegador deu às candidaturas de
Robinson e, antes, de Francisco José Júnior, o que tende a ser aferido através
da quebra de sigilos bancário, telefônico e cibernético dos três. Quando se
elegeu, em 4 de maio último, ao receber 88,32% dos votos válidos, disputando a
prefeitura com a então deputada estadual Larissa Rosado (PSB), Silveira Júnior
se havia transformado na aposta de Fagundes em termos de Mossoró.
Mesmo sem mandato,
pois não se reelegeu em outubro último, Larissa, a propósito, figura hoje em
pesquisas pré-eleitorais vinculadas ao pleito de 2016 como o mais forte
postulante ao palácio da Resistência, sede do governo mossoroense. Ela sobe
numa gangorra em que Silveira Júnior aparece como um dos mais mal avaliados prefeitos
da história de seu município. Segundo o instituto Consult, Silveira Júnior é o
campeão de desaprovação entre os alcaides potiguares, com 77,9% de reprovação
por seus conterrâneos.
Recomendação de Rosalba
Quanto ao
financiamento de Robinson, os policiais sabem que a visita ao apartamento de
Edvaldo Fagundes ocorreu exatamente na época em que o atual Governador mais
precisava de recursos para manter sua candidatura à tona. Constava então que
ele recebia recursos de agiotas, e que o encaminhamento para o sonegador teria
sido recomendado pela Governadora, que já havia voltado às boas com o sonegador.
Rosalba teria apontado Edvaldo Fagundes a Robinson logo depois de se
reconciliar com este, com quem estivera rompido desde o décimo mês de seu
mandato, em 2013, quando o exonerou da secretaria de Recursos Hídricos e Meio
Ambiente. Os federais não são os únicos conhecedores deste liame obscuro da
candidatura de Robinson.
Conhecedores das
relações entre seu chefe e Fagundes, há tempos alguns colaboradores partidários
do Governador receiam que as investigações federais o alcancem, ampliando o
leque de acusações ao empresário, que pode ter extrapolado o campo da sonegação
para comprometer a lisura do processo que elegeu o Governador.
Com “operadores”
Eles sabem que as
fotos levadas ao conhecimento da polícia federal documentam suficientemente
pelo menos uma visita que Robinson e Silveira Júnior, acompanhados por dois
assessores políticos do primeiro, fizeram ao apartamento de Fagundes, no
edifício “Dorian Gray”, na esquina da avenida Rui Barbosa com rua Antonio
Basílio, em Morro Branco.
Com Robinson e
Silveira Júnior aparecem nos flagrantes dois dos mais ativos auxiliadores do
primeiro na área de captação de recursos para sua campanha, os comerciários Diego
Dantas e Pedro Dantas, mais conhecidos no mundo político como “operadores” do
atual Governador.
Uma das versões
para a gênese da produção das fotos sugere que, ressabiado, Edvaldo montou o
esquema para documentar as conversas com Robinson e o prefeito de Mossoró a fim
de cobrar-lhes reciprocidade se e quando eles lhe virassem as costas, seguindo
o exemplo de Rosalba.
Esbanjando poder
Os policiais não se
surpreenderiam com este cuidado, pois Fagundes teria mudado alguns modos desde
que entrou na alça de mira de investigações federais. Antigamente, ele era um
novo rico que gostava de se jactar nas mesas de bares de Mossoró pelo muito com
que molhava as mãos de autoridades, inclusive, ou talvez principalmente, do
poder judiciário. Orgulhava-se de haver bancado, sozinho, uma das maiores
festas já realizadas em Natal, o aniversário da filha de um desembargador.
Chegou a rir na cara de adversários de Rosalba, dizendo-lhe que lhes havia
imposto uma derrota em tribunal sediado em Natal porque disponibilizou muito
mais dinheiro do que eles. E gostava muito de exibir a intimidade de que
desfrutava junto aos principais políticos potiguares, à frente a então
governadora Rosalba.
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Os quatro vistos mais de perto. |
Depois de migrar
das páginas da crônica social de Mossoró para as policiais, e principalmente de
se ver abandonado pela governadora e, ainda mais importante, pelo marido desta,
o ex-deputado estadual Carlos Augusto Rosado, Fagundes teria passado a só
conversar com políticos em campos considerados seus, a começar por sua casa
natalense. Por isto haveria providenciado as fotos que comprometem Robinson e
Silveira Júnior.
Abrindo o bico
O fato de Edvaldo e
seu filho Rodolfo Leonardo Soares Fagundes de Albuquerque terem se apresentado
à sede mossoroense da polícia federal na última segunda-feira, 20, saindo da
condição de fugitivos em que estavam catalogados desde a sexta-feira 17, é o que
mais preocupa os colaboradores de Robinson. É possível que, instalado desde
então na Cadeia Pública Manoel Onofre de Sousa, ele já tenha prestado
depoimentos capazes de comprometer muitos políticos aos quais ajudou
financeiramente nos últimos anos. Consta que a esposa, Zulaide, outros filhos e
um genro de Edvaldo o estariam pressionando para que falasse, contando tudo e
delatando todos os parceiros, a fim de reduzir as penas que espreitam a família,
que não são nada leves.
Segundo os
procuradores da República Aécio Tarouco e Emanuel Ferreira, responsáveis pela
ofensiva que levou Edvaldo à prisão, a quadrilha deste “se utiliza do artifício
de criar empresas que só existem no papel, inclusive constituídas a partir da
utilização de ‘laranja’, para garantir o livre ingresso de receitas nos caixas
do grupo, assim como o branqueamento de bens, mediante complexo esquema de
blindagem patrimonial contra as ações da Receita Federal do Brasil”.
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